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Diario Urbano: Paz em nome de rua
Silêncio na Rua da Paz somente na madrugada, quando o trânsito assossega
Por: Jailson da Paz
Publicado em: 14/01/2017 08:19 Atualizado em:
Silêncio na Rua da Paz somente na madrugada, quando o trânsito assossega. No restante do dia o fluxo contínuo de carros e motos dá a esse endereço, do bairro de Afogados, uma mistura de roncos de motores, buzinadas e gritos de ambulantes. Nessa confusão, acrescida de corre-corre por assalto, o torneiro mecânico Nilson da Silva, 43 anos, diz viver em paz. Nilson mora com a família - mulher e dois filhos - em uma casa colada aos fundos da oficina onde trabalha desde a adolescência. O negócio pertence ao seu pai, também Nilson. E o que é a paz, se pergunta o torneiro, senão o que vem do interior das pessoas? A resposta “sim” compensa as perdas afetivas de quem conviveu em épocas mais tranquilas da rua. Do ritmo menos corrido dos anos 1970 e 1980, o torneiro mecânico tem saudade.
As residências sobrepunham o comércio em quantidade de imóveis ocupados. O tráfego de ônibus era intenso, embora sem “essa quantidade de carros pequenos”. Acionada a luz verde do semáforo, todos os veículos parados na luz vermelha passavam. Agora, nos horários de pico, o verde se apaga e a fila de carros permanece a perder de vista. Sinal de saturamento. O tráfego, a decadência dos imóveis e a procura de empresas por endereços para abertura de pontos comerciais contribuíram para famílias repensarem o lugar de moradia. E muitas partiram dali. Apenas quatro ou cinco dos quase sessenta imóveis da rua são destinadas a residências. Passam despercebidas, para os que circulam rapidamente por ali, entre lojas e bancos. Fechadas durante quase todo o dia, as residências são confundidas com imóveis abandonados ou à espera de locadores e compradores.
Descida da ponte
Dona de casa, Judite Silva, 52 anos, escolheu um lugar da Rua da Paz que considera fazer jus ao nome da rua: a descida da Ponte de Afogados. No lugar onde assaltantes correm de arma em punho, operários seguem para a fábrica que empresta o muro em que Judite encontra afirma ver um pouco de paz.
Origem do nome
Na Rua da Paz, moradores e comerciantes antigos têm na ponta língua a história da origem do nome do logradouro. História relacionada à devoção a Nossa Senhora da Paz, santa a quem os católicos ergueram um nicho em 1871. Até 2000, o nicho ficava na descida da Ponte de Afogados. Foi transferido para a Praça da Paz.
Mesmo motivo
Praça da Paz e Rua da Paz, interligadas, são confundidas na cabeça dos pedestres. A justificativa dada por Silvestre Ribeiro, ambulante, vem da origem dos nomes de ambas. “As duas estão ligadas ao nicho e à igreja”. Nicho fechado a cadeado e protegido por tela, mas sem a imagem de Nossa Senhora da Paz.
Novas religiões
Embora tenha o nome surgido de uma tradição católica, a Rua da Paz não possui templo ligado a essa vertente religiosa. As três igrejas em funcionamento são de denominações neopentecostais. E de histórias próximas entre si: Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus e Mundial do Poder de Deus.
Brigas de rua
Se existe paz na Rua da Paz, para a vendedora Marilene Agripina de Sá, 49 anos, essa deve ser “a paz de Deus”. A paz “mundana” costuma ser quebrada. Segundo ela, devido à geografia do lugar que facilita a fuga de assaltantes e atrai “papudinhos” e “noiados” da Praça da Paz. E que costumam se atracar por cola e aguardente.
Ponto de passagem
A Rua da Paz mede cerca de 700 metros, intervalo rico em conexões. Daí o tráfego intenso, recebido da Rua Imperial e da Avenida Sul, em São José, e a facilidade de fuga de assaltantes. Além de ligada à Rua Imperial à Avenida Sul, ela se interliga com outras quatro ruas que levam a Areias, Imbiribeira e Mangueira.
Vagas em dobro
As calçadas da Rua da Paz são problemas para os pedestres e solução para os motoristas. Nos fundos da Caixa Econômica Federal, as vagas destinada aos automóveis se multiplicam. Seis vagas são demarcadas conforme a lei. Outra seis são improvisadas na calçada. Ao pedestre sobra o meio da rua.
Limite aos carros
Não está entre as melhores a calçada do imóvel 315 da Rua da Paz, onde funciona uma empresa de transformadores. Há desníveis e buracos, consequências do vai e vem de carros. Para estancar a destruição da calçada e fazer descargas, a empresa delimita a calçada usando cavaletes. Diz ter o aval da prefeitura.
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