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Com aulas de yoga e até show de famosos, corridas de rua viram febre no Recife

Repleta de atrativos, as corridas de rua devem crescer até 40% neste ano em Pernambuco, segundo a Federação.

Camila Estephania

Publicado: 13/09/2025 às 05:00

Atletas recifenses participam de corridas motivados não só pelo esporte, como também por diversas atrações. /Divulgação/Meia Maratona do Recife

Atletas recifenses participam de corridas motivados não só pelo esporte, como também por diversas atrações. (Divulgação/Meia Maratona do Recife)

Turbinadas com coreografias, personagens infantis e até shows de artistas famosos, as corridas de rua têm se tornado cada vez mais comuns no Recife. Somente neste final de semana, quatro provas foram autorizadas pela Federação Pernambucana de Atletismo (Fepa), responsável por fiscalizar eventos da modalidade no estado.

Na “Desbrava”, corrida organizada pela Centauro neste domingo (14), o diferencial eram as aulas de fitdance. Já na “Deep Box Run”, na Avenida Caxangá, os participantes podem participar de atividades de yoga. Segundo organizadores de corridas, as atrações fazem parte da estratégia de cativar os diferentes tipos de atletas para os eventos.

Em 31 de agosto, a corrida “100% Você”, promovida pelo cantor Bell Marques e seus filhos, Pipo e Rafa Marques, chegou a reunir 7,5 mil inscritos no Recife. Contando com as pessoas que correram na “pipoca” – ou seja, sem se inscrever no evento – o público foi de 10 mil pessoas.

Após a corrida, realizada em trajetos de 5 e 10 quilômetros, os participantes assistiram a mais de 3 horas de show com os baianos. Para muitos corredores, a apresentação foi a principal motivação.

“Já estou procurando o próximo! Mas só quero se tiver festa no final”, comenta a representante comercial Renata Rodrigues, que acabou se interessando mais pelo esporte a partir da experiência. “Achei ótimo o fato do show ser cedinho, pois pude me divertir à vontade em um domingo, com a vantagem de já estar em casa às 12h e descansar o dia todo para começar a semana.”

Corrida e cerveja

A preferência do público por atividades diurnas também se refletiu no crescimento da corrida anual da cervejaria pernambucana Duvália. “Muita gente elogia porque, agora, considera muito melhor sair de dia do que de noite”, diz Mário Acioli, diretor da marca, que vem observando a mudança de hábitos do público desde o fim da pandemia da Covid-19.

A última edição da corrida da marca aconteceu no mês passado e esgotou os 700 ingressos. O principal incentivo para os participantes cruzarem a linha de chegada foram os shows regados a cerveja.

“A ideia é beber menos e beber melhor, ao mesmo tempo que faz amizades e uma atividade esportiva. A gente recebe muitos depoimentos de gente que começou a correr depois da nossa experiência”, destaca o empresário.

Treinador e sócio da assessoria de corrida Recife Runners, que soma 700 alunos, Rafa Monte afirma que os momentos de celebração e conexão entre pessoas têm transformado a corrida em ponto de encontro. “Esses eventos criam uma experiência diferente, que agrada desde os corredores mais experientes até quem está lá pela primeira vez”, observa.

 

Para o presidente da Fepa, Fagner Barros, a avaliação é positiva. “Enquanto profissional de educação física, vejo que se cria uma cultura da importância do exercício físico. Como gestor, vejo como um fator importante para que a gente consiga evoluir na modalidade. A corrida é o carro chefe do atletismo e com o sucesso desses eventos, a gente consegue fomentar o esporte”, diz.

Marketing

“Estamos comemorando 100 anos de São Silvestre neste ano e hoje, através desses formatos mais modernos, defendemos que temos, pelo menos, mais 100 anos de corridas de rua no Brasil”, aposta Ricardo Ramalho, diretor da BRB Marketing Esportivo.

Há 13 anos, a empresa é responsável pela produção de diversas corridas de rua da região Norte e Nordeste, como a “Corra Por uma Causa”, da cantora Zélia Duncan, marcada para o dia 5 de outubro, em Fortaleza. Na mesma data, a BRB também organiza o “Circuito Granado Pink”, ligado à empresa de perfumaria, no Recife.

Na programação, estão previstas ativações de produtos da marca, massagens e totens de fotos. No ano que vem, o grupo também planeja trazer para a capital pernambucana a corrida do Bob Esponja, com mascotes licenciados do desenho e brincadeiras para as crianças. A proposta é mobilizar famílias inteiras.

Ricardo acredita que o esporte se tornou um ótimo aliado para marcas e artistas de vários segmentos impactarem o público. “As corridas de rua oferecem o contato que as marcas precisam, promovem integração, levam uma legião de fãs. Todo mundo sai ganhando, porque é uma experiência duradoura, as pessoas seguem praticando o esporte e usando o que ganhou nos eventos, dando visibilidade para as marcas”, analisa.

Diversão levada a sério

Mesmo com proposta mais festiva, as corridas devem atender a uma série de exigências para receber o “permit” – documento que dá aval para a realização de provas na rua. Todos os eventos citados nesta reportagem, por exemplo, foram autorizados pela Fepa.

Fagner Barros recomenda que os atletas consultem o calendário de corridas disponível no site da instituição para saber quais eventos estão legalizados. “O número de corridas tem crescido demais e rola alguns conflitos, porque alguns organizadores não querem seguir as normas. Eles querem fazer corridas sem elementos obrigatórios, como plano médico, plano de seguro de vida, pontos de hidratação. A corrida não é só a estrutura”, alerta.

Uma pesquisa da Associação Brasileira de Organizadores de Corridas de Rua e Esportes Outdoor (Abraceo), publicada em abril, dá a dimensão do problema a nível nacional: 66% das provas realizadas no país em 2024 não tinham o “permit”.

“As pessoas que se propõem a ir nesses eventos clandestinos correm risco de levar um calote ou até mesmo de acontecer alguma intercorrência e não ter assistência”, completa Fagner.

Os organizadores das corridas também devem apresentar liberações dos órgãos municipais que cuidam do trânsito e do controle urbano das cidades. Considerando apenas as corridas legais, ele diz que Pernambuco já apresenta um crescimento de 30% em relação a 2024, podendo chegar a 40% até dezembro deste ano.

Os números ficam um pouco acima da média de crescimento nacional. Segundo o relatório da Abraceo, as corridas aumentaram 29% em todo o Brasil, em 2024.

Dicas para iniciantes

Tantas propostas de provas têm levado pessoas com diferentes condicionamentos físicos a compartilhar das mesmas provas. O empresário Vinícius Calado, por exemplo, corre há quase 20 anos e participou da “Corrida 100% Você”, ao lado de milhares de pessoas que não praticam o esporte regularmente e fizeram boa parte do percurso caminhando.

“Foi uma corrida complicada para quem foi pensando em performance e teve muita dificuldade em pôr um ritmo forte porque tinha muita gente. Quem participou sem pensar nisso, teve uma experiência bem legal com shows no pós-prova e uma estrutura maravilhosa”, elogia.

Embora parte das corridas não foque na competição, os novos corredores podem tomar algumas atitudes para não atrapalhar quem busca performance. “Para quem está começando ou vai apenas curtir, vale prestar atenção ao comportamento na prova. Na largada, evite sair na frente. Prefira se posicionar mais à direita do percurso e, se for caminhar ou correr com amigos, evite formar ‘paredões’, aquele grupo lado a lado que bloqueia a passagem”, indica o treinador Rafa Monte.

O profissional ainda destaca que a saúde deve vir sempre em primeiro lugar, portanto, cada pessoa deve respeitar os limites do seu corpo. Segundo orienta, o importante é que todos se sintam confortáveis para participar dos eventos, que podem ser a porta de entrada para uma vida mais saudável. “Essa transição pode ser leve e prazerosa”, conclui.

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