Emprego

Mercado de Trabalho em Pernambuco tenta reequilíbrio

O Estado registrou no último mês de março 1.364 novos postos de trabalho, diante de uma taxa de 11,9% de desemprego no último trimestre de 2023, uma das maiores do país

Publicado em: 01/05/2024 05:25 | Atualizado em: 30/04/2024 22:36

Nas últimas semanas, o Governo de Pernambuco anunciou investimentos privados que, juntos, prometem a geração de novos 62 mil empregos entre diretos e indiretos nos próximos anos. Os números são animadores, diante um cenário ainda desanimador para o mercado de trabalho pernambucano. De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta terça-feira (30), pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em março, o Estado registrou saldo positivo de empregos, com 1.364 novas carteiras assinadas, sendo o melhor resultado para o mês desde 2020. Em contrapartida, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é um balde de água fria para este 1º de maio - data em que é comemorado o Dia do Trabalhador: Pernambuco ainda tem a terceira maior taxa de desemprego do país, com 11,9% - perdendo apenas para os estados do Amapá (14,2%) e da Bahia (12,7%).

 

O índice fica ainda mais elevado quando comparado ao cenário nacional, cuja taxa de desocupação está em 7,9%. Nesse abismo, Pernambuco segue tentando buscar o reequilíbrio do mercado de trabalho, que já esteve no topo do ranking do pleno emprego durante as obras da Refinaria Abreu e Lima e do Estaleiro Atlântico Sul, ambos no Complexo de Suape, no início da última década.

 

 

Rosângela Maria da Conceição busca, há dois meses, oportunidades nas áreas de administração e atendimento (Crédito: Marina Torres/DP Foto)
Rosângela Maria da Conceição busca, há dois meses, oportunidades nas áreas de administração e atendimento (Crédito: Marina Torres/DP Foto)

 

Rosângela Maria da Conceição, de 54 anos, sabe bem o que é a busca pelo emprego com carteira assinada. Há dois meses ela procura por oportunidades nas áreas de administração e atendimento. “Não estou encontrando. O meu desejo agora é partir para o empreendedorismo”, afirma, um pouco desconsolada.

 

A mesma dificuldade é relatada por Leonildo Luiz de Lima, de 48 anos, que segue procurando emprego há 4 meses. “Já trabalhei em diversas áreas como vigilante, porteiro, pintor de obras e jardineiro, mas está difícil. Falta até dinheiro para investir em uma reciclagem”, comenta.

 

Leonildo Luiz de Lima segue procurando emprego há 4 meses (Crédito: Marina Torres/DP Foto)
Leonildo Luiz de Lima segue procurando emprego há 4 meses (Crédito: Marina Torres/DP Foto)
 

 

Diante o cenário, a secretária de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo de Pernambuco (Sedepe), Amanda Aires, explica que a recuperação do mercado de trabalho vem sendo lenta, porque o Estado está se recuperando de uma série histórica de saldos negativos de geração de novas vagas formais, justamente por causa da desmobilização daquelas obras que, anos atrás, alavancaram o desenvolvimento de Pernambuco. “A taxa (de desemprego) ainda é alta, mas existe algo sendo feito para que ela caia sistematicamente, os números já mostram que existe uma tendência de melhora”, pontua.

 

Secretária de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo de Pernambuco (Sedepe), Amanda Aires (Crédito: Marina Torres/DP Foto)
Secretária de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo de Pernambuco (Sedepe), Amanda Aires (Crédito: Marina Torres/DP Foto)
 

 

Amanda diz que uma das soluções para reaquecer o mercado de trabalho no Estado é a qualificação da mão de obra, ou seja, a tal da reciclagem tão esperada por Leonildo. “Temos vagas abertas, mas nem sempre existe o trabalhador com a formação adequada para alcançá-la. Temos feito o trabalho de qualificação profissional, focado nos jovens trabalhadores, a Jornada de Qualificação do Jovem e agora, para o mês do trabalhador, teremos mais qualificações voltadas ao empreendedorismo formalizado e para o mundo do trabalho”, promete.

 

De acordo com a Sedepe, o caminho se mostra promissor. O total de postos de trabalho criados nos três primeiros meses deste ano chegam a 5.709, um aumento de 125,5% em comparação a 2023, quando o Estado obteve 2.532 novas vagas formais.

 

“A tendência de recuperação é promissora, mas é importante acompanhar de perto para avaliar a sustentabilidade desse crescimento”, pondera o economista David Batista.

 

Pernambuco registra ainda 258 mil pessoas desalentadas

 

O Estado registrou, no último trimestre de 2023 o total de 258 mil desalentados, ou seja, aqueles que desejam trabalhar, mas que desistiram de procurar por não terem mais esperanças de entrar no mercado de trabalho. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo, no mesmo período de 2022, esse quantitativo era de 293 mil pessoas.

 

Já no Brasil, de acordo com a PNAD Contínua do IBGE, entre a população de 93,6 milhões fazem parte da população desalentada no primeiro semestre de 2024. Esse valor cresceu 8,7% (mais 293 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior e recuou 7,5% (menos 299 mil pessoas) no ano.

 

"Há 4 anos vinha buscando uma oportunidade, mas está difícil. Desenvolvi depressão por causa disso e, por isso, resolvi parar e cuidar da minha saúde mental. Hoje, faço uns 'bicos' cuidando de pets e vendendo lanches em eventos para ter alguma renda", relata Fernando, cujo último emprego formal foi em 2019, como operador de caixa de supermercado, justamente por não encontrar uma ocupação em sua área de formação.

 

De acordo com o economista Sandro Prado, mesmo com o aumento registrado no número de postos de trabalho no Estado, é importante reconhecer que a persistência dos desalentados ainda é um obstáculo. "É imperativo que políticas e estratégias sejam implementadas para reverter essa tendência e reintegrar esses indivíduos ao mercado de trabalho de forma eficaz e sustentável, visando não apenas a redução da taxa de desocupação, mas também a promoção de oportunidades de emprego digno e produtivo para todos os cidadãos pernambucanos", afirma.

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