Como antigamente Brasil, o reino da mordomia Mais de 200 anos depois de Dom João VI chegar ao Brasil, o país vive uma espécie de monarquia sem coroa, com mordomias parecidas.

Por: Aline Moura - Diario de Pernambuco

Publicado em: 01/11/2015 16:44 Atualizado em: 01/11/2015 19:48

Acima, um típico apartamento de um deputado na Suécia Foto: Cláudia Wallin, blog Cartas da Suécia (Acima, um típico apartamento de um deputado na Suécia)
Acima, um típico apartamento de um deputado na Suécia Foto: Cláudia Wallin, blog Cartas da Suécia

O rei Dom João VI, que governava Portugal desde 1792, chegou ao Brasil em 1807. Fugia das tropas do francês Napoleão Bonaparte, que cercavam seu país, e trouxe toda a corte para o Rio de Janeiro. Mais de 200 anos depois, o Brasil vive uma espécie de monarquia sem coroa, com mordomias parecidas. Quase todos os políticos e juízes têm privilégios de nobres, bem distantes da realidade do povo. Assemelham-se à antiga aristocracia brasileira, que atravessou o oceano em 15 navios enquanto a plebe ficou em meio à guerra. O Brasil já teve momentos piores, mas ainda é o inverso de um reino distante chamado Suécia, na Europa, onde políticos não se tratam como “excelências”.

A experiência política de brasileiros e suecos é retratada no livro Um país sem excelências e mordomias e no blog Cartas da Suécia, ambos da jornalista Cláudia Wallin. Aos nossos olhos, parece que eles vivem numa realidade paralela. Na Suécia, os deputados moram em minúsculos apartamentos, que vão de 16 m2 a no máximo 45,6 m2 e sem direito a motorista particular. Ganham cerca de US$ 9 mil de salário, 50% a mais do que os professores, e recebem uma diária que só dá para comprar uma pizza e um refrigerante caso decidam visitar suas bases. Quando algum anda de táxi e paga com dinheiro público, vira manchete.

No Brasil, apartamentos funcionais de deputados têm banheira de hidromassagem (Carlos Vieira/CB/D.A Press)
No Brasil, apartamentos funcionais de deputados têm banheira de hidromassagem
Naquele país, cujo primeiro ministro (Anders Borg) mora num apartamento de 25 m2 e passa suas próprias roupas, juízes que exercem com ética o seu trabalho não se transformam em heróis ao estilo Batman nem tão pouco têm salários maiores do que determina a lei. Na Suécia, magistrados vão de bicicleta ao trabalho, parlamentares varrem a própria casa, e coletores de lixo conseguem comprar residência com piscina.

Era isso que você imaginava de uma monarquia construída na terra dos “bárbaros vikings”? Segundo o doutor em sociologia e professor da Universidade Mackenzie, Rogério Baptistini, os países escandinavos se destacam como democracias por terem uma sociedade mais igualitária do ponto de vista econômico e social, onde há uma maior distinção entre o indivíduo e a pessoa. “Pessoa é um ser sociológico. Eu, Rogério, sou uma pessoa, tenho meus gostos, mas, quando saio à rua, sou indivíduo e tenho que me comportar de acordo com as regras do estado. Para fazer essa passagem de pessoa para o indivíduo, eu tenho de ter uma cultura pública muito forte”, disse.

Rogério Baptistini cita o passado do Brasil para diferenciá-lo de outros países. Segundo ele, os europeus passaram por três revoluções - a industrial, a política (na França) e a religiosa - para se terem democracias mais maduras. O contrapeso brasileiro é uma história de escravidão e de revoluções que foram cedidas e não conquistadas, como o grito de Independência. Segundo Baptistini, o regime escravocrata trouxe graves consequências. “Numa cidade do interior, um político ou grande empresário que faz um benefício social é visto como um deus. Os homens da elite são vistos como um doador. É difícil uma sociedade onde a gente não enxerga o outro como igual diante da lei”.



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