Ensino superior

Universitários protestam contra cortes e fazem 'balbúrdia' neste sábado

Publicado em: 08/05/2019 12:57 | Atualizado em: 08/05/2019 16:56

Estudantes criaram perfil para divulgar destaques da UFPE e ressaltam a história da FDR (foto), por exemplo, uma das mais antigas instituições do país. Foto: Paulo Paiva/DP.
Universitários de instituições de ensino pernambucanas participam, neste sábado (11), de um protesto que acontecerá em todo o país. Estudantes das universidades Federal de Pernambuco (UFPE) e Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) integram o Dia Nacional da Bálburdia Universitária, que deve acontecer em diversas instituições de ensino brasileiras em protesto à fala do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que anunciou cortes na educação porque as universidades promoveriam "bálburdia" em seus campi.

Em vez de 'bagunça', porém, os estudantes pretendem divulgar as ações de ensino, pesquisa e extensão das universidades. Atos semelhantes têm acontecido em várias universidades do país. Nessa segunda-feira (6), em protesto contra corte de verbas, alunos e professores deram um 'abraço simbólico' na Universidade de Brasília (UnB). Uma mobilização de estudantes e professores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) também aconteceu nessa segunda na Praça da Democracia. Estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) fizeram uma caminhada com cartazes e faixas.

Na semana passada, a UFPE teve R$ 55,8 milhões bloqueados pelo governo federal. Do total embargado, R$ 50 milhões são referentes ao orçamento de custeio da instituição de ensino superior. O corte representa 30% do total anual voltado para manutenção da universidade. Além do corte no orçamento de manutenção, a UFPE sofrou um bloqueio de R$ 5,8 milhões do orçamento de investimento, usado na aquisição de novos equipamentos, de aparelhos de ar-condicionado e construção de novos prédios, por exemplo.

Já a UFRPE sofreu um bloqueio orçamentário de R$ 23,6 milhões, ou seja, 31,3% do orçamento discricionário da instituição. Esse bloqueio atingiu 30% da verba para bolsas e capacitação; 37,04% do funcionamento da universidade – energia elétrica, água, segurança, limpeza e outros serviços terceirizados; 44% do orçamento de investimento e R$ 622 mil do orçamento discricionário previsto para o Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas (Codai).

Em relação à nova Universidade Federal do Agreste (Ufape), houve um bloqueio de R$ 3,7 milhões, o que representa 30% do orçamento que estava previsto. "Vale salientar que essa redução também não ocorreu de maneira uniforme. O orçamento de bolsas, capacitação e capital sofreu uma redução linear de 30%. Já o orçamento de custeio foi suprimido em 31,9%, reduzindo o orçamento de R$ 9,25 milhões para R$ 6,2 milhões", pontuou a UFRPE, ainda responsável pela nova universidade, em comunicado.

A Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) informou que a maioria das ações da universidade foi atingida com o bloqueio de 30% do orçamento. "Abrange ações de fomento à graduação, pós-graduação, ensino, pesquisa e extensão; contratos; capacitação de servidores; programas de restruturação e modernização. Esta medida do governo federal alcança e afeta diferentes serviços das universidades, tanto no campo administrativo como também acadêmico", pontuou a instituição, em nota.

No texto, a universidade destaca ainda que "o percentual de 30% equivale ao bloqueio de mais de R$ 11 milhões do orçamento de custeio da Univasf. Com relação a investimento, incluindo emendas parlamentares, o bloqueio é de mais de R$ 6 milhões, atingindo 84% do orçamento programado. Os impactos decorrentes são a redução imediata da capacidade de investimento em obras e aquisição de equipamentos".

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) também sofreu cortes no orçamento. De acordo com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), a instituição sofreu um corte de 30% no seu orçamento discricionário previsto na Lei de Orçamentária Anual (LOA).

Ações divulgadas

Os estudantes da UFPE criaram ainda perfis nas redes sociais para divulgar as atividades e destaques da instituição. A página Bálburdia UFPE, criada há três dias e com 8 mil seguidores no Instagram, mostra as ações de ensino, pesquisa e extensão da universidade que completa 73 anos em agosto. Prêmios internacionais conquistados por estudantes e professores da UFPE; projetos de capacitação; ações para a comunidade; apresentações de trabalhos e de pesquisas em congressos são divulgados nas redes sociais para protestar contra os cortes nos orçamentos.

O perfil destaca ainda a importância histórica de instituições da UFPE, como a Faculdade de Direito do Recife (FDR), que completa 192 anos de fundação em 2019. Inaugurada em 1827, a instituição foi a percussora do curso de ciências jurídicas no Brasil. A primeira turma de bacharéis em ciências jurídicas se formou em 1832. Inicialmente funcionando no Mosteiro de São Bento, em Olinda, a faculdade já passou por diversos prédios, até que em 1889 mudou-se para a atual localização, conhecida à época como Ilha dos Ratos.

Debate

Nesta quarta-feira (8), reitores de instituições pernambucanas vão debater o contingenciamento de R$ 7,4 bilhões do Ministério da Educação (MEC). A Academia Pernambucana de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizam o evento aberto ao público "Ameaças à autonomia universitária" às 14h30, no auditório do Centro de Tecnologia e Geociências (CTG) da Universidade Federal de Pernambuco.

Coordenada pelo ex-reitor da UFPE Amaro Lins, a mesa-redonda contará com a participação dos reitores Anísio Brasileiro (UFPE), Anália Ribeiro (Instituto Federal de Pernambuco), Julianeli Tolentino (Universidade Federal do Vale do São Francisco), Maria José Sena (Universidade Federal Rural de Pernambuco) e Pedro Falcão (Universidade de Pernambuco).

LEIA MAIS:

Bloqueio do MEC atinge mestrado e doutorado

Universidades federais de Pernambuco sofrem cortes no orçamento

Bolsas, atividades, pesquisas e projetos das universidades federais em Pernambuco podem ser suspensas após cortes nos orçamentos

MEC contraria discurso e congela verba da educação básica, além das faculdades

Após cortes, reitores de Pernambuco participam de reunião para discutir ameaças à autonomia universitária

Cortes

O Ministério da Educação anunciou, no dia 30 de abril, que todas as universidades federais do país sofrerão corte de 30% em seus orçamentos. A medida foi tomada após a pasta ser alvo de críticas por ter reduzido as verbas destinadas à Universidade de Brasília (UnB), à Universidade Federal Fluminense (UFF) e à Universidade Federal da Bahia (UFBA).

A diminuição dos recursos das três instituições tinha sido anunciada pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub. Ele justificou que as reduções no orçamento da UnB, da UFF e da UFBA foram definidos porque as três instituições estariam com sobra de dinheiro para "fazer bagunça e evento ridículo".

Já a informação sobre o corte em todas as federais foi dada pelo secretário de Educação Superior do MEC, Arnaldo Barbosa de Lima Junior. De acordo com ele, trata-se de um bloqueio, de “forma preventiva” e que ocorrerá “sobre o segundo semestre”.

Conheça as instituições federais pernambucanas afetadas pelos cortes:
 UFPE

A Universidade Federal de Pernambuco tem três campi (Recife, Caruaru e Vitória de Santo Antão), 105 cursos de graduação, 133 cursos de pós-graduação, 30,6 mil alunos de graduação, 12,7 mil alunos de pós-graduação, 2,8 mil professores e 4,1 mil servidores técnico-administrativos. A instituição ficou em 20º lugar entre as universidades brasileiras classificadas no ranking 2019 do Times Higher Education (THE) de países considerados de economia emergente (Emerging Economies University). A UFPE está no intervalo 301–350 entre todas as instituições do mundo. Os resultados mostraram que a UFPE melhorou nas dimensões de ensino e visibilidade internacional.

UFRPE

A Universidade Federal Rural de Pernambuco, de acordo com o Relatório de Gestão 2017 da instituição, tem 12.964 estudantes, sendo 11.345 de graduação e 1.619 de pós. A UFRPE tem 1.138 professores e 1.940 funcionários. Levando em consideração todas as universidades públicas (federais e estaduais), a UFRPE ficou, em 2018, na 27ª melhor classificação no ranking do Índice Geral de Cursos (IGC/MEC). Ao todo, 2.083 instituições de ensino superior foram avaliadas pelo MEC. A UFRPE ocupa o posto de 77º no ranking geral, que inclui além das universidades, centros universitários, faculdades, institutos, entre outras instituições públicas e privadas.

Univasf

A Universidade Federal do Vale do São Francisco está presente em três estados: Pernambuco, Bahia e Piauí. Os primeiros campi foram implantados em Petrolina, sertão pernambucano; Juazeiro (BA) e São Raimundo Nonato (PI). Em seguida, a universidade se estabeleceu em Senhor do Bonfim (BA), depois foi implantado o campus Paulo Afonso (BA) e, mais recentemente, o campus Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, foi criado. A universidade oferece 35 cursos de graduação, dos quais 30 são presenciais e cinco na modalidade de Educação a Distância (EAD). A Univasf também possui 17 cursos de mestrado, quatro doutorados e 10 especializações.

IFPE

Ao todo, o IFPE tem 16 campi distribuídos em todas as regiões do estado, além de 11 polos da Educação a Distância (EAD). São oferecidos 283 cursos regulares nos níveis técnico, superior e de pós-graduação, totalizando o atendimento a mais de 27 mil estudantes. "Para além das atividades de sala de aula, nossos alunos têm, aqui, a oportunidade de serem inseridos em práticas de pesquisa, inovação e extensão, sob a orientação de um corpo docente altamente qualificado, formado por 1.277 professores, dos quais 78,23% são mestres e doutores", destacou o IFPE.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL