Operação turbulência Suspeito encontrado morto em motel pode ter tido infarto Paulo César Morato era considerado foragido desde terça-feira

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 23/06/2016 07:41 Atualizado em: 23/06/2016 08:45


Foragido da Operação Turbulência desde terça-feira, o empresário Paulo César de Barros Morato foi encontrado morto, ontem, em um motel na Avenida Perimetral, em Olinda. Ele era suspeito de integrar uma organização que teria desviado R$ 600 milhões e abastecido campanhas políticas em Pernambuco e no Nordeste, entre elas, segundo a Polícia Federal, do ex-governador Eduardo Campos (PSB). Morato foi apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como “um testa de ferro” e a PF diz que ele era um dos cinco líderes do esquema. O suposto empresário tinha em conta R$ 24,5 milhões, mas as condições de vida dele, segundo o MPF, não condiziam com o volume de dinheiro encontrado. 

Morato, único foragido da Operação Turbulência, era supostamente dono da empresa Câmara & Vasconcelos Locação e Terraplenagem LTDA, que seria de fachada e teria recebido R$ 18,8 milhões da OAS, empreiteira investigada na Operação Lava-Jato. O esquema começou a ser desmontado quando a Polícia Federal passou a investigar quem era o proprietário do avião Cesnna que transportava Eduardo no dia de sua morte, em 13 de agosto de 2014, quando o jato caiu em Santos (SP). A empresa de Morato teria aportado recursos na aquisição da aeronave, de acordo com o MPF. 

Segundo informações de funcionários do hotel, Morato deu entrada no local por volta do meio-dia de terça-feira e, até o meio-dia de ontem, não havia feito pedidos nem informado se iria renovar a diária. O empresário teria sido encontrado deitado na cama, de braços abertos, sem camisa e sem sapatos e o controle da televisão estava na cama, ao lado dele. Morato também estava de meia, calça jeans e uma tolha sobre o peito. As pontas dos dedos já estavam ficando roxas e o corpo rígido quando os funcionários atenderam a um padrão do hotel e utilizaram uma chave mestra para entrar no quarto e averiguar a situação. 

Segundo informações apuradas em reserva com policiais, não havia resquícios de sangue nem arma de fogo no quarto. Há possibilidade de Morato ter sofrido um infarto, mas o caso será investigado a partir de exames. Havia medicamentos no seu carro, um Jeep Cherokee, de placas QFP 4389, que passará por perícia.

A perita do Instituto de Medicina Legal, Vanja Coelho, não prestou declarações sobre o assunto. Inicialmente, o caso será investigado pela Polícia Civil. A delegada Gleide Ângelo, conhecida em Pernambuco pela solução de crimes difíceis, estava de plantão na força-tarefa e iniciou as investigações, ao lado do delegado Jorge Ferreira, que é de Olinda. O assessor de comunicação da Polícia Federal, Giovani Santoro, disse que um agente federal acompanhou o início das investigações, por se tratar de um alvo da Operação Turbulência, mas a PF só assumirá caso haja indícios de que a morte teve alguma ligação com a operação.

MPF vê ligação com empreiteira
Preso pela Polícia Federal na terça-feira, João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho, um dos donos do avião Cessna Citation usado pelo ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, teria intermediado pagamento de propina para as campanhas do socialista à Presidência da República e do senador Fernando Bezerra Coelho, em 2014. A informação consta no despacho da juíza Amanda Torres de Lucena, da Justiça Federal em Pernambuco, ao qual a Folha de S.Paulo teve acesso, em que foi autorizada a Operação Turbulência, deflagrada pela PF e que levou para a cadeia quatro pessoas, entre elas João Carlos Lyra.

De acordo com a investigação, funcionários da construtora Camargo Corrêa apontaram Lyra como o interposto do pagamento pela empresa aos dois candidatos do PSB. “Ele foi reconhecido pelos ex-empregados da Camargo Corrêa, Gilmar Pereira Campos e Wilson da Costa (...), e ainda se enfatiza que ele se apresentou formalmente como o único adquirente do avião”, sustentam os investigadores, no trecho que foi reproduzido pela magistrada. A operação identificou um esquema de lavagem de dinheiro, com a utilização de mais de uma dezena de empresas, parte delas fantasmas, que teriam abastecidos os caixas da campanhas dos dois quadros do PSB em 2014.

Dois delatores da  Lava-Jato, Roberto Trombeta e Rodrigo Morales, ambos ligados à OAS, afirmaram em seus depoimentos que João Carlos Lyra era o ponto de contato da empreiteira com diversos beneficiários de propina do esquema apurado pela Lava-Jato. “Aponta-se que foi reconhecido pelos operadores financeiros Roberto Trombeta e Rodrigo Morales, antes referidos, como sendo uma pessoa que viabilizaria o dinheiro em espécie para pagamento de vantagem indevida, efetuado pela Construtora OAS, cobrando taxa de 2% sobre o montante total, indicando, em contrapartida, as contas de diversas pessoas físicas e jurídicas investigadas nesses autos para recebimento de recursos”, diz o despacho.

Segundo Trombeta e Morales, Lyra atuava com uma espécie de venda de dinheiro vivo e, conforme atesta a investigação, acumulou vultuosas quantias com a atividade “ilegal”. “Há provas cabais (documentos de transferência ou depósitos bancários) de que, somente com esse esquema, João Carlos teria sido beneficiado em sua conta pessoal com R$ 2,85 milhões, além do que ele seria detentor de um expressivo patrimônio de veículos, lanchas e jet ski, aparentemente não compatível com seus rendimentos declarados”, afirmam os investigadores.

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirmou que “todos os recursos que entraram na campanha de Eduardo Campos em 2014 foram registrados na Justiça Eleitoral”. “Não há nada que tenha sido feito de outra maneira. Se há problema, precisa ser apurado”. Em nota, Bezerra Coelho classificou como ilações os elementos da investigação e disse que jamais foi citado por qualquer pessoa da Camargo Corrêa. “Passado mais de um ano, o inquérito segue sem prova alguma sobre a suposta participação do senador em qualquer atividade ilícita, estando tal investigação calcada em informações conflitantes fornecidas por delatores e sem qualquer documento comprobatório”. (Da Folhapress)

'Empresa fantasma'
Os investigadores apontam Morato como "responsável" pela Câmara & Vasconcelos, empresa que comprou a aeronave que caiu em agosto de 2014, em Santos (SP), no acidente que matou Campos durante a campanha presidencial. A empresa, apontada como fantasma pela Polícia Federal, recebeu créditos de quase R$ 19 milhões remetidos pela construtora OAS.

O empresário também seria "ligado a outras firmas receptoras de recursos provenientes das empresas de fachada utilizadas no esquema de lavagem de dinheiro engendrado por Alberto Youssef com relação ao pagamento de vantagens indevidas decorrentes da execução de obras da Petrobras", conforme as investigações. Youssef é delator da Operação Lava Jato.

Ele ainda era acusado de cooptar outros laranjas para o esquema. "Não só compõe o quadro societário de empresas fantasmas ou empresta sua própria conta pessoal para recebimento e movimentação dos recursos espúrios, mas também coopta outros "laranjas" para o mesmo mister", informam as investigações.

Os advogados do empresário chegaram a afirmar, na terça-feira, dia da Operação Turbulência, que tão logo Morado fosse localizado, ele se apresentaria às autoridades. (Da Agência Estado)

Conta bancária
Paulo César de Barros Morato
R$ 24,5 milhões

Eduardo Leite
R$ 7,6 milhões

João Carlos Lyra
R$ 3,6 milhões

Apolo Santana
R$ 4,2 milhões

Arthur Rosal
R$ 2,5 milhões

A Operação Turbulência encontrou nas contas dos cinco principais líderes do grupo os valores acima


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