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REVIEW

Entre caos e humor, 'Deliver At All Costs' tem autenticidade como destaque

Lançado no último mes de maio, game une jogabilidade satisfatória com enredo surpreendente

Antônio Gois

Publicado: 05/06/2025 às 19:55

Deliver at All Costs/Studio Far Out Games/Divulgação

Deliver at All Costs (Studio Far Out Games/Divulgação)

Destruir coisas é relaxante. Pegar um carro e passear é divertido. Mas unir os dois, pegar um carro e sair destruindo tudo o que vê é muito melhor. Foi com essa premissa que a desenvolvedora sueca Far Out Games criou 'Deliver at All Costs', game de ação cheio de criatividade que foi lançado no final do mês de maio para PC, Xbox Series e PS5.

Usando a gameplay dinâmica como principal chamariz para o jogo, o estúdio criou um mundo quase completamente destruível para relembrar aos jogadores clássicos games estilo sandbox, misturado à onda de vídeos satisfatórios de quebrar, partir ou esmagar coisas. Junto à isso, mas tratada com um pouco menos de importância, o jogo apresentou um enredo interessante, dividido em missões - ou melhor, entregas.

Com um cenário nas décadas de 50 e 60, a história acompanha Winston Green, um jovem enigmático e misterioso que precisa urgentemente de um emprego para não ser despejado do quartinho de hotel onde vive. Após encontrar um anúncio, Winston se candidata para a vaga de entregador na We Deliver, uma empresa de entregas que trabalha com praticamente tudo o que você imaginar. Enquanto sua vida parece acalmar, o passado comprometedor do jovem volta para assombrá-lo ao longo em que desenvolve amigos e inimigos nesse emprego, que se torna cada vez mais emocionante.

DELIVER AT ALL COSTS

Deliver at All Costs  - Studio Far Out Games/Divulgação
Deliver at All Costs (crédito: Studio Far Out Games/Divulgação)

'Deliver at All Costs' é surpreendente de forma bem satisfatória. Apresentado numa direção de arte com uma roupagem retrô, a ambientação colorida e animada dá ao jogo um tom leve que segue até o final. No melhor estilo 'Fallout', o game utiliza estilos vintage de propagandas, roupas e música para levar o jogador até uma época folclórica do estilo de vida estadunidense, tudo isso de forma descontraída.

Trazendo uma comédia equilibrada entre realismo e ludicidade, gameplay e história andam lado a lado, com um engrandecendo o outro. Isso é mostrado já com o posicionamento da câmera, que fica praticamente em cima do jogador, o que dá um ar de originalidade e valoriza o cenário a volta do personagem, tanto nos momentos de direção quando nas explorações à pé. A dirigibilidade, principal mecânica do game, é balanceada na medida certa, já que o jogo propositalmente não quer que o jogador seja um anjinho no trânsito, e sim explore a reação de casas, prédios, carros e até pedestres ao veículo, um dos fatores que constroem a diversão do game.

O que permite toda essa destruição é a física que funciona como base da jogabilidade. Tudo aqui incide sobre a movimentação do jogador: se o objeto que a caminhonete está carregando é leve, pesado ou está se movimentando; se a pista está molhada ou seca; se estamos guinchando ou arrastando algo grande ou pequeno; se a estrada é um declive ou aclive, entre outras opções que trazem um aspecto realista à situações muitas vezes absurdas, o que é muito interessante de controlar e assistir.

Deliver at All Costs  - Studio Far Out Games/Divulgação
Deliver at All Costs (crédito: Studio Far Out Games/Divulgação)

O jogo abraça o irracional ao mesmo tempo que sabe quando trazer racionalidade para brincar com seus temas e jogabilidade, dosando muito bem os momentos cautela e caos. Ao adotar a opção de liberdade praticamente irrestrita ao jogador, com pouca ou nenhuma consequência, o game o deixa livre para explorar seus próprios caminhos e estilos de gameplay, já que não pretende ser um simulador e ter a dirigibilidade realista de um 'Mafia' ou um 'GTA V' em momento algum - aqui, o relaxamento vem da destruição e anarquia, não de uma contemplação de mundo. Por isso, ao longo de suas sete ou nove horas, o jogo não deixa a peteca cair - é aí que entra sua história.

Se 'Deliver at All Costs' cometeu um erro em seu lançamento, foi o de não divulgar sua história como foi feito com a gameplay.

Certo que a jogabilidade é a joia que fez o game se destacar, mas a trama não deveria ter sido colocada de lado. O enredo envolve ação, mistério, espionagem e oferece boas pinceladas de ficção científica, numa história original digna de um clássico de cinema. Além disso, somos apresentados a personagens cativantes e bem escritos, cujas vidas e personalidades são exploradas o suficiente para entendê-los, mas não tanto para desviar da trama e torná-la chata.

Assim como as entregas, a história começa tímida e a passos pequenos, mas quando o ritmo começa a acelerar, uma balanceia a outra, se tornando interessantes e emocionantes na mesma proporção. Dessa forma, o jogador fica preso no dilema de querer experimentar as novidades que cada fase traz, mas também em avançar de capítulo e desenrolar a teia dos acontecimentos da trama. Por outro lado, a qualidade desses dois pilares faz o jogador esquecer - ou ignorar - as missões secundárias, que não têm o mesmo apelo ao trazer situações pouco interessantes que diminuem o ritmo imposto pelo resto do jogo.

O visual cartunesco unido ao jazz cinquentista em um sandbox onde a liberdade é incentivada faz 'Deliver at All Costs' ter um tom autêntico e muito seguro de si, onde o melhor do lúdico e do realista se juntam para criar uma experiência divertida e emocionante.

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