100 anos Rádio Clube

Auditórios do rádio: lugar de encontros

Depois dos programas jornalísticos e das radionovelas, a novidade na Rádio Clube, a PRA-8, a pioneira, foi a chegada dos programas com plateia de ouvintes

Publicado em: 19/11/2018 09:03

Orquestra da PRA-8 na década de 1940, tendo nesta época como maestro e compositor Nelson Ferreira. Foto: Reprodução/Nando Chiappetta/DP Foto
Aqueles personagens que permeavam a imaginação do ouvinte da Rádio Clube passaram a ganhar forma. Estudiosos dizem que este foi o momento de “visualização primitiva”. Uma plateia minúscula, de cerca de quarenta pessoas, passou a frequentar o estúdio da Rádio PRA-8, a Rádio Clube, a pioneira, para acompanhar as gravações do programa Quatro Vidas todos os domingos. Os radiouvintes olhavam com curiosidade os artistas por um vidro. “É bem provável a hipótese de que o primeiro programa de existência regular, frequência regular e de frequência semanal, de continuidade que a PRA-8 apresentou foi Quatro Vidas”, acredita Luiz Maranhão Filho, historiador e professor de rádio. 

O Quatro Vidas era comandado pelo gênio Antônio Maria, que fazia de um tudo - de entrevistas a comentários e humorismo, como o quadro do coronel do interior Chico Dunga e do turno prestamista Salamão Absalão, que tinha uma fala engraçada. Depois de Quatro Vidas, os artistas e apresentadores viraram chamariz nas salas de diversões da cidade e passaram a ser chamados para shows fora da rádio. Foi o ponto de partida para os programas surgirem cada um com seu estilo, ocupando um horário diferente na grade da emissora. Apareceram tantos com sucesso que ainda merecem holofotes. No departamento de comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma pesquisa com o tema “Programas de auditório no rádio pernambucano” estudou especificamente o tema.

“Seguindo uma tendência do rádio brasileiro, os programas de auditório iniciam nas emissoras de Pernambuco na década de 1940”, diz o texto final, lembrando que eles sequenciam programas de cunho jornalísticos e radionovelas. Os programas de auditório costumavam chamar atenção de um “público predominantemente popular; a exceção ficava para os programas noturnos, onde se exigia o uso de paletó e gravata, e para os programas infantis, onde predominavam as crianças acompanhadas pelos pais”, afirmam os pesquisadores Maria Luiza Nóbrega, Ana Cristina Lima e Gisele Moraes.

A síntese delas da perspectiva do observador é muito perspicaz. Frisam que os programas de auditório revolucionaram o rádio pernambucano e funcionavam como escola formadora de humoristas, cantores e artistas em geral e que tiveram apogeu na década de 50. Concluem lembrando que “o auditório não se caracterizavam apenas como um local onde os ouvintes iam assistir ao programa. Era, sobretudo, um espaço de encontro, diversão e alegria, que mobilizou toda uma época”.

Até 1948, a Clube tinha dominância total do produto. Com a inauguração da Rádio Jornal do Commercio, em 1948, começa aí a disputa pela audiência. Na década de 1960, a concorrência vivida pelas emissoras de rádio é ainda mais forte: chega a era da TV.
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