Lula reforça discurso "nós contra eles" em Goiana
O presidente aproveitou a inauguração da Hemobras, na Zona da Mata Norte do estado, para reforçar suas críticas ao governo Trump e ao tarifaço
Publicado: 14/08/2025 às 16:50

Lula na inauguração de fábrica da Hemobras em Goiana (Rafael Vieira/DP Foto)
"Saúde e Soberania". O mote da inauguração da fábrica da Hemobras em Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, na manhã desta quinta-feira (14), foi também o tom dos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seus aliados.
Lula apostou naquilo que vem o ajudando a recuperar a sua popularidade: a narrativa do "nós contra eles" – em referência ao tarifaço imposto pelo presidente americano Donald Trump.
"Nós vamos ajudar nossas empresas, não iremos deixar elas morrerem. E também não vamos ficar chorando porque ele [Trump] parou de comprar. Vamos vender para a China, Índia, Rússia, Alemanha, para qualquer lugar" disparou Lula. A ideia era reforçar que o Brasil “não depende de forças externas para crescer” e teve como alvo o tarifaço imposto pelos Estados Unidos.
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Ele também acusou Trump de prejudicar as boas relações que Brasil e EUA mantém há décadas, e de querer "mandar no mundo". Tanto o presidente quanto o ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), fizeram questão de exaltar o Brasil como um país que tem capacidade de cuidar da saúde do seu próprio povo sem depender de importação, e de acusar o governo Trump de “perseguir cientistas e profissionais da saúde, e descredibilizar as vacinas”.
"Quem tem histórico de atacar a saúde é Trump, que começou o ano perseguindo cientistas que desenvolvem vacinas nos Estados Unidos, depois cancelando contratos com empresas americanas que produzem vacinas, cortando os recursos para desenvolvimento de vacinas. E, agora, faz um ataque a um programa internacionalmente reconhecido que é o Mais Médicos", afirmou Padilha.
"O 'S' da saúde é o 'S' da soberania para aqueles que acreditam que o Brasil é com 'S'. Brasil com 'Z' não faz uma fábrica como essa, no interior de Pernambuco", disse o ministro.
Um dos alvos das sanções dos EUA foi o braço direito de Padilha no ministério, Mozart Sales, um dos nomes por trás do programa Mais Médicos, que trouxe profissionais cubanos para atuar no Brasil, lançado durante o governo de Dilma Rousseff (PT). O envolvimento com Cuba teria sido o motivo da cessação do visto de Mozart. Ele foi defendido por Lula e Padilha em diversos momentos ao longo da manhã. "Não se preocupe com o visto Mozart. Tem muito chão no Brasil pra você andar", ironizou Lula.
Educação
Apesar do evento ser voltado à área de saúde, Lula também dedicou boa parte de seu discurso para falar de educação. Ressaltou a necessidade de investir em políticas públicas para alfabetizar e capacitar o povo brasileiro – em especial, o nordestino, que estaria "acostumado a ser punido", segundo o petista.
"Não há pais que se tornou desenvolvido sem investir no básico, que é a educação. Não teríamos nem competitividade. E tanta gente sabida governou esse pais, tanta gente com diploma. Por que não fizeram?", disse Lula.
O presidente argumentou que foi através da educação que o nordeste deixou de ser a "região pobre" no país e conseguiu se tornar referência em tecnologias de ponta voltadas a saúde com a unidade da Hemobras.
Humberto
Apesar da participação discreta, o senador Humberto Costa (PT) foi tratado com reverência ao longo do evento. Ministro da Saúde no primeiro governo Lula, Humberto foi o "cabeça" da instalação da Hemobras em Pernambuco. O senador não estava programado para falar no evento. Entretanto, Lula cedeu o seu tempo para que o ex-ministro pudesse se pronunciar.
"Eu me lembro do dia que o senhor tomou essa decisão. Nós estávamos indo para Suape num micro-ônibus, eu estava sentado ao lado do governador, já havia uma grande discussão nacional. O pessoal do Butantan, o pessoal de Minas Gerais, todo mundo queria essa fábrica, e nós dizíamos que Pernambuco não só tinha uma tradição nessa área e grandes técnicos, como tinha a condição e a capacidade de fazer esse investimento", relatou Humberto.
Raquel ausente, João presente
A ausência sentida no evento foi da governadora Raquel Lyra (PSD), que optou por participar de uma agenda da gestão estadual no Sertão. A vice Priscila Krause (PSD) representou o governo de Pernambuco. Foi a primeira vez que Raquel não participou de uma visita presidencial, desde que assumiu o mandato no Palácio do Campo das Princesas.
Em sua fala, Krause fez um afago ao presidente ao ressaltar as "decisões políticas" que mantiveram a Hemboras em Pernambuco. "Não foram poucas as vezes que tentaram tirar essa fábrica daqui de Pernambuco, mas a resistência do povo pernambucano e a decisão de políticos comprometidos fez com que ela permanecesse aqui e hoje se torne realidade", afirmou.
Ainda segundo ela, houve uma “decisão política, à época, do presidente Lula, do senador Humberto Costa, como ministro da saúde; Jarbas Vasconcelos, o então governador, junto com o Guilherme Robalinho, o secretário de saúde, quando decidiram, a despeito de todas as pressões tradicionais do eixo centro-sudeste, para que essa fábrica fosse para outro lugar”.
Ao contrário de Priscila, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), não discursou, mas acompanha o presidente desde a sua chegada na capital pernambucana nesta quinta-feira.

