Televisão Netflix erra a mão em Punho de Ferro Série tem protagonista carismático e bons coadjuvantes, mas recorre a clichês do gênero

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 16/03/2017 20:53 Atualizado em: 16/03/2017 21:23

Cenas de ação dos primeiros seis episódios não impressionam. Foto: Netflix/Divulgação
Cenas de ação dos primeiros seis episódios não impressionam. Foto: Netflix/Divulgação

Nos anos 1970, no auge da popularidade dos filmes e séries televisivas com a temática de artes marciais, a editora Marvel apostou em levar o gênero para os quadrinhos. Uma das criações do período, o personagem Punho de Ferro, idealizado por Roy Thomas e Gil Kane em 1974, alcançou pouco sucesso na época e, nas décadas seguintes, manteve-se como coadjuvante, sobretudo. A partir de amanhã, o relativamente obscuro herói tem a chance de se tornar popular na série da Netflix que leva seu nome.

A produção televisiva faz poucas mudanças no personagem e respeita a origem dele, que pode ser enxergada como caso de apropriação cultural. Ainda criança, o protagonista Danny Rand (Finn Jones), herdeiro de empresa bilionária, sobrevive a um acidente no Himalaia, que vitima os pais.

No local, o garoto acaba acessando a cidade mística K’un-Lun, onde é iniciado nas artes marciais e na filosofia oriental por monges. Nesse processo, ele conquista o título de Punho de Ferro, alcunha recebida pelos raríssimos indivíduos que conseguem dominar as técnicas em uma esfera sobrenatural.

Após 15 anos de isolamento, ele volta à Nova York e tenta retomar a vida, incluindo os negócios familiares. E, como se trata de trama de super-herói, ele aplica os conhecimentos sobre artes marciais no combate ao crime.

A premissa, um pouco datada e ingênua, como costuma ocorrer nas histórias clássicas de super-heróis, não chega a ser problemática. Outras tantas produções do cinema e da TV mostraram personagens ocidentais em contextos que talvez fosse mais pertinente a escolha de uma figura oriental e, por vezes, a narrativa funciona. Uma revisão no personagem poderia ter sido enriquecedora, algo que a própria Marvel já fez nos quadrinhos e nos cinemas com a mudança de etnia e sexo de heróis para tornar mais diverso o panteão da editora. Mas, perdida essa oportunidade, o esperado seria não recorrer ao clichê do homem branco que aprende as artes marciais com asiáticos e acaba superando-os em técnica e sabedoria.

Falastrão, o herói parece sempre pronto a soltar parábolas e ensinamentos filosóficos orientais. Isso se torna mais evidente nas interações com Colleen Wing, personagem sino-americana interpretada por Jessica Henwick. Exímia lutadora de artes marciais, Wing é subestimada e desafiada diversas vezes por Rand, principalmente nos primeiros contatos.

Finn Jones, famoso pelo papel de Sor Loras Tyrell em Game of thrones, é carismático e entrega um Danny Rand fiel ao material original, embora na maior parte do tempo mais sisudo do que o personagem costuma ser nos quadrinhos. O ator inglês é uma das atrações da Comic Con Experience Tour Nordeste e estará em Pernambuco para painel sobre a série no terceiro dia da convenção, 15 de abril.

[Artes marciais não são ponto forte do seriado

Jones não convence tanto em combate. As cenas de ação carecem de cadência e criatividade na execução, ao menos nos seis episódios liberados para a imprensa. Muitas vezes lentos e pouco coreografados, os momentos de ação do herói não empolgam. Já as cenas de luta protagonizadas por Jessica Henwick se mostraram mais interessantes e naturais, mas, ainda assim, distantes do esmero visto em Demolidor, série ambientada no mesmo universo.

Falta ritmo também no desenvolvimento inicial da trama, problema recorrente nas produções Netflix/Marvel. A história engata melhor a partir do terceiro episódio. Os dois primeiros capítulos exageram na tentativa de retratar a tragédia familiar de Danny e avançam pouco no primeiro desafio do herói: retomar o lugar na empresa criada pelo pai.

Passado esse período de apresentação, a série se concentra no lado mais aventuresco e violento da saga. Punho de Ferro encerra a primeira fase das séries solo de heróis iniciada com Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage. Os quatro personagens estarão reunido em Os Defensores, que estreia no próximo semestre na Netflix.

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