MÚSICA
Novo álbum da banda Eddie é um carnaval fora de época
Por: Allan Lopes
Publicado em: 07/07/2023 16:43
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Há 25 anos no circuito da música, Eddie continua se reinventando (Crédito: Clara Gouveia/Divulgação) |
Em paralelo à iminência das prévias carnavalescas, com ensaios e cortejos realizados de setembro e novembro, Carnaval Chanson, primeiro disco de faixas não-inéditas da banda Eddie, emerge como uma declaração de afeto à tradição, ao trazer releituras contemporâneas de melodias clássicas do carnaval pernambucano. Antes da disponibilização nas plataformas digitais, agendada para terça-feira (11), o público presente no Paço do Frevo, na última quinta, conheceu as 13 canções em uma sessão especial, comandada por DJ Urêa e Fabio Trummer.
O décimo álbum da Eddie é integralmente devoto à época momesca, mas transcende suas amarras. “Às vezes parece Jovem Guarda, em outras o pop do The Cure no final dos anos 80”, indica o vocalista e guitarrista Fabio Trummer ao Viver. No compasso do frevo, ou no ritmo cadenciado da marchinha em andamento romântico, “é trilha sonora para a festa de rua e de salão", antecipa o escritor Xico Sá. Trummer explica que a roupagem rítmica das músicas foi remodelada, dando prioridade às letras ofuscadas pelo frenesi. “A gente puxou o ritmo para trás e demos prioridade à canção”.
O cantor pernambucano mergulhou em Carnaval Chanson há exatamente um ano, após acatar a sugestão do produtor Zé Oliveira para lançar um disco voltado ao frevo. De Chapéu de Sol Aberto (Capiba) e Hino do Cariri (autor desconhecido) foram algumas das músicas incorporadas ao disco. “Percebi durante a pesquisa que alguns frevos não são possíveis de encontrar”, lamenta. A escassez demandou a ele puxar as suas lembranças do carnaval. “Tenho a memória afetiva da época, então pensei nisso, de algumas músicas que eu gostava muito. Queria ilustrar pra quem chegou agora”, salienta.
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Carnaval Chanson tem as participações especiais de Isaar e Karina Buhr (Crédito: Reprodução) |
Pensando no diálogo típico entre homens e mulheres nas composições antigas, Trummer convidou Isaar e a ex-integrante Karina Buhr para criar uma atmosfera semelhante. A dupla participa de todas as faixas, as quais se entrelaçam e tecem uma narrativa que transporta os ouvintes a uma nostalgia romântica do período carnavalesco, além da “ressaca dengosa”, como define Xico Sá a melancolia do pós-folia. “É muito difícil as pessoas ouvirem um disco inteiro. Eu chamo isso de minha Disneylândia, que é entrar no estúdio e conceder essas coisas. Me divirto demais, me realizo, faz parte das coisas boas de ser um músico”, confessa o vocalista da Eddie.
É uma estrutura que segue os padrões do disco Original Olinda Style (2003), que é amplamente aclamado pelo público e crítica. “Contamos uma história e, quando você menos espera, acabou. Aí é preciso voltar pro começo e escutar de novo.”, diz Trummer. Carnaval Chanson também coincide com o vigésimo aniversário do álbum dedicado à experiência de vida olindense. Com mais oito álbuns produzidos, o artista enxerga uma evolução significativa no processo criativo do grupo. “Em 2003, a gente identificava nosso diferencial, mas não o tinha sob controle. Desde então, nós adquirimos o controle da nossa diversidade”.
Na visão do cantor, a produção musical brasileira, por outro lado, retrocedeu. Uma das razões, na ótica dele, é o pensamento que enaltece o que vem de fora. “Nós vimos o setor cultural indo ladeira abaixo entre 2013 a 2022. Foi realmente um desfazimento de uma identidade própria e da busca pela autonomia em relação ao mundo. Na minha visão, estamos voltando a ser uma colônia, dando mais valor ao que é de fora”. Ele culpa a “algoritmização” da música no processo. “Os algoritmos mapeiam o que é mais relevante e deve ser mostrado, o que diminui a diversificação”.
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Fabio Trummer rejeita o termo "musicista" para definir a Eddie (Crédito: Clara Gouveia/Divulgação) |
“Não somos musicistas”, afirma Trummer sobre a Eddie. De acordo com o cantor, a flexibilidade da banda traça uma fronteira que impede a criação de hits carnavalescos. “O carnaval e suas tradições impõem regras. A gente costuma fugir dessas regras no samba, rock ou frevo”, declara. Até por serem (músicas) conhecidas, correm o risco de não entrar na calçada da fama do carnaval. Em compensação, vamos nos concentrar em entrar em todas as outras calçadas.”
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