ESTELIONATO

Dezenas de pessoas no Recife caem no golpe do envelope vazio

Publicado em: 20/02/2019 20:02 | Atualizado em: 20/02/2019 20:11

Material apreendido com a estelionatária em sua residência. Foto: Patrícia Monteiro / Divulgação

As festas privadas de Carnaval foram o objeto de um golpe que lesou, pelo menos, 10 pessoas no Recife. A possibilidade é de que apareçam novas vítimas. A autora, Maria Clara Gomes Feitosa, 19 anos, estudante, foi presa nesta quarta-feira, em sua residência, no bairro de Água Fria, após investigações por parte de Delegacia de Afogados. 

Maria Clara deu início ao golpe há algumas semanas. Por meio das mídias sociais, identificava vendedores de ingressos para shows ou festas, entrava em contato com eles via mídias sociais e encomendava os kits, geralmente em grandes quantidades. Então, depositava um envelope vazio da Caixa Econômica Federal na conta da pessoa, enviava o comprovante de depósito como se tivesse encaminhado valores em dinheiro. A partir daí, a vítima, acreditando que aquele depósito era válido, marcava um encontro, ao qual Maria Clara nunca comparecia. Em seu lugar, enviava um motoboy contratado, seu conhecido, mas que não sabia que o golpe estava sendo aplicado. Ele, então, pegava a mercadoria encomendada e levava até ela. De posse do material, a estelionatária sempre utilizava um deles para ir às festas e revendia os demais, geralmente pela metade do seu valor de mercado, localizando os compradores também pelas redes sociais. “Ela criava um perfil falso pelo whatsapp e fazia toda as negociações por lá e pelo instagram. Localizava pessoas interessadas em determinado evento, mandava uma mensagem particular oferecendo o abadá pela metade do preço e a pessoa o adquiria sem saber que sua origem era ilícita”, explica o titular da Delegacia de Polícia de Afogados, Igor Leite. 

Para suas transações, Clara adotava nomes falsos, como Jennifer Luna ou Jéssica Dias. Até agora, segundo o delegado, o prejuízo das vítimas chega a milhares de reais. “De posse destas informações, por meio de denúncias, e de que já havia mais de uma dezena de vítimas, conseguimos pegar o motoboy no momento em que ele iria fazer mais uma retirada de material. A partir daí, chegamos à autora do delito, que confessou tudo em detalhes. Por enquanto, a informação de que dispomos é que ela agia sozinha, mas no curso do inquérito policial, vamos aprofundar estas investigações para ver se realmente procede esta atuação dela isolada neste crime”, explica o delegado. A respeito do motoboy, a informação ate o momento é de que ele não teria participação nem recebia nenhum valor a mais pelo recebimento dos produtos. 
 
Myrela Souza, 24, estudante, foi uma das vítimas de Maria Clara. Ela faz serviços para uma produtora, vendendo ingressos, e os divulga via redes sociais. A estelionatária falou com a estudante no último dia 13 de fevereiro, pelo seu perfil original no instagram. No dia seguinte entrou em contato via facebook, desta vez identificada como Jennifer Luna. Pediu 13 ingressos para duas festas (oito para uma, cinco para outra), no valor de R$ 1.200, e mandou o comprovante de depósito às 13h39. Marcou de se encontrar com Myrela às 15h. “Ela disse que era natural de Limoeiro e que o pai tinha uma empresa em Camaragibe. Que mandaria o motoboy do pai desviar a rota para pegar os ingressos comigo neste mesmo dia. Marcou às 15h, na estação de Afogados, mas tive um imprevisto e ela ficou me pressionando em relação ao horário. Prontifiquei-me até a ir a Camaragibe, na suposta empresa do pai dela, já que era uma compra grande. Enfim, cheguei ao local combinado e entreguei o material. Uma semana depois, um dos sócios da produtora, na conta de quem o suposto depósito havia sido feito, falou comigo e disse que provavelmente eu era a quarta pessoa a cair no mesmo golpe”, relatou. A partir daí, Myrela entrou em contato com as outras vítimas via whatsapp e descobriu que as histórias eram semelhantes. Procurou a Delegacia de Afogados e contribuiu para a armação de uma falsa encomenda a fim de encontrar o motoqueiro. Com a ação bem-sucedida, ele levou a polícia até a residência de Maria Clara. “Ela estava fria, não demonstrou medo ou angústia. Não se recusou a falar também. Contou tudo”, relata Myrela.
 
Cínthia Martins Calado, 19, também estudante, trabalha na mesma produtora de Myrela, há quase um ano. Para ela, Maria Clara solicitou oito ingressos que totalizavam R$ 800 e pediu que ela entregasse nas proximidades do Shopping Tacaruna. Contou a mesma história de Limoeiro e da empresa do pai em Camaragibe. “Ela fez o depósito no mesmo dia. Entrei na minha conta, vi que estava em lançamentos futuros, sem saber que havia a possibilidade de estar pendente, e me dirigi ao local combinado. Na sexta, entrei na minha conta para transferir o dinheiro para a empresa e não tinha saldo. Foi quando falei com o gerente do banco e descobri o que poderia ter acontecido”, conta.

Maria Clara não tinha antecedentes criminais. Após ser autuado em flagrante por estelionato, será encaminhada, nesta quinta (21), à audiência de custódia.

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