Respeito Enfermeiro garante nome social na carteira O Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco concedeu a Val Souza o nome social no registro

Por: Tatiana Ferreira - Diario de Pernambuco

Publicado em: 17/08/2017 08:07 Atualizado em: 17/08/2017 08:13

Em sua infância no bairro de Coqueiral, Val Souza sempre escutou dos pais e dos quatro irmãos que precisava ser enfermeira ou professora. Profissões que, na concepção de sua família tradicional, eram mais femininas. Na verdade, era apenas uma tentativa de “consertar” a criança que era diferente. Coincidência ou não, aos 41 anos, e 17 cursos profissionalizantes no currículo, Val encontrou identificação e acolhimento justamente na enfermagem.
Ele se tornou a primeira pessoa a usar o nome social na carteira de identificação profissional em Pernambuco através do Conselho Regional de Enfermagem (Coren). E esse gesto, sensível à causa das pessoas trans, não é visto como um previlégio ou gentileza. Para a presidente do Coren, Marcleide Cavalcanti, a ação foi um avanço em direção à igualdade social e ao reconhecimento da identidade de gênero.
 “É importante esse reconhecimento em todos os lugares. Eu tomei posse de um direito que os movimentos sociais lutam há anos por essa causa”, ressaltou. Para ele, a conquista representa um ato de resistência e empoderamento de toda a comunidade LGBT. “Assim como sou grato a todos que vieram antes de mim e morreram pela causa, espero que a próxima geração não sofra tanto quanto eu”, ressaltou.
A preocupação de Val é justificável. Quando tinha cerca de 12 anos, no auge das divergências e violências que sofria na família, perambulou pela cidade até encontrar os cursos profissionalizantes gratuitos na Agência do Trabalho. Os quais só pagavam a passagem e um lanche. Muito pouco, mas foi suficiente. O que valia mesmo, para ele, era fugir da realidade sacrificante do lar.
Aos 15 anos foi morar na rua. E graças ao esforço próprio construiu uma pequena casa às margens da BR-101. A moradia foi erguida no quintal da casa de um homem que criava porcos, galinhas e outros animais. Hoje, Val conseguiu comprar sua casa própria no bairro de Cavaleiro e sobrevive do seguro desemprego. “Eu vendia os vales transporte dos cursos para comprar comida e voltava caminhando todo o percurso”, revelou.
Ele conta que mesmo com vários cursos de capacipação tem dificuldades de conseguir um serviço.“As empresas dizem que querem pessoas capacitadas. Eu sou. Tenho até especialização no setor de cuidados ao recém-nascido de alto risco. Então, por que não estou trabalhando?”, indagou.

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