Despedida Músico Jessé de Paula será sepultado às 16h no Cemitério de Santo Amaro Violinista morreu depois de ser atingido por composição do metrô

Publicado em: 11/03/2015 10:00 Atualizado em: 11/03/2015 11:44

Foto: Maria Eduarda Bione/Esp.DP/D.A Press/Arquivo
Foto: Maria Eduarda Bione/Esp.DP/D.A Press/Arquivo
Será sepultado às 16h desta quarta-feira no Cemitério de Santo Amaro, o corpo do músico Jessé de Paula Silva. Aos 30 anos de idade, o violinista que ficou conhecido por tocar músicas clássicas nos ônibus do Grande Recife, morreu no início da tarde desta terça-feira, depois de ser atingido por um trem do metrô do Recife. O corpo foi liberado esta manhã pelo Instituto de Medicina (IML), após a realização de perícia. No local, aguardavam o pai, o irmão e a irmã da vítima.

O acidente aconteceu por volta das 13h40, na estação Largo da Paz, nas imediações da Avenida Sul, bairro de Afogados. Testemunhas e a assessoria de comunicação da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU)/ Metrorec informaram que o passageiro aguardava a composição além da faixa amarela, em local proibido.

De acordo com passageiros que também aguardavam o metrô na estação, o músico estava na plataforma no sentido Cajueiro Seco. Uma das versões para o fato é de que Jessé estaria contando cédulas de dinheiro quando uma nota caiu. Quando ele se curvou para apanhar o dinheiro do chão, o metrô estava chegando à plataforma. À perícia, outros usuários do metrô disseram que Jessé estaria mexendo no aparelho celular e de costas para o trem. "Ele estava sempre por aqui na estação, era conhecido do pessoal. Foi um susto, a movimentação era grande na hora", contou um ambulante.

A cabeça de Jessé teria atingido o retrovisor do trem e em seguida uma quina do veículo. Com a pancada, o músico teve uma lesão no pescoço e na face, falecendo na hora. "A princípio, acreditamos que foi acidental, pelo local onde ele foi atingido. Com a força da batida, ele foi jogado novamente para a plataforma", afirmou o perito do Instituto de Criminalística (IC) Diego Costa. Ainda de acordo com o perito, imagens das câmeras foram solicitadas para confirmar que não houve crime ou intenção de suicídio. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Afogados.

História

A história de Jessé de Paula já foi contada pelo Diario duas vezes: em 2009, no caderno Vida Urbana, e em 2012, na revista Aurora. O violinista Jessé de Paula, tinha como palco os ônibus da Região Metropolitana do Recife (RMR) e como sonhos, gravar um disco e ter um violino elétrico. A remuneração do artista vinha do dinheiro arrecadado entre os usuários do transporte coletivo.

O violinista chegava a subir em 10 ônibus, diariamente. Fazia isso cinco ou seis vezes, por semana, tenando escolher os horários de pico e tocar para mais gente. "Todo artista tem que ir aonde o povo está", disse Jessé, em entrevista ao Diario, repetindo o verso da música de Milton Nascimento.

Tocava de frevo a sinfonias. Entre as conhecidas de Capiba, Bach e Beethoven, também executava suas composições, músicas de melodias e ritmos regionais, como o xaxado e o baião, além de atender pedidos do público. Não pedia ingresso. "Quem quiser contribuir, dá o que quiser. A maioria respeita. E isso já é maravilhoso",disse.

Nasceu no Hospital Tricentenário de Olinda. O pai saiu de casa quando ele tinha seis meses de idade. Foi criado pela avó, Dona Josefa, que acompanhava nas celebrações na Igreja Batista. "Naquele tempo, os regentes eram gringos. E eu fica na salinha de culto infantil, tentando aprender alguma coisa, inclusive música. Então, meus primeiros registros musicais foram nesse ambiente", lembrou.

Jessé ganhou de uma tia uma bolsa de estudos no Conservatório de Música de Olinda, Cemo. "Era mais como uma terapia, porque eu era muito agitado, muito treloso, em função dos problemas em casa", contou Jessé. Aos sete anos teve o primeiro contato com a música, com uma flauta doce. Aprendeu com o professor Arthur Jonhson pelo método Suzuki, voltado para crianças.

Aos nove, quando já  dominava flauta, quis aprender mais e a tia lhe deu outra chance: um violino. "Eu chegava da rua e ia ao quarto estudar. Mesmo assim, meus avós se incomodavam com a altura do som. Minha mãe, por conta de um transtorno psicológico, às vezes ficava eufórica com a música. Aí, aos poucos eu fui ficando sem privacidade", contou Jessé. Aos 17 anos, ele saiu da casa da avó e desde então morou sozinho, dividiu teto com amigos e companheira.

Sonhava em gravar um CD com músicas de sua autoria. Uma das canções que fez se chama Melodias Regionais. "Eu toco ela no ônibus e as pessoas chegam a dançar", orgulhava-se o instrumentista. Também queria um violino elétrico para tocar com mais potência. "No dia que eu conseguir um, vou formar a banda que eu tanto sonho. Vou encontrar o meu canto, parar de viver como cigano", planejava. E prometia nunca deixar os ônibus: "Irei tocar de vez em quando, para lembrar de quem me ajudou".



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