Impeachment Votação teve placar elástico a favor do impeachment Saiu de Pernambuco o golpe fatal de Dilma, derrotada por mais de dois terços da Câmara dos Deputados

Por: Aline Moura - Diario de Pernambuco

Publicado em: 18/04/2016 07:12 Atualizado em:

Pernambuco, que deu vitória a Dilma Rousseff nas eleições presidenciais de 2014, teve um protagonismo único na votação que abriu o segundo processo de impeachment do Brasil desde a redemocratização. Às 23h07 de um domingo de abril, dia 17, o ex-líder da minoria e deputado federal Bruno Araújo (PSDB) disse “sim” ao afastamento da presidente, sendo o voto mais comemorado da Casa, o de número 342. O sim do tucano selou os dois terços de votos necessários para a Câmara autorizar o Senado a iniciar o processo de cassação. Bruno discursou chorando e depois foi carregado nos braços. Comemorava um placar que se anunciava elástico. Foram 367 votos a favor do impeachment, 137 contrários, sete abstenções e duas ausências. A maior derrota do partido que governa o Brasil desde 2002. 

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“Quanta honra o destino me reservou, de poder, da minha voz, sair o grito de esperança de milhões de brasileiros. Pernambuco nunca faltou ao Brasil. Eu carrego comigo a história de luta pela liberdade e pela democracia e por isso eu digo ao Brasil sim para o futuro”, declarou Bruno. 

De olhos e rosto vermelhos, o vice-líder do governo na Câmara, Silvio Costa (PTdoB), falou pouco antes de votar, esgotado. Ele, que se destacou como um dos maiores defensores da presidente, saiu chorando do Congresso. Chorou as lágrimas que conteve ao discursar e que seus opositores gritavam enquanto ele se dirigia ao microfone: “sem choro, sem choro”.

O deputado Eduardo da Fonte (PP), herdeiro de Severino Cavalcanti, negociou o voto até a última sexta. Ficou acuado quando disse que seu filho menor de idade iria anunciar o seu voto aos brasileiros, sendo impedido por outros parlamentares. Já os votos da deputada Luciana Santos (PCdoB) e do deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB) resumiram o posicionamento de outros em plenário. Luciana votou “não” e disse que havia um “réu” conduzindo o impeachment, enquanto Jarbas disse “sim”, porém externou o “desconforto” por Cunha presidir a sessão. 

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fez de tudo para que a sessão fosse transmitida num domingo, mas teve a imagem tão arranhada quanto a de Dilma, ou mais. Foi chamado de réu, ladrão, chefe da corrupção, conspirador e de diabo. Antes de ouvir a maior parte dos ataques, inclusive, ele fez um rápido discurso e disse “sim” ao impeachment. “Que Deus tenha misericórdia dessa nação, eu voto sim”, sendo vaiado pela plateia, a mesma que também vaiava quando um dos deputados começava a citar as acusações que pesavam contra ele e diziam que haveria um acordo para engavetar a Lava-Jato. 

Extremos
Dois votos também provocaram polêmica pelos extremos. O  de Jean Wiyllys (PSol) e o de Jair Bolsonaro (PSC). Depois de ter o braço puxado por Bolsonaro antes de discursar, Willys ficou exaltado, chegando a chamar os oposicionistas de “canalhas”. “Estou constrangido de participar dessa farsa”, disse ele, para depois cuspir na cara de Bolsonaro, este que pouco antes, elogiou o general Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), conhecido pelas torturas durante o regime militar (1964-1985). “Perderam em 1964, perderam em 2016… Pelo coronel Ustra, o pavor de Dilma, pelo exército de Caxias, pelas forças armadas e por Deus”, disse Bolsonaro, ao fazer uma comparação entre o golpe de 1964 e o impeachment. 

Na votação, ainda, Dilma enfrentou o peso do voto evangélico, considerado o mais conservador. Toda a bancada do PRB, partido liderado por Edir Macedo, votou a favor do impeachment e as palavras “família” e “Deus” foram as mais usadas por eles na Casa. 

O tamanho da derrota foi tratada como vingança por nomes da política que perderam nas urnas ou tiveram familiares derrotados pelo PT, como Heráclito Fortes (PSB-PI), Arthur Virgílio Bisneto (PSDB-AM), Pedro Cunha Lima (PSDB/PB), Cristiane Brasil (PTB-RJ), esta última filha do deputado Roberto Jefferson, que detonou o processo do mensalão. O filho do ex-ministro e petista José Dirceu, Zeca Dirceu, defendeu Dilma, por sua vez, mas não mencionou o nome do pai. 

O placar, contudo, vale reflexão para o governo, que tem menos de um terço dos parlamentares e uma governabilidade comprometida. Mas as negociações pouco republicanas de bastidores mostram que ainda é distante a limpeza ética tão desejada pelos manifestantes (seja de esquerda ou direita). A sessão demorou mais de dez horas. Terminou às 23h49 e entrou para a história.
 
Placar do impeachment
513 deputados compõem a Câmara dos Deputados
367 deles votaram em favor do impeachment
137 foram contra o impeachment
7 se abstiveram
2 faltaram à sessão de ontem
9h50 foi o tempo que durou a sessão de ontem
23h07 foi a hora do voto que decretou a vitória
 
Caminho no Senado
Aberto o processo de impeachment, ele segue em até dois dias para análise do Senado. Então será uma criada comissão de senadores –  não há prazo definido em lei para isso – que tem 10 dias para emitir o parecer. Se o parecer for contrário à continuidade e também aprovado em plenário, extingue-se o processo. Caso ele seja favorável ao prosseguimento do processo, forlevado ao Plenário do Senado e aprovado, instaura-se o processo. Basta maioria simples da Casa, 41 dos 81 parlamentares.

Diante de processo instaurado, Dilma deve se afastar do cargo por 180 dias, e o vice Michel Temer assume. A oposição acredita que isso possa ocorrer na primeira semana de maio A votação no Senado, desta vez, é comandada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e exige votos de dois terços (54 dos 81 senadores) para a condenação. Começam os interrogatórios e apresentação de provas. Dilma pode ser ouvida pelos senadores, mas não é obrigada a comparecer. Não há prazo definido para essa fase. Ao fim, defesa e acusação apresentam as alegações finais em 15 dias Em caso de absolvição, a presidente reassume o mandato de imediato. Se condenada, a presidente  é automaticamente destituída  e o vice, Michel Temer, assume até o fim do mandato. Dilma Rousseff ficará então 8 anos sem poder exercer cargo público.


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