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Dra. Ana Escobar fala dos efeitos da tecnologia na educação e convívio infantil

Livro 'Meu filho está online demais: Equilibrando o uso das telas no dia a dia familiar' responde didaticamente às dúvidas da paternidade sobre o controle de aparelhos eletrônicos na vida de suas crianças e adolescentes

Publicado em: 30/04/2024 13:21 | Atualizado em: 30/04/2024 17:29

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Buscando responder a perguntas cada vez mais constantes nas rotinas de mães e pais sobre a educação digital dos filhos, a Dra. Ana Escobar, membro do conselho diretor do Centro de Desenvolvimento da Infância da Faculdade de Medicina na USP, elaborou o livro Meu filho tá online demais: Equilibrando o uso das telas no dia a dia familiar, que se debruça sobre diferentes questionamentos ao longo de 20 capítulos. Com prefácio da psicóloga e consultora educacional Rosely Soyão, autora de diversos livros sobre o tema, como Educação sem blá-blá-blá e Desafios da adolescência na contemporaneidade, a obra, publicada pela editora Manole, tenta compreender o mundo de bancos de dados, algoritmos e inteligência artificial colocado frequentemente sem filtro no aprendizado e convívio infantil.

 

Em entrevista ao Diario de Pernambuco, a Dra. Ana falou sobre o que a motivou em primeiro lugar a escrever o livro e explicou algumas das principais reflexões que traz na publicação. 

 

O assunto da tecnologia como parte a cada dia mais presente no universo das crianças está em alta há vários anos, mas quando foi que você viu a necessidade de expandir suas pesquisas no assunto?

"Eu senti que era necessário fazer esse livro a partir das consultas com os pais, quando recebia uma série de perguntas fundamentais sobre a educação digital. A partir de 2015 e 2016, mais ou menos, eu comecei a pesquisa para começar a escrita, mas com a pandemia e o isolamento social, com as pessoas muito tempo presas em casa, essa presença da tecnologia na vida das crianças ficou exponenciada, já que elas ficaram cada vez mais expostas às telas. Foi aí que comecei realmente a construção do livro."

 

Em que medida, lidando com esse tema em constante transformação, foi necessário se adiantar na produção para que o livro não ficasse datado rápido?

"Eu procurei focar nas principais dúvidas dos pais com relação ao uso da tecnologia e eu acho que esses questionamento vão permear várias gerações ainda. Dúvidas como: ‘quando eu devo dar um celular ao meu filho?’ vão estar muito presentes ainda nos próximos anos – e já há evidências muito fortes hoje de que abaixo dos dois anos de idade a exposição à tela não é ideal. Acho que há material o suficiente para o livro não ficar datado, mas nessa conexão enorme do mundo, é claro que as coisas estão mudando o tempo inteiro e rápido demais. Por isso espero poder fazer uma segunda edição muito breve com todas as atualizações."

 

Existe alguma relação constatada entre a hiperconexão com as neurodivergências?

"Até o momento não existem estudos ou evidências associando pessoas com neurodiverências com hiperconexão. Algumas pessoas neurodivergentes utilizam das telas até como meio de comunicação – o que pode ser algo muito produtivo. O lado ruim é a tendência ao isolacionismo, o que pode fazê-las entrar em um outro mundo e afastá-las do contato físico, que pode ser muito benéfico para a sociabilidade delas. Não se trata de excluir a tela, mas usar de uma maneira saudável, sob controle."

 

Na sua opinião, a partir da pesquisa, qual a obrigação das escolas nesse processo de hiperconexão e de que maneira ela pode lidar com a aceleração constante dele?

 

"As escolas têm um papel fundamental nesse processo de hiperconexão no sentido de que essas telas, principalmente os celulares das crianças, não deveriam ser utilizadas. A escola é um ambiente único e fundamental para o contato presencial, o olho no olho, a conversa, a alteridade o sentir o outro como igual e diferente de você. Claro que ela pode utilizar a tela para algumas tarefas acadêmicas, mas não para a comunicação individual. O ambiente escolar é precioso para crianças e adolescentes aproveitarem o que há de melhor no processo de aprendizado."

 

A intenção principal do livro claramente não é vilanizar a tecnologia, mas propor uma utilização sadia. Qual a chave principal para isso?

 

"O ponto-chave que eu quis trazer com o livro é o fato de que as telas fazem parte e farão parte da nossa vida de século 21 em diante. Mas a gente ainda está aprendendo a utilizar, descobrindo os prós e contras do uso, as consequências do uso excessivo, a partir de que momento é mais recomendada a liberação desse uso e, sobretudo, como fazer para ensinar as crianças a viver nesse mundo intensamente conectado, dependente das telas, mas preservar características de humanidade que são essenciais e devem ser cultivadas desde muito cedo: empatia, solidariedade, compaixão, generosidade, gratidão, entendimento do problema do outro. E as telas podem atrapalhar isso, sim, na medida em que isolam as pessoas da convivência. Pais têm de estar antenados a ensinar seus filhos a utilizar as telas de modo educado, sem invadir a privacidade do outro, e preservando essas características humanas de que não podemos abrir mão independente do quanto conectados estejamos com os aparelhos eletrônicos."

 

Com mais de 3 milhões de seguidores nas redes sociais, a Dra. Ana Escobar produz conteúdo sobre a promoção da saúde e bem-estar, alimentação, saúde mental, vacinas e sono. Ela é médica e comunicadora de saúde, realizou graduação, doutorado e livre docência pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), é membro do Conselho Diretor do Centro de Desenvolvimento da Infância da FMUSP, coordenadora de cursos de graduação e pós-graduação na FMUSP, é membro do Comitê Médico Afya, editora da Revista Clinics, editora e colunista na Revista Crescer e embaixadora do Instituto Jô Clemente (Ex APAE de São Paulo).