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Entrevista Pablo Escobar em série do Netflix, Wagner Moura opina sobre drogas e desmilitarização da polícia "A minha opinião é de que as drogas deviam ser legalizadas. Digo isso há muito tempo", disse o ator em coletiva em São Paulo

Por: Raquel Lima - Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/06/2015 10:38 Atualizado em: 14/12/2015 12:30


Wagner Moura é Pablo Escobar na série "Narcos", dirigida por José Padilha. Crédito: Daniel Daza/Netflix
Wagner Moura é Pablo Escobar na série "Narcos", dirigida por José Padilha. Crédito: Daniel Daza/Netflix

São Paulo
- Não há nenhuma data que justifique o "momento Pablo Escobar" vivido internacionalmente. Mas El Patrón, codinome de um dos mais temíveis traficantes de droga da história das Américas, inspira diversas produções. Benicio del Toro é estrela de Escobar: paraíso perdido, que estreia nos Estados Unidos nesta semana. Os ganhadores do Oscar Penélope Cruz e Javier Bardén estão produzindo Escobar, cinebiografia que deve ganhar as telas em 2015. Em 28 de agosto, o Netflix lança Narcos, primeira série original do canal por internet assinada por um brasileiro. É do diretor José Padilha (Tropa de elite e Robocop), a crônica, em dez capítulos, sobre o Cartel de Medelín, rede internacional de tráfico de drogas cujo auge foi na Colômbia dos anos 1980.

"Trata-se da origem e da caçada a Pablo", define o ator baiano Wagner Moura, que viverá o protagonista. Trocou o Rio de Janeiro, onde mora, por Medelín, na Colômbia, antes de assinar o contrato. Queria falar bem espanhol, a língua oficial do seriado. Moura engordou para o papel. "Você viu os primeiros episódios, quando chegar no décimo%u2026 ôpa!", brinca. Na entrevista a seguir, concedida a jornalistas latinos em São Paulo, o ator revela o processo de gravação, defende a desmilitarização da polícia e que, em relação a Pablo, não cabe maniqueísmo. (A jornalista viajou a convite do Netflix)


"A minha opinião é de que as drogas deviam ser legalizadas. Digo isso há muito tempo"


entrevista >> Wagner Moura Como foi atuar em espanhol?
Foi realmente a parte mais difícil. Por que eu não falo espanhol, mas tive muito tempo para me preparar; que é como eu gosto de fazer as coias. Então, comecei pelo básico. Fui para Medelín, me matriculei em uma universidade, fiquei aprendendo espanhol, conversando com as pessoas. E aí, com tempo, fui pesquisando sobre Pablo (Escobar) e me aproximando mais dele, estando lá. Cheguei em abril de 2014 em Medelín. Fui por minha conta, antes do Netflix assinar o contrato. Fiquei por 15 dias, voltei ao Brasil para lançar Praia do futuro. Regressei em setembro, quando começamos a filmar. Fiquei cinco meses, mas estava com o personagem na cabeça desde o final de 2013, quando o Padilha me convidou.
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A série chega em um "momento Pablo Escobar": são pelo menos dois filmes, sempre há livros e novelas. Por que estão trazendo essa história de novo hoje?
Não sei, mas, no caso da gente, pelo que conheço do Zé (essa série é uma ideia dele) tem essa coisa de ele querer e entender uma realidade e explicar alguma coisa. Balanceando o lado épico com um dramático mais forte, com ação, com algo que seja atrativo, que tenha entretenimento, mas ao mesmo tempo revele uma realidade política e social. Narcos quer entender a origem do narcotráfico no mundo, que até hoje é uma questão.

O que pensa sobre a política de guerra às drogas?
A minha opinião é a de que as drogas deveriam ser legalizadas. Digo isso já há muito tempo. Não sou especialista, mas a política de confronto às drogas me parece ineficaz. Toda a América Latina segue um pouco o modelo de confronto norte-americano. Até contra o próprio consumidor. A tendência é que isso vá se dilatando. Hoje o consumidor não é tão penalizado quanto há cinco anos. Vejo as drogas como um problema de saúde pública e não de segurança. Se medir os óbitos por overdose e pela guerra ao tráfico, não tem comparação. Acho que se gasta muito mais. E talvez aí esteja a chave: a quem interessa o gasto com as armas de fogo na guerra contra as drogas?

Você tem alguma opinião sobre a desmitarilização da polícia?
Sou a favor da unificação e da desmilitarilização da polícia. A Polícia Militar parece um resquício da ditadura. É um negócio assim%u2026 estranho. A polícia no Brasil é uma questão muito séria. O que acontece no Brasil, que acho muito interessante, é que a polícia, de um modo geral, existe para proteger o estado e não o cidadão. Quando se fala em proteger o estado, o que acontece - na prática - é proteger o estado contra gente pobre.

Qual é a imagem de Pablo Escobar na Colômbia hoje?
Eu fui em um bairro em Medelín, o Pablo Escobar, em que Pablo construiu duas mil casas para pobres que viviam em um lixão. Quando você vai lá, tem um muro com uma foto do Pablo Escobar e, ao lado, a do menino Jesus. Todas as casas têm uma fotografia de Pablo. Agora, Pablo Escobar inventou uma coisa chamada narcoterrorismo. Ele chantageava os estado mantendo bombas na cidade. As vítimas de Pablo são muitas. E por isso que é um personagem tão interessante, amado por muitos e odiado por tantos.

Tem muito material sobre Pablo já filmado. Qual o recorte que José Padilha dará a Narcos para fazê-lo diferente?
Vi recentemente Escobar: paraíso perdido, com o Benicio del Toro (o filme não é muito bom, mas ele está incrivel). Quando se faz um filme assim, com duas horas, tem um recorte. Quando se tem 100 capitulos, é outro. O diferencial de Narcos é o fato de serem dez episódios, dez horas de filmagem%u2026 e a série não é focada só em Pablo. É uma série sobre a origem do narcotráfico no mundo, mas não se pode falar disso sem falar do Cartel de Medelín.

José Padilha é produtor executivo e assina os dois primeiros episódios de Narcos, mas depois não dirige mais, não é?
É, mas tem outro brasileiro, o Fernando Coimbra (de O lobo atrás da porta, de 2013), que também dirige dois episódios, ele é ótimo. Tem outros dois cineastas: o mexicano Guilhermo Navarro (de O labirinto do fauno, Círculo de fogo), o colombiano Andi Baiz (O quarto secreto).

Escobar é colombiano. Não teve medo de ser uma apropriação, por um brasileiro, de um personagem tão icônico?
Quando fui a primeira vez pra Medelín, não contei pra ninguém o que estava indo fazer lá. Um brasileiro magro (estava com 76 quilos), que não falava espanhol. Mas o Zé Padilha me chamou para fazer%u2026 se o Zé acredita, eu acredito. Não ia decepcionar ele. Eu acho que tinha que fazer o que pudesse. Eu tenho muito orgulho desse trabalho, gosto muito do resultado.

O roteiro é baseado em alguma biografia?
Não, não. Tem muitos livros sobre Pablo, especialmente em espanhol, que os roteiristas norte-americanos nem conseguiram ler. Há pouco sobre Pablo em inglês, tem um livro chamado Killing Pablo (de Mark Bowden) que é bem legal, mas tem muito material na internet. Acho que pesquisaram de outras formas%u2026 não é baseado em nenhum livro em específico.

O polo de cinema de Paulínia foi fechado. Quer falar sobre isso?
Que posso dizer, cara? Paulínia apareceu como uma força do cinema brasileiro. Teve uma época que quase todos os filmes que via tinham o nome de Paulínia. Fiz O homem do futuro, fiz A busca, VIPs. Fiz três filmes em Paulínia. Acho uma pena. Imagina!

Você sempre vive personagens que lidam, digamos, de maneira bem particular com a lei. É coincidência ou atração irresistível?
Que história é essa, menina?

É, menino! Em Cidade baixa (2005) você não é um "cara certinho". Nem em Tropa (2007), Vips (2011), Elysium (2013)...
Hum, pensando assim, até que é (risos). Mas escolho papéis que considero bons, só isso (risos).




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