Estreia Mercado financeiro motiva sequestro em programa ao vivo no filme Jogo do Dinheiro Sob direção de Jodie Foster, George Clooney e Julia Roberts estão no elenco

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 26/05/2016 14:05 Atualizado em: 26/05/2016 15:09

Jack O'Connell interpreta homem deseperado que exige explicações sobre ações da bolsa de valores (Sony/ Divulgação)
Jack O'Connell interpreta homem deseperado que exige explicações sobre ações da bolsa de valores
 
Jogo do dinheiro é mais uma demonstração de que a indústria cinematográfica norte-americana incorporou discursos do movimento Occupy Wall Street, como já foi visto recentemente com O lobo de Wall Street (2013) e A grande aposta (2015). Em comparação aos outros dois, o novo filme não é satírico e tem um foco mais fechado, concentrado em uma situação específica de tensão narrada praticamente em tempo real. A direção é de Jodie Foster e os personagens principais são interpretados por George Clooney, Julia Roberts e Jack O´Connell (revelado quando foi dirigido por Angelina Jolie em Invencível).

É basicamente um filme de sequestro e negociação. Assim como Al Pacino em Um dia de cão (1975), principal clássico deste subgênero, o sequestrador é um homem comum (não um criminoso) que resolve tomar uma atitude extrema contra o sistema após sofrer um trauma na vida pessoal. Desta vez, o contexto é formado pelo mercado financeiro e pelos bastidores de um programa de TV econômico.

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Lee Gates (Clooney) é o apresentador do Money Monster (também título original do filme), um programa televisivo, transmitido ao vivo, que dá dicas de investimentos aos espectadores, voltado principalmente para o mercado de ações da bolsa de valores de Nova York. Kyle (O'Connel) segue um dos conselhos e aposta tudo o que tem em uma empresa, mas perde o dinheiro logo depois. Revoltado, ele invade o estúdio do programa, no meio da transmissão, com um revólver e um colete cheio de explosivos, para exigir explicações sobre o que ocorreu.

No início, todos os personagens do filme parecem vilões, cínicos, inconsequentes ou desajustados. Aos poucos, contudo, eles ganham alguma coerência. Kyle, por exemplo, provoca catarse em todos que odeiam o mercado financeiro. A equipe do programa, por outro lado, adquire um heroísmo pouco convincente, o que os torna Clooney e Julia menos interessantes dramaticamente.

O funcionamento do estúdio de TV é retratado em detalhes, de forma convincente, mas só até certo ponto. Os detalhes técnicos são bem representados, só que o alcance da rede de informantes dos produtores do programa é exagerado. Com ajuda de hackers, eles conseguem ter acesso a imagens em vídeo de qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo a qualquer momento, como fazem as agências de espionagem dos filmes de agentes secretos.

O filme tem um ritmo envolvente que prende a atenção ao longo de 98 minutos. Como o programa é transmitido ao vivo e as câmeras do estúdio estão sempre ligadas, sem cortar o sinal (pois o sequestrador exige que tudo seja filmado e veiculado na hora), a ação transcorre praticamente no mesmo tempo dos acontecimentos, sem saltos ou cortes, o que favorece o envolvimento do espectador como uma testemunha da situação.



Jogo do dinheiro foi lançado no Festival de Cannes (fora de competição), onde Jodie Foster participou de um debate, promovido pela revista Variety, sobre as constribuições das mulheres para a produção cinematográfica. Ela reconheceu alguns avanços, sobretudo em comparação com décadas passadas (quando adolescente, ela atuou em clássicos como Taxi Driver e Um dia muito louco), mas alertou que a concorrência com seriados e com a internet tem feito os estúdios regredirem na contratação de diretoras para evitar riscos financeiros.

"Os executivos preferem investir em diretores que sejam mais parecidos com eles mesmos", disse a atriz. Segundo ela, os produtores querem controlar cada vez mais o conteúdo dos filmes e não estão interessados em cineastas que representem novas vozes. "Tudo muda quando uma mulher comanda um set de filmagem, que fica com um clima mais familiar e mais saudável", acredita Jodie.

A atriz e diretora também alertou para o perigo que o problema representa para o conteúdo dos filmes. Para ela, em produções dominadas por homens, as mulheres normalmente são retratadas sem complexidade ou profundidade: "Eles parecem incapazes de entrar nas nossas mentes. Para justificar as motivações das personagens femininas, sempre criam situações de estupro. Ela vive chorando porque foi estuprada. Ela tem problemas com o patrão porque foi estuprada..."

Jodie ainda disse que é contra a imposição de cotas para garantir a participação das mulheres no caso de atividades artísticas, pois acha que a inclusão deve ser feita como uma conscientização e não como uma obrigação. "O público está cansado de modelos tradicionais. As pessoas são abertas e querem mudanças", garantiu.

Mais conhecida como atriz de sucessos como O silêncio dos inocentes, Jodie Foster já dirigiu quatro filmes (além de episódios de seriados como House of cards e Orange is the new black). No debate em Cannes, ela explicou que passou 15 anos sem dirigir (entre 1995 e 2011) para se concentrar na criação dos dois filhos, preocupação que os homens normalmente não têm. "A indústria do cinema é cruel com quem tem uma família para cuidar", testemunhou a artista.

Jodie Foster ganhou o Oscar duas vezes pelas atuações nos filmes O silêncio dos inocentes (1991) e Acusados (1988), no qual interpreta uma vítima de estupro coletivo.

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