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COMENTÁRIO

'BrokenLore: Don't Watch' arrepia e eleva estúdio no cenário do horror

Mais novo capítulo da série BrokenLore ganha quando simples e diverte sem causar pesadelos

Antônio Gois

Publicado: 23/05/2025 às 20:02

Screenshot de 'BrokenLore: Don't Watch'/Serafini Productions

Screenshot de 'BrokenLore: Don't Watch' (Serafini Productions)

A recente leva de games curtos de horror tem revelado boas surpresas. Com inspirações nos títulos atmosféricos da japonesa Chilla's Arts, a Serafini Productions, outro estúdio com base nipônica, está lançando 'BrokenLore', uma série de jogos misturando o folclore nipônico com temas atuais.

Em seu jogo mais recente, 'Don't Watch', o estúdio conta a história de um hikikomori, uma pessoa que se isola socialmente e evita ao máximo sair de casa, como uma espécie de eremita moderno. Porém, ao ter outros colegas que vivem em isolamento atacados, Shinji começa a presenciar ocorrências estranhas dentro do único lugar que o conforta.

BROKENLORE: DON'T WATCH

Screenshot de 'BrokenLore: Don't Watch' - Serafini Productions
Screenshot de 'BrokenLore: Don't Watch' (crédito: Serafini Productions)

Com um tempo de interação com o jogador limitado, jogos bons que contam histórias curtas e pretendem ser jogados 'de uma vez só' costumam convergir em um ponto: atmosfera. Esse é um pilar que independe de estilo de arte, de narrativa e de jogabilidade, funcionando quase como uma constante para que quem esteja jogando seja preso de forma rápida e eficaz.

Em 'Don't Watch', sentimos o isolamento logo de cara. O colchão em que Shinji dorme fica numa sala abarrotada, existe lixo espalhado por todos os cantos e rolos de papel higiênico emporcalham o banheiro. O apartamento é sufocante antes mesmo do horror começar. A falta de vizinhos e de barulhos externos aumenta a sensação de isolamento, que parece se intensificar quando o personagem recebe chamadas no computador de Junko, uma amiga preocupada. A garota, como todos na vida do protagonista, é deixada de lado e praticamente ignorada, mas o texto faz seu papel de trazer o aspecto mental de Shinji de forma palpável e de fácil entendimento, o que faz o jogador compreender e adquirir a visão do protagonista.

Trabalhando com uma história sensível onde se pretende ter início, meio e fim, as interpretações são consistentes e interessantes, ajudando a transportar os personagens para o mundo real. Os gráficos apurados também ajudam nesse transporte, mas essa é uma característica que acaba sendo descartável para o jogo em geral, já que pode acabar mais atrapalhando do que ajudando. Utilizando a Unreal 5 como motor gráfico, o visual poderia ter sido simplificado a fim de democratizar o acesso ao game, que tem a história em sua essência e não depende dos visuais apurados para destacá-la. Com boa parte do jogo se passando dentro da casa e em ambientes fechados, usar uma engine pesada assim parece ser um preciosismo exacerbado por parte dos desenvolvedores, o que certamente não ajuda na difícil tarefa de popularizar um título curto de horror em um mar de novos devs que lançam games diariamente.

Porém, esse 'exagero gráfico' muda quando Don't Watch passa a emular jogos antigos usando um belíssimo pixel art, com toques originais, autênticos e carismáticos. A mudança faz o jogo ganhar em alma e traz ao jogador o ápice da gameplay, usando até um mapa labiríntico para causar um bom momento de tensão sem deixar de lado a temática e contexto onde o jogo se passa.

Ao final do jogo, temos uma história compacta envolta por uma gameplay divertida, que agrada facilmente jogadores experientes e novatos que buscam um game curto de horror. Com mecânicas interessantes que contam bem um enredo sensível e suficientemente memorável, 'BrokenLore: Don't Watch' continua a elevar seu estúdio para um bom patamar, sendo uma boa pedida para quem gosta de um friozinho na barriga, mas que não chega a gelar o sangue.

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