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Estudante caminha 14 km, viraliza e recebe solidariedade de internautas

Aluno do curso de enfermagem na UFPE, Rosemberg Costa, de 22 anos, faz o percurso entre sua casa e a universidade à pé. Sua rotina, registrada por uma amiga durantes dois meses, já ultrapassou 4,2 mil visualizações no Tik Tok

Mareu Araújo

Publicado: 01/07/2025 às 20:43

Rosemberg Costa caminha 14 km por dia para assistir as aulas do curso de Enfermagem na UFPE/Marina Torres/DP Foto

Rosemberg Costa caminha 14 km por dia para assistir as aulas do curso de Enfermagem na UFPE (Marina Torres/DP Foto)

Rosemberg Costa chegou às 14h07, vestia roupas pretas, tinha um guarda-chuva em mãos e se afastou quando foi ser cumprimentado pela reportagem do Diario de Pernambuco. “Eu estou todo suado”, disse, com um sorriso tímido.

O estudante, de 22 anos, havia acabado de andar 3,5 quilômetros para chegar ao Departamento de Enfermagem, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em um dia normal de aulas, Rosem, como é chamado por amigos, caminha, ao todo, 14 quilômetros para estudar.

Nas redes sociais, um vídeo mostra em tom cômico o rapaz chegando para as aulas suado, ofegante e visivelmente cansado. “Passei dias gravando meu colega que anda para ir e voltar da faculdade”, diz o título. As imagens já somam 4.2 milhões de visualizações no Tik Tok.

A ideia foi de Giselle Lais Souza, de 26 anos, amiga de Rosem. “Ele sempre chega atrasado e suado. Todo mundo da sala de aula para para olhá-lo entrar. Por isso, o gravei por dois meses e decidi postar no aplicativo. Não imaginávamos que seria tão viral”, contou.

 

De acordo com Rosemberg, ele caminha duas vezes para sair da casa de sua avó, que mora no Engenho do Meio, na Zona Oeste do Recife, para ir para a universidade. “Minha avó prefere que eu almoce na casa dela, por isso preciso fazer o percurso duas vezes. Prefiro evitar discussão, sempre vou para lá, como e volto para as aulas da tarde”, disse, quando perguntado sobre levar marmitas.

Com o sucesso do vídeo, internautas encheram a postagem com comentários pedindo para que fosse aberta uma vaquinha online para ajudá-lo a comprar uma bicicleta. “Nós abrimos, fomos dormir, quando acordamos a vaquinha tinha quadruplicado a nossa meta, que era R$ 580. Logo fechamos a cota”, afirmou Giselle.

@giselleosl Bora querer viu UFPE, liberar um bolsa assistência ????????????????. #ufpe ? som original - Giselle Souza

A vaquinha de Rosemberg arrecadou em oito horas, segundo eles, R$ 2.570, que serão usados para comprar uma bicicleta nova e adicionados no aplicativo do restaurante universitário (RU). “Eu fechei a cota porque não quero abusar da bondade das pessoas. Fiquei muito feliz pela ajuda, pelas mensagens positivas, tinha muita gente desejando coisas boas para mim. Isso tudo significa muito”, detalhou.

Na publicação, pessoas comentam pedindo para que reabram a vaquinha e afirmam que ele merece uma moto nova. Em relação a isso, Rosem afirmou que um dos motivos para não reabrir a vaquinha era o medo de estarem sendo mal interpretados. “Tinha gente achando que eu andava 12km seguidos, mas não é isso. Não quis reabrir porque tive medo de acharem que eu estava roubando”, disse.

A postagem também deixou os usuários reflexivos. Em um comentário que ultrapassa 146 mil curtidas, um internauta diz “aí vem um (xingamento) falar que todo mundo tem as mesmas 24 horas. Parabéns pela persistência, meu nobre”. “Mas eu pensei em desistir”, confessa. “Pensei em trancar o curso e procurar um emprego. Meu curso é integral e é inviável trabalhar e estudar”.

Quem é Rosem?

Tímido, retraído, bondoso e preocupado, foi assim que Giselle descreveu Rosemberg. Amigos desde 2022, quando entraram no curso de Enfermagem, a jovem contou com carinho quem era Rosem. “Ele é realmente um amigo, sabe? Apoia, conversa todos os dias, se importa com o outro. Ele se importa com cada coisa da minha vida. Nos sentimos queridos por ele”, detalhou.

“Ele merece muito. Eu e nosso grupo de amigos, chorávamos com ele, ouvindo suas histórias pessoais”, contou. “Uma amiga nossa tentou falar com um político da família dela para tentar uma bicicleta para ele. Eu ia arrumar a minha usada para dar a ele. Estamos todos muito felizes por ele, de verdade”.

Rosem preferiu não dar detalhes de sua vida pessoal, mas disse que o percurso a pé começou após uma discussão familiar, que resultou em sua mudança para o Engenho do Meio, há pouco mais de um ano.

O caminho é feito de chinelo. “Por conta da borracha e do suor, meu pé encheu de calos, meu calcanhar ficou bem machucado. Aí estou tratando direitinho”, disse.

Hoje, mesmo com dores nos pés e a rotina exaustiva de um curso integral, Rosem afirma que não irá desistir. “Continuei porque, lá na frente, eu vou me tornar alguém. E eu vou me orgulhar de quem eu me tornei”, finalizou.

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