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EXPLORAÇÃO SEXUAL

Nordeste é a região mais vulnerável à exploração sexual infantil nas estradas, aponta pesquisa com caminhoneiros

Levantamento com 620 caminhoneiros mostra queda histórica no envolvimento com crianças exploradas sexualmente, mas destaca que Nordeste e Norte seguem sendo pontos críticos

Adelmo Lucena

Publicado: 26/11/2025 às 16:22

Norte segue no topo das regiões consideradas mais vulneráveis à atuação de redes criminosas e à exploração sexual/Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Norte segue no topo das regiões consideradas mais vulneráveis à atuação de redes criminosas e à exploração sexual (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

A nova edição da pesquisa “O Perfil do Caminhoneiro Brasileiro”, feita pela Childhood Brasil, identificou o que o Nordeste continua sendo percebido pelos motoristas como a região com mais casos de exploração sexual de crianças e adolescentes (ESCA) nas estradas brasileiras.

O levantamento, o maior já realizado pela série histórica, com 620 caminhoneiros entrevistados em todas as regiões, destaca que a vulnerabilidade permanece elevada no território nordestino, ao lado do Norte do país, que aparece logo em seguida nesse mapa de risco.

Embora o estudo não traga porcentagens específicas por região, o Nordeste é citado com frequência pelos próprios caminhoneiros nos relatos em profundidade. Um motorista de Camaçari (BA), por exemplo, relatou que ainda vê crianças e adolescentes nas paradas, especialmente “quando sobe mais pro Norte e Nordeste”, indicando que os corredores rodoviários nordestinos seguem no foco do problema.

“Ainda se vê meninas por aí, especialmente quando sobe mais pro Norte e Nordeste, mas eu vejo que, nos últimos 20 anos, tem diminuído, principalmente com caminhoneiro. Antes, era descarado mesmo”, disse um caminhoneiro de 65 anos natural de Santos, em São Paulo.

Além disso, 54% dos motoristas afirmam ainda ser comum ver meninas menores de 18 anos exploradas sexualmente, enquanto 43% relatam presenciar casos envolvendo meninos, índices elevados e que preocupam especialistas que acompanham a série desde 2005.

A região também esteve entre as bases de coleta presencial do estudo, com equipes entrevistando caminhoneiros em Itabaiana e Aracaju (SE) e em Camaçari (BA), permitindo análises mais precisas sobre a dinâmica local do transporte rodoviário.

Apesar da persistência dos pontos críticos nordestinos, a pesquisa aponta que 96% dos caminhoneiros afirmam não ter se envolvido com crianças e adolescentes nos últimos cinco anos, o maior índice já registrado na série. Em 2005, apenas 63% diziam não ter cometido esse crime. Em 2021, o índice já havia subido para 90%, e agora alcança seu melhor patamar.

Ao mesmo tempo, entretanto, há sinais de estagnação, uma vez que 54% ainda consideram comum ver meninas exploradas e 43% admitem ver meninos em situação semelhante nas estradas, proporções ainda muito altas para duas décadas de monitoramento. Entre 2021 e 2025, as variações foram pequenas, o que mostra que a queda no envolvimento não necessariamente significa redução do fenômeno nas rodovias, especialmente no Nordeste e Norte.

O estudo também revela um aumento na percepção da exploração de meninos, um salto de 32% para 43% entre as duas últimas edições.

Norte e Centro-Oeste compartilham rota de alto risco

Além do Nordeste, o levantamento mostra que o Norte segue no topo das regiões consideradas mais vulneráveis à atuação de redes criminosas e à exploração sexual em rodovias. A pesquisa também dedicou especial atenção às rotas do agronegócio no Centro-Oeste, com bases de coleta em Rondonópolis e Sinop (MT), onde o escoamento de grãos forma um dos corredores mais movimentados do país, e onde a ociosidade e o tempo parado para carga e descarga são fatores que favorecem riscos associados à ESCA.

Já Sudeste e Sul, embora apresentem melhor infraestrutura, também aparecem na pesquisa como áreas de preocupação, sobretudo em cidades portuárias como Santos e Paranaguá, onde circulam grandes volumes de carga e motoristas passam muito tempo em filas de espera e pátios, ambiente propício para o avanço de redes de exploração sexual, inclusive digital.

A pesquisa também aborda a migração crescente da exploração sexual infantil para o ambiente digital. O número de caminhoneiros que receberam propostas de programas sexuais com menores via internet subiu de 6,7%, em 2021, para 9,5%, em 2025. Além disso, 7,7% afirmaram já ter visto conteúdo sexual envolvendo crianças e adolescentes on-line, especialmente em plataformas como Telegram e X (antigo Twitter).

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