Saúde

Hospital da Mulher traz novos serviços para pessoas trans

Publicado em: 10/04/2019 07:00 | Atualizado em: 10/04/2019 07:07

Lucas quer retirar seios e ter barba o quanto antes. Foto: Mandy Oliver/Esp.DP foto

A sala de espera tem poucos pacientes. Lucas Maurício dos Santos, 25 anos, se senta em uma das cadeiras azuis e aguarda atendimento marcado para aquela manhã. Ele busca tratamento de hormonização. Deseja se identificar cada vez mais com o gênero masculino. O quanto antes, pretende ter barba e retirar os seios. Nunca se viu como uma mulher. “Me incomoda esse volume na frente”, lamenta, referindo-se às mamas. A hormonização buscada por Lucas é um procedimento inédito no Hospital da Mulher, no Recife. O público são homens e mulheres trans em processo de transição de feminino para o masculino, como Lucas, e vice-versa.

O atendimento das pessoas trans em tratamento de hormonização acontece no ambulatório LBT. O espaço antes era direcionado apenas a mulheres lésbicas, bissexuais ou transgenitalizadas (aquelas que passaram por cirurgia de redesignação de gênero). Valéria Diniz, 49, também é paciente do ambulatório. Lésbica, recebe atenção multidisciplinar com psicóloga, assistente social e ginecologista, além de outras especialidades médicas e exames. “Aqui é como uma casa para mim. Em outras unidades, os médicos sempre se dirigem a nós como pessoas hétero. E isso me incomodava muito. Porque até na hora dos exames ginecológicos, o espéculo usado é diferente”, explica.

Marcar uma consulta no ambulatório LBT é relativamente simples. A pessoa moradora do Recife pode procurar o serviço social do ambulatório de forma espontânea para uma primeira entrevista. Isso pode ser feito de segunda a sexta-feira, de 8h às 12h. Em seguida, é preparado o encaminhamento para as diversas especialidades do hospital através da rede de regulação do município.

Segundo Léa de Almeida, assistente social, a primeira consulta acontece dentro de uma média de oito dias. Ela conta que desde a implantação do hospital, há quase três anos, 400 pessoas foram atendidas no serviço. “Criamos um vínculo de amizade e amor com essas pessoas. Muitas chegam com um imenso sofrimento na alma, após serem desprezadas pela família ou julgadas pela religião”, diz a psicóloga Anita Ducastel. Para Lucas, passar pela transição é como sair de uma “prisão sem grades”.

Novos leitos
Outra novidade anunciada para o complexo do Hospital da Mulher, ainda neste primeiro semestre, é a instalação de 68 leitos de alto risco, sendo dez para a UTI neonatal, dez para a UTI da mulher, 27 leitos para a unidade de cuidados intermediários neonatais e 21 leitos de enfermaria de gestão de alto risco. “O hospital nasceu com o perfil de atendimento de alto risco e vamos desenhar essa transição”, pontua o secretário municipal de Saúde, Jailson Correia.

A unidade atende, em média, 2.600 mulheres na emergência, por mês, incluindo partos e urgências ginecológicas. Segundo a diretora do hospital, Isabela Coutinho, o número é superior à estimativa planejada para o período e reflete a dificuldade de atendimento dos outros municípios. A prioridade do hospital são os moradores da capital, mas por ser conveniado ao SUS, não pode negar atendimento de emergência.

Para ser encaminhada para a unidade, reconhecida pela oferta de parto humanizado, a mulher precisa passar pela central de regulação de leitos. Isabela ressalta que o índice de cesarianas no hospital gira em torno de 26%. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza 15%, mas nos hospitais particulares o índice chega a 90%. “Estamos abrindo oportunidades para as doulas atuarem nos partos da unidade de forma voluntária. Quem se interessar, pode nos procurar”, destacou a diretora.

O único serviço do hospital destinado a moradoras de qualquer município do estado é o Centro de Atenção à Mulher Vítima da Violência - Sony Santos, considerado um modelo inédito de atendimento dentro de uma unidade de saúde no Brasil por reunir em um só lugar diversas demandas. O serviço funciona 24 horas e atende mulheres vítimas de violência, seja física, sexual ou psicológica, a partir dos dez anos de idade. O atendimento é multidisciplinar com médico, enfermeira, psicóloga e assistente social. Também oferece exame pericial (IML) e boletim de ocorrência (se a vítima assim desejar).
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