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Priscila Senna grava DVD histórico no Marco Zero e celebra trajetória

Aos 34 anos, a Musa do brega reúne grandes nomes e realiza sonho antigo de registrar seu nome no palco mais simbólico do Estado

Pedro Cunha - Especial para o Diario

Publicado: 27/08/2025 às 05:00

Priscila Senna grava DVD nesta quarta-feira (27), no Recife/Marina Torres/DP Foto

Priscila Senna grava DVD nesta quarta-feira (27), no Recife (Marina Torres/DP Foto)

O Recife sempre reservou ao Marco Zero um lugar místico, uma espécie de altar urbano onde a música se converte em rito coletivo. É ali que Alceu Valença faz multidões dançarem frevo nas noites de carnaval, que o DJ britânico Fatboy Slim transformou a cidade em uma enorme pista eletrônica e que gerações inteiras descobriram que o brega, antes rotulado como “música de periferia”, podia alcançar outros patamares, ocupar grandes palcos e falar para o mundo. É nesse mesmo espaço — o maior e mais simbólico de Pernambuco — que Priscila Senna retorna, logo mais à noite, para viver o sonho que a acompanhou desde o início da carreira. A gravação do DVD TBT da Musa é a materialização de um projeto que ela mesma confidencia nesta conversa exclusiva com o Viver: “Hoje, esse desejo vira realidade para mim e para o meu público”.

Aos 34 anos, a cantora que um dia se escondia tímida atrás de um microfone de backing vocal agora ocupa o centro da cena como uma das vozes mais poderosas do brega nacional. Não se trata apenas de música, mas de uma afirmação cultural. De Olinda para o mundo, Priscila transformou dores cotidianas em refrões cantados em carrocinhas de som, festas de bairro, rádios populares e, mais recentemente, em grandes palcos pelo Brasil. “O brega tem mudado muito, tanto musicalmente quanto em visibilidade. Ele está crescendo no país todo. Estamos melhorando as letras, a produção, os clipes, até a preocupação com a imagem. É um processo de evolução”, resume a Musa.

No palco desta noite, a promessa da artista é mostrar grandiosidade em diferentes camadas. Haverá o balé – pedido constante dos fãs –, figurinos que resgatam momentos de sua trajetória e convidados que comprovam sua força de articulação nacional. São eles: Liniker, Maiara & Maraisa, Simone Mendes, Iguinho & Lulinha, Pablo, Tayara Andreza, Léo Foguete e Manu Bahtidão.

A história que culmina neste DVD começou cedo. Aos 11, Priscila já arriscava versos em casa, ao lado do tio bailarino, Júnior Senna. Logo ingressou como backing na banda Sensação do Brega. Pouco depois, assumiu o microfone principal. Em 2009, ao criar a Banda Musa, tornou-se rosto e voz de uma geração. A canção Meu Novo Namorado explodiu nas rádios e chegou a ser regravada por gigantes como Aviões do Forró e Calcinha Preta. Vieram na sequência sucessos como Sorte, Eu Quero Atitude e Toda Mulher é Igual a uma Flor, que firmaram seu lugar como intérprete de um gênero que, embora amado pelo povo, ainda enfrentava preconceito nas grandes arenas. “Já cantei até com o palco apagado. Mas seguimos. Hoje, canto músicas de sofrência, de gaia, e meu público ama. Essa virada mostra o quanto conquistamos espaço.”

O Marco Zero, no entanto, guarda para Priscila uma memória inaugural. Antes da fama, ela se misturava à multidão para assistir aos shows de carnaval, sonhando com o dia em que estaria do outro lado. Esse momento chegou pela primeira vez em 2016, quando subiu ao palco como convidada de Gaby Amarantos para interpretar um clássico de Reginaldo Rossi. “Desde aquele instante, nasceu em mim o desejo de gravar um DVD aqui”, recorda. Neste retorno, a artista vê a gravação do TBT da Musa como a concretização deste sonho acalentado por anos. “Representa não apenas uma realização pessoal, mas também um presente para os meus fãs, no coração da nossa cidade.”

Mãe de Marcílio e Emely, casada há 16 anos com o empresário Márcio Pires, Priscila equilibra a rotina intensa com os afetos que a sustentam. Entre viagens, ensaios e compromissos, encontra espaço para o cinema, para as festas escolares e para os dias de descanso em sua casa em Porto de Galinhas, seu local preferido. “A vida pública faz parte do trabalho, mas preservo minha família o quanto posso. Meus fãs gostam de me ver fora dos palcos, e eu adoro esse carinho. Faz parte de quem eu sou”.

Com cabelos vermelhos que viraram assinatura, uma voz que transita do brega raiz à balada romântica e uma presença que move multidões, Priscila diz chegar não apenas para registrar um DVD, mas para reafirmar uma identidade coletiva. Porque, no fim, sua história não é só dela: é de um povo que aprendeu a cantar o amor, a dor e a esperança no ritmo do brega. “Não é só sobre mim, é sobre todos nós que acreditamos que o brega tem força, verdade e emoção para ocupar qualquer palco. Quero que cada pessoa se sinta parte desse momento”, avisa. Hoje, o coração do Recife volta a ser altar. E nele, a Musa se consagra.

 

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