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EXPOSIÇÃO

Exposição "Casa de Farinha - Mandioca, O Pão da Terra" integra Circuito Fenearte

Mostra reúne arte, cultura e saberes populares em torno da mandioca a partir desta quinta-feira , no Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda

Allan Lopes

Publicado: 17/07/2025 às 15:08

Mostra

Mostra "Casa da Farinha" (Foto: Luciana Dantas/Retrografie/FemininoFarinha)

Dentro das ações do Circuito Fenearte, o Centro Cultural Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda, recebe, a partir das 19h desta quinta-feira (17) até o dia 24 de agosto, a exposição “Casa de Farinha - Mandioca, o Pão da Terra”. Com curadoria do antropólogo e jornalista Bruno Albertim e da gastróloga e assessora de Gastronomia da Secretaria de Cultura de Pernambuco, Dianne Sousa, a mostra multimídia trata dos aspectos socioculturais da farinha de mandioca, um dos ingredientes de maior importância identitária na cultura pernambucana e brasileira.

“O mais popular derivado da mandioca é aquela farinha que a quase totalidade das populações originárias lançava à boca ainda antes da colonização – estamos falando, portanto, de um ingrediente com mais de 500 anos de consagração. Diante de pedaços de peixe cru ou moqueado, jogava-se, literalmente, para dentro da cavidade bucal, pequenos bocados de farinha”, diz Albertim. “A farinha de mandioca, em Pernambuco, passa por processos de investigação para possível patrimonialização”, destaca Dianne.

A farinha, portanto, é um produto de inigualável significado histórico e culinário. Para Gilberto Freyre em sua poética sociológica, o pirão, feito do caldo de alguma carne ou peixe engrossado com farinha de mandioca, seria “o mais brasileiro dos pratos". No século 16, a farinha enchia os porões das caravelas que regressavam a Portugal. Era farnel de reforço. Cachaça e tecidos eram moedas de escambo na compra de africanos escravizados. Por vias perversas, foi também a farinha responsável pela formação étnico-cultural do Brasil. “A farinha é a camada primitiva, o basalto fundamental na alimentação brasileira”, sentenciou o etnógrafo potiguar Luís da Câmara Cascudo, autor do clássico “História da Alimentação no Brasil”.

Um dos destaques da exposição é o conjunto de engenhos e instrumentos seculares para o processo artesanal da farinha mantidos pelo Centro de Pesquisas Históricas e Cultura Popular - Museu Carlos Cleber, na cidade de São Caetano, Agreste de Pernambuco.

Numa estrutura cenográfica arrojada, desenvolvida pelos arquitetos Isac Filho, Amanda Piquet, Lucio Omena e Peu Carneiro, a exposição traz, no pavilhão central do Eufrásio Barbosa, uma reprodução de uma casa de farinha tradicional e, além dos utensílios históricos para a produção de farinha, vídeos e fotografias relevantes nesse universo do saber-fazer. Entre elas, fotos ampliadas da fotógrafa e documentarista Luciana Dantas, autora do projeto Feminino Farinha, sobre o protagonismo de mulheres na produção artesanal dos corredores de farinha do interior de Pernambuco. “Com a industrialização dos processos, a produção artesanal acabou por se concentrar nas mãos de mulheres cujas histórias de vida se confundem com a história da farinha”, ela diz.

A exposição, cuja identidade visual é de André Santana, conta também com a exibição do vídeo-documentário "Farinhada Afroindígena", proposto por Verônica Fernandes, com direção de Fausto Paiva, sobre a produção e tradições do Mestre Seu Lôro, do Ecosítio Catimbau, no Sertão pernambucano. Em cartaz até o dia 24 de agosto, a mostra tem produção de Erika Gonçalves e produção executiva de Cíntia Couto.

 

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