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GRUPO CRIMINOSO

CV, PCC e GDE: Preso em Exu já teve nome ligado a três facções diferentes

Wendel Martins Vieira, vulgo Mac, que foi preso em Exu, no Sertão de Pernambuco, na quinta-feira (30), é apontado atualmente como líder do CV

Jorge Cosme

Publicado: 04/11/2025 às 17:11

Momento da prisão de Wendel Martins Vieira em Exu./Foto: Divulgação/PCPE

Momento da prisão de Wendel Martins Vieira em Exu. (Foto: Divulgação/PCPE)

Na última quinta-feira (30), forças de segurança de Pernambuco e Ceará prenderam Wendel Martins Vieira, conhecido como “Mac”, de 27 anos, em um sítio de Exu, no Sertão de Pernambuco. Segundo a Polícia Civil, ele é suspeito de liderar a facção criminosa Comando Vermelho (CV) em Fortaleza.

O Diario de Pernambuco apurou, entretanto, que essa é a terceira facção atribuída ao suspeito, que já tinha outras passagens pela cadeia. Em investigações anteriores, realizadas apenas nos últimos cinco anos, Mac é citado pela polícia ora como integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC), ora dos Guardiões do Estado (GDE) – grupos criminosos que rivalizam com o CV.

À Justiça, a Polícia Civil de Pernambuco afirmou, após a prisão na semana passada, que Mac é um “indivíduo de alta periculosidade” e estaria envolvido em homicídios e tráfico de drogas. Também haveria indícios de que “ocupa posição de liderança na organização criminosa denominada ‘Comando Vermelho’”.

A informação foi reiterada pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) em audiência de custódia. De acordo com a promotoria, o mandado de prisão contra o suspeito decorre de investigação que o aponta como integrante do CV. Pela facção, ele é suspeito de chefiar atividades criminosas no bairro Bom Jardim, na capital cearense.

PCC

Em março de 2020, Mac já havia sido preso em flagrante por estar em posse de uma pistola, então de uso restrito, em Fortaleza. Na ocasião, o suspeito tinha o nome associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), rival histórico do CV.

Por esse caso, ele foi condenado a quatro anos de reclusão, em regime aberto, no Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE). A sentença foi proferida em 18 de dezembro de 2020.

O suposto envolvimento de Mac com o PCC está citado na sentença, à qual a reportagem teve acesso. Um trecho do documento também destaca o depoimento de um policial, segundo o qual o preso teria confessado ser integrante de “facção criminosa” – sem, no entanto, especificar qual.

"Naquela ocasião, uma equipe da brigada militar recebeu uma denúncia de que um indivíduo, denominado por ‘Wendel’, integrante da facção criminosa PCC, estaria na posse de armas de fogo, na companhia de outros três comparsas, sendo tal pessoa, responsável por alugar armas de fogo a outros integrantes da mesma facção criminosa", diz a sentença.

GDE

Mac é acusado, ainda, de participar de um ataque que matou Marlisson Saraiva Rodrigues e feriu outras três pessoas em Bom Jardim, em Fortaleza, no fim de 2024.

Nesse processo, o suspeito foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por homicídio qualificado. Segundo a promotoria cearense, Mac e os comparsas seriam integrantes da facção Guardiões do Estado (GDE), oriunda do Ceará, que disputa territórios justamente com o CV.

O MPCE aponta, ainda, que o crime teria acontecido porque a vítima havia “rasgado a camisa” – termo usado no mundo do crime para indicar que alguém trocou de facção. “[O ataque foi] motivado pela migração da vítima Marlisson da facção Guardiões do Estado (GDE) para o Comando Vermelho (CV), fato considerado afrontoso pela GDE”, relata.

Segundo os autos, a comunidade onde ocorreram os crimes era anteriormente dominada pela facção GDE, porém teria sido tomada pelo CV. "Desde então a região tem sido alvo de constantes ataques por membros da facção Guardiões do Estado (GDE), vindo da 'Favela dos Canos'".

Fato incomum

Para o professor Luiz Fábio Paiva, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), a suposta trajetória de Wendel, que teria migrado por três facções diferentes em pouco tempo, é “incomum”.

"Há muito essa coisa do laço de fidelidade. Quando você ‘rasga a camisa’, isso muitas vezes traz implicações, custando até a sua vida, porque aquele grupo que você era vinculado busca se vingar", diz Paiva.

O pesquisador, entretanto, destaca o cenário fragmentado de facções no Ceará – o que, em tese, facilitaria a mudança entre grupos.

"A gente sempre teve uma lógica muito fragmentada. Algumas frentes aparecem e desaparecem”, explica. “O cara muitas vezes está em um território em que há mudança de controle e vai, estrategicamente, rasgar a camisa para poder se vincular ao grupo no controle."

Para o pesquisador, há ainda a possibilidade de as investigações policiais serem frágeis na hora de identificar em qual facção, de fato, atua um criminoso.

"A investigação é sempre prejudicada. Você [o criminoso] dizer que é de uma facção pode incidir em um agravante [aumento de pena], então o comum é que você esconda sua vinculação. A investigação está sempre tentando lidar com algo que as pessoas querem esconder", afirma.

A reportagem procurou as polícias Civil de Pernambuco e do Ceará para questionar se haveria indícios de que Mac trocou de facções nos últimos cinco anos ou se houve algum erro no apontamento de qual grupo criminoso ele faria parte.

A Polícia Civil de Pernambuco reiterou apenas ter realizado a prisão do suspeito, sem responder as indagações. Até a publicação da reportagem, a Polícia Civil do Ceará não respondeu.

Momento da prisão de Wendel em Exu:

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