Em depoimento, PMs afirmam que viram mulher com subtenente acusado de estupro em posto do BPRv
Mulher diz que foi estuprada após ter carro parado em blitz no Cabo de Santo Agostinho
Publicado: 15/10/2025 às 15:35

Posto do BPRv no Cabo (Reprodução/Google Maps)
Dois policiais militares do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) deram depoimento confirmando que viram, dentro do posto policial, a mulher de 48 anos que denuncia ter sido vítima de estupro durante blitz e o subtenente suspeito do crime. Os depoimentos constam no Inquérito Policial Militar (IPM) ao qual o Diário de Pernambuco teve acesso.
Segundo a vítima, ela foi parada em uma blitz na noite da sexta-feira (10) e levada para um quarto onde funciona o BPRV no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. Ela relata que foi estuprada enquanto outros dois militares estavam de plantão. A Secretaria de Defesa Social (SDS) divulgou que o trio foi afastado durante as investigações.
Na terça-feira (14), um soldado e um 3º sargento prestaram depoimento sobre o ocorrido. O subtenente acusado do estupro não foi ouvido após apresentar atestado médico.
O que dizem os policiais
Um 3º sargento do BPRv, que também estava no posto, conta em depoimento que viu o subtenente receber a documentação da mulher enquanto era realizada abordagens a veículos.
"Nesse momento o ST Valério (subtenente) se dirigiu ao posto com a denunciante", ele conta.
Segundo seu relato, ele viu a mulher sentada no balcão na frente do posto. Após concluir as abordagens, ele avistou a mulher saindo sozinha de dentro do posto com um copo de água na mão. O 3º sargento acrescenta que ela não falou nada e que ele não viu sinais de nervosismo.
"Pouco tempo depois, o subtenente saiu do posto, porém não falou nada a respeito da abordagem, apenas fez comentários do cumprimento do quarto de hora", diz.
O militar também afirma que civis não costumam entrar no posto, apenas quando pedem para usar o sanitário. Ele complementa que existe uma determinação do comandante da unidade para que não entre pessoas não autorizadas.
Um soldado do BPRV disse em seu depoimento que estava de motorista do subtenente acusado de estupro na data do ocorrido.
No período noturno, ele se dirigiu ao posto 6, na PE-60, para realizar abordagens a veículos dentro da Operação Venari. Ele diz que foi responsável por parar o carro da mulher.
De acordo com o depoimento, ele pegou a documentação dela e entregou ao subtenente, continuando abordagens a outros veículos com o 3º sargento.
Segundo o soldado, ele chamou o sargento para sentar em um banco em frente ao posto. "Quando chegou lá, visualizou a denunciante saindo de dentro do posto com um copo de água na mão e, em seguida, saiu o subtenente", diz o documento.
O soldado diz que não sabe precisar o tempo que o subtenente e a mulher permaneceram dentro do posto, porém deu tempo para ele abordar três veículos. "No procedimento de abordagem costuma verificar as documentações do veículo e do condutor, solicitar que o condutor saia do veículo para acompanhar revista na mala e, estando tudo certo, o condutor é liberado".
Ele acrescenta que não sabe se civis podem entrar no posto, pois não trabalha diretamente nestes locais.
Perguntado sobre a estrutura interna do posto de policiamento, o soldado descreveu que contém uma sala com bebedouro, banheiro, cozinha, alojamento feminino externo e alojamento masculino interno.
No depoimento, ele conta que não se recorda se havia outras pessoas no veículo e que o subtenente não comentou sobre a abordagem. "Ficou mexendo no celular e depois de um tempo o chamou para ir ao batalhão".
O subtenente não prestou depoimento. Segundo documento apresentado, ele se deslocava à delegacia também na terça-feira (14) quando sofreu um acidente de motocicleta, o que lhe causou uma lesão na coluna e um afastamento de três dias de licença para tratamento de saúde, segundo atestado médico.
A subcomandante geral responsável pelo inquérito policial militar, Luciana de Oliveira Moraes, determinou o comparecimento do acusado para a próxima sexta-feira (17) às 16h.
A denúncia
Na segunda-feira (13), a vítima declarou à Corregedoria Geral que estava transitando no sentido praia de Gaibu acompanhada de uma amiga que havia ido buscar duas filhas menores no aeroporto.
Ela lembra que foi abordada por três policiais militares. Ela apresentou a habitação e chegou a mostrar a mala do veículo.
Um dos policiais, em seguida, teria a chamado para acompanhá-lo. Ele informou que havia débitos no veículo referente ao licenciamento e mais uma multa.
A mulher desconhecia os débitos e chegou a telefonar para o vendedor do veículo, que informou que só poderia resolver a situação na semana seguinte.
"Em seguida o acusado falou para os dois policiais 'ela vai beber água'". Segundo a vítima, o policial a levou para um cômodo, onde ocorreu o abuso sexual.

