Opinião Mari Barros: A Teoria dos Jogos e o impeachment "A ciência política não irá curar a democracia brasileira, mas ajudará a prescrever um conjunto de conceitos para a compreensão"

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 10/05/2016 07:08 Atualizado em:

Por Mari Barros
Mestre em ciência política pela UFPE / Universidade do Texas e professora daUniverso

“Buemba, buemba”… priiiii… está impedido!
Estão impedidas as especulações, pois está na hora da ciência política se levantar da cadeira de espectadora e começar a gritar nas ruas também! Gritar não como vendedores de sapatos, mas como quem tem a propriedade do estudo da verdade, para fazer uma análise técnica e científica, ou seja, neutra e imparcial, do case Brazil!

A verdade não se encontra na literatura. Num clássico romance, ou nos filmes hollywoodianos, o final geralmente é feliz e quem dita isso é o mercado, a bilheteria! Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência e quem vai confirmar este diagnóstico é a Teoria da Decisão e a Teoria dos Jogos. 

Está na hora da ciência política auxiliar a Pólis não somente quando o assunto for marketing. Meu Deus, meu Deus, o ministro do Supremo, Luiz Alberto Barroso, está apelando para Deus, pois diagnosticou a causa mortis da política brasileira e depois, na época por ser tempo de Quaresma talvez, a viu ressuscitar lá na UTI, nos estertores, nos últimos suspiros. A política brasileira está gravemente enferma, disse ele.

A Teoria dos Jogos é o ramo da matemática aplicada que estuda situações estratégicas onde jogadores escolhem diferentes ações na tentativa de melhorar seu retorno. O dilema do prisioneiro chamou a atenção das outras ciências, pois interesses próprios e racionais prejudicam a todos, à volontè generale. Assim, essa teoria passa a ser de interesse difuso, ou melhor, estrategicamente difuso para a ciência política, ciências militares, economia, filosofia, jornalismo e ciência da computação.

Atenção, cidadãos brasileiros que consomem essa democracia varonil, não é só o direito que tem condições de ajudar a ordenar o pensamento estratégico para a compreensão das manobras dinâmicas do jogo político brasileiro. Neste tabuleiro de War, a frente jurídica entrou com tudo, em especial a pernambucana. Marcelo Labanca, Francisco Queiroz, João Paulo Cavalcanti, Luciana Grassano e outros foram bater em Brasília por sua também notória causa. 

Assim como esses juristas, a responsabilidade do cientista político, meteorologista e advogado é subjetiva, ou seja, por ser uma obrigação de meio, tem-se o dever de usar a prudência e as diligências normais para a nossa prestação de serviço. Essa obrigação, cientistas políticos, não consiste num resultado certo e determinado, mas sim, nos meios empregados. E é aí que a Teoria dos Jogos entra para apoiar a democracia brasileira.

Perguntas “simples” como “vai ter impeachment no Brasil?” não seriam respondidas nem positiva, nem negativamente. A ajuda da ciência política será para apresentar todas as combinações estratégicas possíveis, acalmando o STF e o cidadão brasileiro.

Caro Barroso, a ciência política não irá curar a democracia brasileira, mas ajudará a prescrever um conjunto de conceitos para a compreensão das manobras políticas. O objetivo não é resolver questões, mas ordenar o pensamento estratégico. “Simples” assim, como 2 + 2 na matemática...

Então, finalmente, o que a Teoria dos Jogos tem a dizer sobre o impeachment no Brasil: 

1 - Que desembarque significa sair da embarcação. A volta dos que não foram deveria ser tema de filme, sem base em fatos reais;
2 - Que estamos diante do anúncio do 2º dia do Fico brasileiro. Seja na Casa Civil, da Mãe Joana ou de Chapéu, apressar publicamente um Tribunal Constitucional não é pouca coisa não;
3. Que o 4º poder brasileiro preferiu divulgar outros tipos de tubarões fantásticos, lavados em água salgada, já que os de lava-chato, não estão dando mais tanta audiência.
4. (…) Enfim, talvez algum cientista político “pensasse” como o ministro Barroso: “O problema da política brasileira agora é a falta de alternativa. Não tem para onde correr, isso é um desastre. Numa sociedade democrática, política é gênero de primeira necessidade. A política morreu. Talvez eu tenha exagerado, mas está gravemente enferma. É preciso mudar”; e, este mesmo cientista político “dissesse”, por dever de cátedra, que: a saída para a nossa democracia brasileira é: “accountability”, controle, transparência, prestação de contas e participação. 

O ministro está apelando para Deus, e a ciência política para o “povo” e para as instituições públicas. O jogo não acabou; e do pescoço para baixo, não é canela, ou seja, não vale tudo! 


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