Preso por ameaças a Felca falsificava até dívida no Serasa e lavava dinheiro em criptomoeda, diz investigação
Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, de 22 anos, suspeito de ameaçar Felca, foi preso em Olinda
Publicado: 25/08/2025 às 18:49

Cayo Lucas foi preso na manhã desta segunda (25) (Reprodução de vídeo/PCSP)
A Polícia Civil de São Paulo prendeu, nesta segunda-feira (25), em Olinda, Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, de 22 anos, suspeito de ameaçar o youtuber Felipe Bressanim Pereira (Felca). De acordo com a investigação, Cayo seria um dos líderes de uma organização criminosa chamada “Country”, que atua no Telegram e no Discord, envolvida em uma série de crimes.
O Diario de Pernambuco teve acesso à íntegra do relatório da Polícia Civil paulista, responsável por pedir a prisão do suspeito. A defesa do suspeito não foi localizada.
Segundo a investigação, o grupo atuaria com exploração de crianças e adolescentes, com produção, venda e compartilhamento de pornografia. Em outro braço de ação, os criminosos também atacavam sites de governo e ofereciam “serviços” com documentos falsos – como elaboração de mandados de prisão, multas de trânsito e até criação de dívida fraudulenta no Serasa.
A investigação, conduzida pelo Núcleo de Observação de Análise Digital (NOAD), da Secretaria de Segurança Pública (SPP) paulista, começou após ameaças do grupo contra uma especialista em psicologia infantil, que participou de um vídeo de Felca. O youtuber foi responsável por denunciar, nas redes sociais, a prática de “adultização” de crianças e adolescentes.
Ameaças
Uma das ameaças atribuídas a Cayo Lucas, que usaria o codinome “Lucifage”, foi enviada à psicóloga no dia 14 de agosto, pelo WhatsApp. Segundo a investigação, “f4LLEN” era o outro pseudônimo utilizado pelo suspeito.
A transcrição do texto é a seguinte: “Você tem até 23:00 para apagar o seu perfil do Instagram e cortas os laços com o felca. A country vai atrás de TODA a sua família. Sua vadia asquerosa. Está achando que é quem? vou te destruir, vou torcer o teu pescoço e beber teu sangue. Abraços do lucifage (sic)”.
Cinco dias antes, a vítima havia recebido ameaças de morte e de estupro, via e-mail, que motivaram a registrar um boletim de ocorrência. A mensagem foi encaminhada por “Roberto Country”, pseudônimo atribuído a outro suspeito. O autor, que já foi identificado no inquérito, tem 17 anos e mora em Alagoas.
“Você vai morrer sua vagabunda do caralho. Você mexeu em um ninho de abelhas, vamos matar você e a sua família se o Felipe Bressanim Pereira não apagar o vídeo. Você desferir múltiplos golpes de faca na traqueia da sua mãe [cita o nome e o CPF dela] e após isso vou [ameaça de estupro]. Vou torcer seu pescoço e beber o seu sangue. Nos aguarde: country” (sic)”, diz o texto.
Exploração infantil
Segundo a Polícia Civil paulista, o Country teria envolvimento com pornografia infantil. “Eles ameaçam as autoridades que conduzem suas punições, praticam estupros virtuais, provocam a automutilação e o induzimento ao suicídio, são cerca de 400 vítimas em todo país”, diz o relatório.
O inquérito traz dois boletins de ocorrência de meninas que foram ameaçadas pelo grupo. Uma delas, moradora de Santa Catarina, afirma que passou o número pessoal “na inocência”, após ter jogado com Cayo e outro rapaz em um jogo online.
“Eles pegaram todas as minhas informações e começaram a me ameaçar, pedindo fotos minhas e, caso eu não enviasse, disseram que iriam bloquear o meu CPF na Receita Federal”, diz em depoimento.
Em outro boletim, uma pernambucana relata que o grupo ofereceu R$ 1,5 mil para que ela matasse um homem. “Eles queriam que eu entrasse em uma chamada no Telegram e ficasse nua. Ameaçaram fazer mal a mim e a minha família. Já ameaçaram bloquear as contas bancárias de minha mãe”, conta.
Venda de documentos
Segundo a Polícia Civil, Cayo Lucas "se especializou na comercialização de logins governamentais, notadamente de sistemas restritos das Polícias de todo o Brasil, e de sistemas do Judiciário e da Saúde”. Os logins supostamente vendidos incluíam os sistemas “Polícia Ágil" (Pernambuco), "SIPNI" (SUS), "CADSUS", "Analítico" (login da Polícia de São Paulo) e "Cerebrum" (Polícia do Ceará).
Já entre os serviços prestados pelos suspeitos, estariam acessos ilegais de emissão de óbitos junto ao sistema da Receita Federal, inserção de falsos mandados de prisão, aplicação de multas não cometidas e criação fraudulenta de dívidas no Serasa.
Para a venda, ele teria ao menos três contas em nomes de laranjas. Em uma conversa com outro membro do grupo Country, no Telegram, ele explicou como lavava o dinheiro: “Conta laranja, depois manda pra casa de aposta, e saca na chave original que também é laranja”, diz. Na sequência da mensagem, ele também responde que aplicaria o dinheiro em criptomoedas. “De lá já não rastreia mais (sic)”.
Mandado falso contra Felca
O relatório mostra, ainda, que o suspeito pesquisou dados pessoais de Felca e tentou inserir um mandado de prisão falso contra o youtuber.
Em uma conversa atribuída a ele, Cayo anuncia os malotes em um grupo e é questionado se o documento falso não poderia acarretar em problemas: “Da nada. Vão achar que de alguma forma o viadinho lá que subornou alguém para ter investigação (sic)”, responde.
O suspeito teve a prisão temporária decretada pela juíza Carolina Pereira de Castro, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). A magistrada autorizou, ainda, o cumprimento de três mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao suspeito – dois deles no Recife e outro em Gravatá, no Agreste.

