Cachê de R$ 100 mil representa a valorização do brega funk, diz Neiff
Cantor de brega funk e influenciador, Neiff se apresenta no 33º Festival de Inverno de Garanhuns nesta sexta-feira (11).
Publicado: 07/07/2025 às 08:00

No carnaval de 2025, Anderson Neiff se destacou com o sucesso da música "Tua ex uma delícia". (Reprodução/Redes Sociais)
Principal expoente do brega funk atualmente, o cantor e influenciador Anderson Neiff vê a sua atividade na música como um hobby. Sua principal fonte de renda vem, na realidade, do trabalho nas redes sociais, mas ainda assim ele é conhecido pela dedicação à carreira musical, que mantém para “levantar a bandeira do brega”.
Com show marcado para a próxima sexta-feira (11), no 33º Festival de Inverno de Garanhuns, o artista conquista o palco principal de mais uma grande festa pernambucana. O convite veio depois de circular por eventos com públicos de perfis variados, como o Carnaval do Recife, onde se apresentou no Marco Zero, o No Ar Coquetel Molotov e o Carvalheira Na Ladeira, que comprovaram a capilaridade da obra do cantor.
Como reconhecimento desse sucesso, recentemente Neiff alcançou o cachê de R$100 mil por show, antes impensável para um MC do mesmo gênero musical que o seu. O pagamento, entretanto, tem um valor inestimável para quem vem de uma cena que foi marginalizada durante anos: “isso representa valorização”, diz ele.
Em entrevista ao Diario sobre o atual momento de sua carreira, o músico comenta que o sucesso é fruto da busca constante por inovações e aprimoramento no brega funk. Além de assumir que vive um momento político oportuno para o gênero musical.
Leia a entrevista com Neiff abaixo:
Os produtores de brega funk geralmente faziam uma música em menos de um dia, pois novos sucessos surgiam e sumiam muito rápido, o ritmo de produção precisava ser acelerado. Você vem mudando um pouco isso com “Tua ex é uma delícia”, por exemplo, que levou muitos dias para ser finalizada. O objetivo é produzir músicas de brega funk que resistam mais ao tempo?
Existe uma grande diferença hoje entre música de Tiktok, que são músicas virais, e músicas que viram hit, isso vale para todos os gêneros musicais, não só para o brega funk. Acho que “Tua ex é uma delícia” foi um hit porque eu consegui acertar, foi um trabalho de dedicação total em cima dessa produção, e também de outras que não “hitaram”, mas não deixam de ser uma obra, uma arte. O brega funk era muito discriminado porque fazia muito remix com vozes de outros artistas e a gente só cantava 15 segundos. Hoje, eu tenho a minha autoria, todas as músicas são somente com a minha voz praticamente, pego só um pedacinho de outra voz para uma participação rápida. Fico feliz que a galera está gostando dessa nova vertente só com músicas autorais, em que escrevo e o meu beatmaker Mano Cheffe faz os beats. Depois que comecei a fazer mais autoral, vi que outros artistas abriram os olhos e viram como uma parada que dá para vingar.
O brega funk mudou bastante desde que surgiu no início dos anos 2010. A estética já foi mais marcada por MCs como Shevchenko e Elloco, MC Troia e MC Cego. Hoje, você se considera o principal representante do brega funk? Seria o MC que mais tem inovado atualmente e desenhado os caminhos futuros do gênero?
Digamos que tem que dar a César o que é de César. Eu trabalho muito. Todos os dias eu estou na internet vendo beat diferente, vendo uma melodia, vendo um flow. Mesmo que eu não tenha uma potência vocal tão legal - porém a tecnologia tá aí para ajudar a gente -
eu faço o máximo para me diferenciar e a galera gostar do nosso brega funk. Então, sim, eu hoje me considero uma das principais ferramentas para galera ver o brega funk de outra forma. Hoje, a gente não pode parar de inovar, porque caso contrário a galera vai enjoar daquela mesmice. Foi o que aconteceu depois de 2020. Acho que a gente saturou com o uso das acapellas (refrões recortados de outras músicas) e o público só queria ouvir 15 segundos da música. Hoje, com a música autoral, a galera quer ouvir inteira.
Mas você vem buscando melhorar sua potência vocal, né? Está mostrando sua rotina de aulas de canto nas redes sociais há um tempo. Isso é reflexo da profissionalização da cena do brega funk?
A gente tem que aprimorar tudo no meio artístico. Não conseguimos ser os melhores em tudo, porém, a gente tem noção do que está fazendo. Estou fazendo minhas aulas de canto com o professor Jorge Music e elas são muito essenciais para mim. Eu quero uma estética nova, um brega funk mais cantado, com mais melodia, afinado, na nota, no tom. Isso pode vir daqui a alguns anos quando eu aprender a cantar. Vejo MCs que cantam no funk, no trap, mas no brega são pouquíssimos e eu quero inovar. Quero estar na frente de tudo, porque se chegar outro MC que faça isso bem, ele pode me passar. Disputo comigo mesmo todos os dias para eu ser o melhor todos os dias.
Você parece inserir o brega funk cada vez mais dentro de uma lógica de mercado do pop, onde discos são comuns. Entretanto, no brega funk, é difícil ver artistas lançando álbuns. Você pensa em fazer isso?
Já está sendo preparado. Pensei em fazer um EP, mas desisti, quero fazer um álbum, porque é uma parada nova. Eu não sei se a galera vai consumir, mas para tudo tem que ter a primeira vez. Acredito que a música boa é o que vinga, independente se for álbum, EP ou single. Mas, quanto mais inovação, mais público, mais interação, mais entretenimento para a galera. Então, eu acho que esse álbum será essencial para o brega funk.
Pouco depois do carnaval, você comemorou nas suas redes sociais que teve boa agenda no período até mesmo em estados fora de Pernambuco e que, finalmente, havia conseguido emplacar um cachê de R$100 mil. Talvez o primeiro MC de brega funk a ter um cachê tão alto. O que você acha que isso representa para a cena?
Isso representa valorização. Eu já fiz show por R$ 4 mil, R$ 2 mil… Muitas vezes, os produtores daqui do Recife não tinham condições de pagar o cachê que eu realmente pedia, que era R$10 mil, R$15 mil... Eu já tinha um público bom, sempre lotava as casas. Porém, como alguns MCs aceitavam o que muitos contratantes propunham, acho que isso meio que prostituiu o nosso gênero musical. Quando a gente vai para fora, a gente pede um cachê e eles não reclamam. Vocês podem ver que eu não estou fazendo mais tanto show aqui, estou fazendo mais fora. Agora, quando venho tocar aqui, peço o meu cachê e pagam, porque estão com saudade, estão querendo ver o meu show, a gente está estourado, graças a Deus. Peço para que todo mundo lute da melhor forma.
Você já comentou que a sua principal renda é como influenciador, mas com essa valorização tem a pretensão de ter a música como renda principal? Isso te permitiria se dedicar melhor ao brega funk?
Acho que qualquer artista que também é influenciador pode descartar qualquer possibilidade de ter o cachê maior que o valor de uma publicidade. Não chega nem aos pés. Porém, eu sou muito grato por todos os cachês que eu recebo, pela recepção do público. Meu maior cachê sempre é tocar para um público que tem uma energia muito lá em cima. O acolhimento dos fãs não tem preço. O mais importante hoje para mim, na minha carreira de brega funk, é isso. O show realmente é como um hobby. Faço para levantar a bandeira do brega, porque eu cresci no brega funk. Então, uma coisa agrega a outra.
O brega funk também tem sido bastante explorado nas últimas campanhas políticas. Certamente, a cena tem conquistado muitas coisas a partir desse reconhecimento político, mas você acredita que o movimento também ajuda os políticos que apoia a se elegerem?
É aquele ditado, né? Uma mão lava a outra. E foi um jogo justo, porque a gente precisava dessa valorização e desse espaço, que não tinha. Reginaldo Rossi, Nega do Babado, Dani Miller e outros do brega romântico e do brega funk que trabalharam tanto, mas não conseguiam tocar nos polos públicos, porque nosso movimento era marginalizado. O brega funk ficou muito forte no ciclo que eu cheguei e os políticos precisavam da nossa visibilidade. Depois, João Campos tornou o brega em Patrimônio Cultural Imaterial e isso foi sensacional. O que ele prometeu, ele cumpriu. Eu sempre vou apoiar ele porque ele realmente mudou o cenário do brega, é nesse sentido que digo que uma mão lava a outra.
O brega funk teve muitos hits estourados no Brasil entre 2018 e 2020. Apesar de continuar muito forte em Pernambuco, nacionalmente foi perdendo força de lá pra cá. Você acredita que o gênero consegue resgatar esse alcance no restante do País?
Sendo franco, acho que os artistas se iludiram quando pensaram que o brega funk realmente tinha chegado lá. Na realidade, ele “hypou”. Foi uma onda de músicas de brega funk que fez sucesso, porém o Passinho (“dos Maloka”, a dança), ajudou a viralizar. Acho que hoje com essa vertente autoral é que ele está se consolidando no Brasil. As pessoas estão começando a gostar do brega funk em si, não do Passinho, não somente da batida, mas das obras dos artistas. Então, penso que o momento do brega funk está chegando. É um subgênero do funk que está se consolidando, assim como o trap, que é um derivado do rap, se consolidou. É uma coisa muito nova que chegou, mas chegou para ficar.

