Opinião Daniella Brito Alves: A comunicação e o WhatsApp Daniella Brito Alves é jornalista, mestre em Sociologia e professora da Uninassau.

Publicado em: 14/09/2017 07:20 Atualizado em:

Nove entre dez brasileiros que usam a internet têm como destino o WhatsApp. É o que aponta uma pesquisa realizada em junho deste ano pela Conecta, plataforma da empresa Conectai Express ligada ao IBOPE. Os dados expressam o que o cotidiano já revela há algum tempo. Cada vez mais o aplicativo que lidera o uso no Brasil consolida uma nova forma de comunicação que une voz, texto e imagem, de forma direta e individualizada. Como um aplicativo de envio de mensagens, há muito, o WhatsApp se transformou numa rede social personalizada. Por ele, a mensagem pode ser direta ou para grupos que você escolhe silenciar, fazer parte e sair. Não estamos mais falando de uma %u201Cpraça pública virtual%u201D como no Facebook ou Instagram. Estamos falando de uma forma de interação que filtra interesses e relações e que desde seu lançamento, em 2010, tornou-se um fenômeno que alterou e muito a maneira como as pessoas se comunicam. É também terreno fértil para novas ações de comunicação empresarial e pública. Possibilita um canal de comunicação direto, que abre possibilidades e também um debate sobre limites entre privacidade e ações de comunicação. Não há dúvidas que o WhatsApp favorece essa proximidade na relação como também a personalização da resposta, características que precisam ser levadas em conta na hora do planejamento de uma ação estratégica.

O Marketing já estuda ferramentas para aumentar vendas, despertar interesses e criar e manter relação atuais e futuros clientes. Algumas empresas já estão recorrendo ao chamado WhatsApp Marketing, definindo estratégias para agregar mais pessoas a sua marca que vão além do uso convencional de envio e recebimento de mensagens. A Hellmann's, por exemplo, criou o WhatsCook que durante dez dias em 2014 reuniu um time de chefs que enviou receitas e tirou dúvidas em tempo real, via aplicativo. O resultado? Segundo Luciana Guernieri, gerente de Marketing da Hellmann's, em entrevista no site da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, %u201Cforam 187 imagens de geladeiras recebidas pelos chefs da Unilever, 500 receitas preparadas e 4 milhões de pessoas impactadas%u201D. A iniciativa, lançada no Brasil, também foi realizada pela marca em outros países como Argentina, Chile e Uruguai.

No campo local e como instrumento de comunicação interna, a equipe de comunicação da Companhia Brasileira de Trens Urbanos, CBTU Recife, lançou em fevereiro deste ano uma nova forma de interação, chamada de ZapNews. Circulando para contatos e grupos internos da empresa, o chamado zapnews já apresentou temas como campanhas de saúde, datas comemorativas e eventos internos. O que inicialmente só circulava para algumas pessoas ganhou diversos grupos da empresa e hoje já se percebe o reenvio em alguns grupos, ou seja, os receptores de ontem hoje são emissores também. Comunicação direcionada e cada vez mais compartilhada. Engajamento espontâneo, repasse de informação também.

Na mídia, diversos veículos já usam o aplicativo para receber informações e manter contato direto com suas fontes. Não é incomum, por exemplo, na TV, a substituição daqueles tradicionais caracteres que informavam que as imagens eram de %u201Cum cinegrafista amador%u201D por imagens enviadas por WhatsApp. Quantas pautas não surgem a partir de demandas do aplicativo? Neste sentido, o jornalismo móvel se consolida e possibilita que o cidadão cada vez mais conectado passe a ser produtor de notícias, de fluxos de informação em rede e de novos processos de produção da informação.

Do social para o pessoal e vice-versa. Longe de encerrar de forma simplista essa discussão, o que fica para as empresas, marcas e para a imprensa, por exemplo? O uso da tecnologia altera relações, produção de sentido e o que é notícia num mundo também em constante transformação. Nesta teia de contatos, o WhatsApp talvez seja um símbolo bem pertinente do nosso destino: no virtual e nem sempre no real, estamos cada vez mais conectados.

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