Protestos
Grupo recifense se mobiliza para ato nacional contra nomeação de Valencius Wurch
Movimentos protestam em todo país para defender a causa antimanicomial
Por: Mariana Fabrício - Diario de Pernambuco
Publicado em: 11/01/2016 18:34 Atualizado em: 12/01/2016 16:46
Grupo de 50 pessoas saíras do Derby rumo a Brasília para manifestação no dia 14 de janeiro. Foto: Nando Chiappetta/DP. |
Pacientes, psiquiatras, psicólogos e outros profissionais da saúde de todo o Nordeste partiram hoje rumo a Brasília para se unir à ocupação que pede a saída Valencius Wurch Duarte Filho do cargo de coordenador de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde. Nomeado no dia 15 de dezembro pelo ministro Marcelo Castro (PMDB-PI), a posse vem causando protestos em todo o Brasil. Desde então, entidades da área e numerosos usuários dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) têm se unido para defender a causa antimanicomial.
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O psiquiatra Valencius Wurch dirigiu o maior manicômio particular do país, a Casa de Saúde Doutor Eiras, localizado no Paracambi, Rio de Janeiro, na década de 90. O local foi fechado em março de 2012 após investigação no Ministério Público comprovar denúncias de maus-tratos aos pacientes. Devido ao histórico, entidades que apoiam a reforma psiquiátrica realizam protestos contra a nomeação e pedem melhorias nos Caps.
Jetro Leite passou por manicômios e atualmente recebe tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial. Foto: Nando Chiappetta/DP. |
O usuário de saúde mental do Caps Livremente, localizado em Setúbal, Jetro Leite, 34 anos, relembra o período que passou entre três hospitais psiquiátricos, um deles o já fechado Hospital Psiquiátrico do Recife. "Umas das coisas que mais me lembro é da fila que fazíamos para encontrar o médico. Na consulta, ele nem olhava na minha cara. Queria contar minhas pequenas conquistas, minhas melhoras, mas não tinha oportunidade porque o tratamento sempre foi muito frio", conta o paciente que passou pouco menos de um ano internado, entre várias fugas. "Fugia porque me sentia inseguro, acuado. Não tenho convivência com minha família e hoje o Caps me acolhe. Lá eu tenho um tratamento humano", explica Jetro pouco antes de embarcar no ônibus com destino a Brasília.
Psiquiatra há 14 anos e cordenadora do Programa de Residência em Psquiatria da Secretaria de Saúde do Recife, Carla Novaes, não acredita em outra abordagem que não a psicossocial. "É um ponto fundamental. O que a sociedade precisa entender é que houve uma mudança de paradigma, do modelo hospitalocêntrico para um modelo psicossocial, baseado na comunidade", explica a especialista.
O grupo de 50 pessoas saiu na tarde desta segunda-feira para chegar somente na próxima quarta no Distrito Federal. Entre as entidades que mobilizaram a viagem estão o Fórum de Trabalhadores em Saúde Mental de Pernambuco e o Núcleo Estadual do Movimento de Luta Antimanicomial Libertando Subjetividades, grupo no qual a psicóloga e residente em saúde mental Beatriz Viana, 26, faz parte. "No dia 15 faz um mês que Valencius assumiu o cargo e vamos nos unir para fazer uma assembleia, logo depois uma passeata e seguir com a ocupação da Esplanada dos Ministérios", diz.
A psicóloga Beatriz Viana defende uma abordagem humanizada aos pacientes, diferente do que acontecia em manicômios, marcados por denúncias de abuso aos Direitos Humanos. Foto: Nando Chiappetta/DP. |
Procurado pelo Diario, o Ministério da Saúde afirmou em nota que a Política Nacional de Saúde Mental desenvolvida pelo órgão "tem por objetivo consolidar um modelo de atenção à saúde aberto e de base comunitária, promovendo a liberdade e os direitos das pessoas com transtornos mentais". Ainda segundo o MS, o modelo utilizado está em consonância com a Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/2001, que visa a reinserção social, a reabilitação e a promoção de direitos humanos.
Quanto a escolha do novo coordenador de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, o Ministério da Saúde afirma que Wurch "vem reforçar essa política". "O Ministério da Saúde considera a Reforma Psiquiátrica uma conquista do setor e não admite retrocessos na política em desenvolvimento", assegurou. Para o órgão, na década de 90, Valencius "trabalhou em prol da humanização do atendimento" na Santa Casa de Saúde Dr. Eiras.
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