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Política
POLARIZAÇÃO

Polarização traz custo alto à governabilidade

Acordo para garantir que o Executivo possa governar passa por ceder cargos de destaque para partidos que não fazem parte da base do governo

Cecilia Belo

Publicado: 21/07/2025 às 06:00

Esplanada dos ministérios
/Foto: Agência Brasil/EBC

Esplanada dos ministérios (Foto: Agência Brasil/EBC)


Na visão do cientista político Ernani Carvalho, a polarização não modificou o grau de fisiologismo, mas tornou mais caro governar. “Em uma sociedade polarizada como a nossa, o partido que vence a eleição governa com mais dificuldade, porque precisa ceder mais para atrair apoio”, explica. “Você ganha com uma agenda, mas precisa abandoná-la parcialmente para montar maioria no Congresso”.

Segundo o especialista, isso explica por que ministérios estratégicos acabam nas mãos de partidos que sequer compartilham da linha ideológica do governo. “É o caso do deputado Fufuca, do PP, que está num ministério do governo Lula enquanto o presidente de seu partido faz oposição. É um arranjo confuso, mas funcional dentro da lógica do presidencialismo de coalizão”.

A cientista política Ana Larissa acrescenta que o Legislativo se fortaleceu em relação ao Executivo nas últimas décadas. “Hoje, boa parte das proposições nasce no Congresso, que se tornou autônomo na formulação de políticas, inclusive as mais complexas, como reformas tributárias ou redistribuição de verbas”, diz. "Esse novo equilíbrio permite que políticos sem vinculação ideológica forte — como os do Centrão — consigam aprovar medidas localizadas para suas bases, mesmo sem apoio direto do Planalto".

Fragmentação partidária

A desconexão entre eleitor e representação política também é facilitada por regras que estimulam o personalismo e a troca de partidos. “A janela partidária de 2015, o fim das coligações em 2020 e a cláusula de desempenho eleitoral são marcos que, mesmo com boas intenções, reforçaram o perfil dos deputados personalistas, típicos do Centrão”, aponta Ana.

Ernani Carvalho acredita que esse perfil institucional reforça o lugar do bloco no sistema. “O centro sempre vai existir, com ou sem polarização. O Centrão amalgamou a ideologia em favor da representação de interesses. O que o move não é coerência partidária, mas a defesa localizada de demandas — que variam conforme a região, o momento e a conjuntura.”

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