Centrão: o fiel da balança em Brasília
Bloco se tornou o centro do poder após a intensificação da polarização entre direita e esquerda na política brasileira e, segundo especialistas, atua com oportunismo estratégico
Publicado: 21/07/2025 às 06:00

Prédio do Congresso (Foto: Antônio Cruz/ Agência Brasil)
Os últimos anos do cenário político brasileiro têm sido marcados por choques recorrentes entre Executivo e Legislativo, desacordos em políticas estruturais e a consolidação de um bloco parlamentar que, sem base ideológica estável, tornou-se um dos principais centros de poder de Brasília: o Centrão. Com a intensificação da polarização desde 2013, o embate entre polos partidários acentuou a paralisia institucional e abriu ainda mais espaço para que o Centrão atuasse como mediador — ou freio — de qualquer governo.
Enquanto Planalto e Congresso travam batalhas sobre verbas, composição ministerial, agenda econômica e reformas estruturais, temas como segurança alimentar, emprego, controle fiscal e proteção social seguem em compasso de espera. Para entender os efeitos desse cenário, o Diario ouviu os cientistas políticos Ana Larissa, mestranda pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e Ernani Carvalho, professor e pesquisador da mesma instituição e doutor pela USP.
Ernani Carvalho observa que a trajetória do Centrão é marcada por oportunismo estratégico e por uma estrutura heterogênea que o permite atuar em diferentes conjunturas. "O bloco do Centrão no Nordeste é diferente do do Sul. Eles defendem interesses distintos, e isso encarece o custo de articulação. Mas, em um cenário polarizado, a dicotomia ajuda a unificá-los pontualmente", afirma. Como exemplo, ele cita a reação ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos. “Ainda que grande parte do Centrão flertasse com o bolsonarismo, rapidamente se reaglutinou para se posicionar contra a medida, revelando flexibilidade diante da conjuntura”.
Essa elasticidade é justamente o que garante sobrevida constante ao bloco. "A polarização excessiva não empurra todo o debate aos extremos", analisa o pesquisador. "Ela torna alguns temas mais radicalizados, mas não impede que atores do centro se movimentem. Ao contrário, facilita que esse grupo se apresente como solução pragmática", complementa Carvalho.
Ana Larissa reforça que, diferentemente do que se supõe, o Centrão não desaparece com mudanças de governo. "Na verdade, ele se mantém constante, compondo as coalizões desde Lula e Fernando Henrique até Bolsonaro. A diferença está na estabilidade dessas alianças." Para ela, coalizões ideologicamente mais coesas, como as dos anos 2000, garantiam maior governabilidade. "A crise começa com Dilma, intensifica-se com Temer, e se consolida com Bolsonaro, quando o Legislativo passa a propor mais que o Executivo”, aponta a especialista.
Governabilidade frágil
Mesmo quando a polarização não explode em rupturas institucionais, ela gera um ambiente tenso, de baixa previsibilidade e alto custo político. “A polarização em si não é um problema. Toda sociedade democrática tem algum grau de polarização. A questão é quando ela atinge níveis de incivilidade, como vimos em 2018 e 2022”, explica Ernani Carvalho. Segundo ele, esse tipo de ambiente fragiliza as instituições e fortalece o poder de barganha do Congresso — especialmente de atores dispostos a atuar sem fidelidade ideológica.
Nas palavras de Ana, “o Centrão opera como uma terceira via estrutural. Ele não precisa vencer eleições presidenciais para governar. Basta estar em posição de decidir os rumos das votações no Congresso”.
Para ambos os cientistas políticos, o bloco não apenas resiste à polarização como se alimenta dela. “Nos momentos mais críticos, é o Centrão que decide. Isso ocorreu com Fernando Henrique, Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro e está ocorrendo novamente”, conclui Carvalho.

