São João
Caruaru: pólvora, milho assado e dança na maior festa de São João do mundo
Publicado em: 22/06/2019 14:48 | Atualizado em: 22/06/2019 15:45
EFE/Fernando Bezerra Jr (EFE/Fernando Bezerra Jr) |
Esta cidade situada no coração do estado, a 130 quilômetros de Recife, se transforma totalmente entre maio e julho para abrir passagem a uma explosão cultural e artística.
As bandeirolas coloridas tomam suas ruas, o forró marca o ritmo das quadrilhas e as tropas de bacamarteiros disparam para o ar no meio da noite em uma liturgia que data do final do século XIX.
O som do bacamarte, uma arma de fogo de cano largo que funciona com pólvora seca, é tão ensurdecedor quanto mágico. Tudo complementado com o calor das fogueiras e os famosos quitutes gigantes, como cuscuz e bolo de milho de dimensões superlativas.
EFE/Fernando Bezerra Jr (EFE/Fernando Bezerra Jr) |
Quase dois meses de festa com 500 apresentações de artistas para as quais é aguardada uma movimentação de cerca de R$ 200 milhões e a presença de dois milhões de pessoas, em uma cidade cuja população é de 350.000 moradores.
O chamado Pátio do Forró abriga um enorme palco, onde se apresentam grandes nomes da música brasileira, como Alceu Valença, em shows nos quais não cabe um só alfinete durante os finais de semana.
"As festas de São João estão intimamente relacionadas com a identidade cultural nordestina. Refletem o que somos, todo mundo está alegre e os que trabalham fora voltam para reencontrar-se com suas famílias, sentar-se ao redor da fogueira e comer alguma comida de milho", declarou à Agência Efe a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra.
Neste ano a principal novidade é a criação de uma dúzia de polos culturais nas comunidades rurais dos arredores de Caruaru, onde se encontram as raízes da festa, como é o caso de Vila do Juá.
Ali não é preciso recriar a praça central, rodeada de humildes casas de um andar e com a igreja como ponto de encontro, porque assim são estas pequenas aldeias de calçadas empedradas próximas à cidade.
Os moradores de Vila do Juá abriram suas casas à rua para a ocasião e dançam com paixão e alegria contagiosas. Não importa a idade, nem a hora, só dançar até que os pés não possam mais.
Com os disparos dos bacamarteiros de fundo, uma quadrilha com seus trajes brilhantes apresenta uma coreografia na qual trabalharam durante meses.
EFE/Fernando Bezerra Jr (EFE/Fernando Bezerra Jr) |
Enquanto a quadrilha segue o compasso do marcador, que guia a coreografia, Maria do Carmo da Silva, de 52 anos, e seu marido, João Manuel da Silva, de 60 e agricultor aposentado, dançam colados como se fossem adolescentes apaixonados.
"Aprendi a dançar aqui com o João", disse Maria, que ainda trabalha como costureira na sua casa. Seu marido mostra as mãos gretadas de décadas de trabalho rural. Ambos nasceram e se criaram em Juá e esperam o São João com ansiedade todos os anos.
A poucos metros, Márcia Ferreira, de 59 anos, vende fogos em uma barraca. É seu primeiro ano à frente deste modesto negócio e os jovens são os mais interessados nos seus produtos.
"Está sendo uma festa maravilhosa", comentou Márcia, que lembrou com afeto a visita da prefeita, que lhe prometeu que asfaltará as ruas da região onde vive.
"O Brasil tem uma riqueza cultural incrível e precisamos, de fato, dizer que nosso Carnaval é muito importante, mas somos mais que o Carnaval. Em todas as regiões do nosso país há manifestações culturais muito ricas e aqui em Caruaru se veem todas as linguagens da cultura popular", concluiu com orgulho a prefeita.
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