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Literatura Livro do escritor pernambucano Homero Fonseca inspira enredo de escola de samba em São Paulo Roliúde trata de um contador profissional de filmes que adapta clássicos do cinema de Hollywood para o contexto do Sertão

Por: Matheus Rangel

Publicado em: 14/02/2017 13:04 Atualizado em: 14/02/2017 17:26

King Kong do Sertão, Chaplin do Nordeste e Retirantes são retratados nas fantasias da escola de samba. Foto: Christine Nascimento/Divulgação
King Kong do Sertão, Chaplin do Nordeste e Retirantes são retratados nas fantasias da escola de samba. Foto: Christine Nascimento/Divulgação


Uma obra do escritor pernambucano Homero Fonseca serviu de inspiração para o enredo de uma escola de samba paulista. A Colorado do Brás, agremiação que desfila no Grupo de Acesso do carnaval de São Paulo, vai levar ao Sambódromo do Anhembi a cultura sertaneja do Nordeste pincelada por referências ao livro Roliúde, lançado em 2007 por Homero Fonseca. O desfile tem como tema Luz, câmera, ação! A Colorado apresenta: a Roliúde no Sertão e está programado para ocorrer no domingo, 26 de fevereiro.

Escritor de 69 anos nasceu em Bezerros e lançou o livro em 2007. Foto: Facebook/Reprodução
Escritor de 69 anos nasceu em Bezerros e lançou o livro em 2007. Foto: Facebook/Reprodução
De acordo com Homero, o pedido veio em março de 2016, por meio de um e-mail de um integrante da escola de samba. O escritor conta que se esqueceu da proposta e foi surpreendido novamente em janeiro deste ano com o anúncio de que estava tudo pronto e o convite para que ele fosse a São Paulo participar do desfile. "Não conhecia ninguém, nem sei como eles chegaram ao livro", conta Homero ao Viver. Sobre a participação no evento, adianta que ainda não sabe qual papel desempenhará. "Eu não sou samba no pé. Gosto muito de ouvir, mas sou pior que um boneco de Olinda dançando. Só espero que me coloquem em cima de um carro, acho que não aguento andar muitos quilômetros", disse o escritor de 69 anos, nascido em Bezerros. 


O livro
Roliúde narra a história de um contador de filmes profissional do interior do Nordeste que tem uma trajetória atrelada à oralidade. Severino, ou Bibiu, como é chamado, já ganhou a vida como "homem da cobra", vendedor de cordel, camelô e locutor de circo e passa a traduzir clássicos do cinema hollywoodiano como Casa branca, ... E o vento levou, A dama das camélias e Nos tempos das diligências para o contexto do Sertão, fazendo a ponte entre a cultura "matuta" e o glamour do cinema norte-americano antes do surgimento da televisão em casas, nas ruas e em botecos. "Eu diria que a inovação do livro é usar essa cultura nordestina não de forma parada, estagnada, como é feito. Mas como acontece com a vida real: uma interação dinâmica com a cultura global, já que o cinema é a cultura global por excelência. Não é só reproduzir a 'cultura matuta', vai mais longe porque faz a interação entre esses dois contextos diferentes", acredita Homero.

Adaptação
O romance, que já foi adaptado para o teatro em 2011, ganhou nova dimensão para brilhar no Sambódromo. Foi dada mais atenção à passagem de Bibiu pelo circo - coisa pouco vista no livro - e, à lista de clássicos cinematográficos relatados pelo personagem, foi adicionado O garoto, de Charles Chaplin, que não consta na obra original, "mas está totalmente dentro do universo do livro", como defende o escritor.

Samba-enredo
Para embalar o desfile, foi composto um samba-enredo cheio de referências à cultura nordestina que emocionou Homero. "Eu achei maravilhoso, cada vez que ouço descubro mais coisa. Melodicamente, é muito bonito, seguindo o padrão dos sambas-enredo, mas com algumas inovações, como o uso da sanfona (forma de ligação com a temática) e citações como a da música Baião", comenta. A música foi assinada por Thiago Morganti, Ronny Potolski, Sukata, Igor Vianna, Michel Mammoccio, Tubino, Willian Tadeu, Butti, Walter Jr., Lo Robson, André Valêncio, Diley, André Filosofia, Victor Alves e Meiners.

 

Confira a letra do samba-enredo inspirado por Roliúde:

Ê cabra da peste
Filho de um agreste sonhador
O Sol que arde não esconde a poesia…
Que dos filmes irradia, em prova de amor
Do Circo, as lembranças de menino
Vida de artista a buscar o seu destino
"Oxente", parece história de cinema!
Quando o talento entra em cena a brilhar
É o dom de contar e encantar
ÔÔÔÔ ROLIÚDE VEM AÍ
FAZ A MENTE DELIRAR, A PLATEIA APLAUDIR
DAS TELAS PRO POVO, VEM MOSTRAR
UM MUNDO NOVO, DE SE ADMIRAR
Romance, humor e aventura
Epopeias pelas praças do Sertão
Um Faroeste com o tempero do Nordeste
Pede licença pra atrair sua atenção
Pode avisar aos navegantes que é hora de partir
Vem o luar, feito um Cordel que lá do céu vai reluzir…
Entre as grandes estrelas, um novo astro surgiu
Um Severino: o retrato do Brasil!

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