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Política
GÊNERO

Políticas relatam casos recorrentes de violência de gênero em PE

De interrupções a ameaças, a violência política de gênero segue como barreira no cotidiano de vereadoras, deputadas e gestoras públicas

Cecilia Belo

Publicado: 27/05/2025 às 23:39

Priscila Krause, vice-governadora/Reprodução: Redes Sociais

Priscila Krause, vice-governadora (Reprodução: Redes Sociais)

A Lei 14.192, de 2021, define que qualquer distinção, exclusão ou restrição no reconhecimento, gozo ou exercício de direitos e liberdades políticas fundamentais contra a mulher “constituem igualmente atos de violência política”. Apesar da proteção da legislação, os relatos de violência em função de gênero na política são diversos, inclusive em Pernambuco.

Segundo a cientista política Priscila Lapa, a violência política de gênero é reflexo de um problema mais profundo da sociedade, de "não aceitação da mulher ocupando espaços de poder", uma questão estrutural ampla. "O espaço de fala da mulher não é respeitado. É como se ela estivesse ocupando um lugar que não lhe pertence", afirma.

Priscila destaca ainda que essa percepção atravessa as fronteiras entre o público e o privado, e que "temos um longo caminho para que a presença das mulheres em posições de poder seja encarada com a mesma naturalidade que a dos homens".

De acordo com a cientista política, a lógica é reproduzida da esfera privada para a pública. Ela alerta também que "no caso das mulheres, isso é ainda mais acentuado. Há um certo conforto, ou ao menos ausência de constrangimento, em desacatá-las, por essa percepção de que elas não têm legitimidade para ocupar esses lugares.

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), afirmou ser “inaceitável que comportamentos desrespeitosos continuem acontecendo contra mulheres na vida pública”, e enfatizou que a ministra Marina Silva merece respeito. Sua vice, Priscila Krause (PSD), também se posicionou. “Esse é um retrato típico da violência de gênero que tantas vezes ocorre diante de nós”, disse.

A deputada estadual Dani Portela (PSOL) e a vereadora Liana Cirne (PT) relataram casos semelhantes em seus exercícios políticos. Para Dani, “é impossível uma mulher se colocar na política sem ter sofrido algum tipo de violência política de gênero”, enquanto Liana relatou que colegas vereadores frequentemente se retiram do local quando uma vereadora começa a falar. Ambas afirmaram já terem sido interrompidas, desrespeitadas e até ameaçadas.

Em 2022, levantamento realizado pelo jornal O Globo apontou que 87,5% das candidatas já sofreram violência política de gênero, enquanto 93,3% acreditam que esse tipo de violência afasta mulheres da política. A mesma pesquisa revelou ainda a subnotificação dos casos: 61,9% das vítimas nunca denunciaram, sendo que 42,3% alegaram não acreditar que o agressor seria punido.

 

Governadora Raquel Lyra

"Minha solidariedade à ministra Marina Silva. É inaceitável que comportamentos desrespeitosos continuem acontecendo contra mulheres na vida pública. Discordâncias fazem parte da democracia. Desrespeito, não. Marina merece respeito."

Priscila Krause

"Inaceitável como a ministra Marina Silva foi tratada enquanto participava de uma audiência pública no Senado. Retrato típico da violência de gênero que tantas vezes ocorre diante de nós. Como mulher e vice-governadora, sei da importância de nos posicionarmos para que isso não se repita, contra ninguém. Minha solidariedade à ministra."

Dani Portela (PSOL)

"Com as mulheres eleitas, independente do campo, isso acontece recorrentemente, que é quando nós somos interrompidas na fala, quando não escutam o que a gente está falando, quando nós somos silenciadas ou desqualificadas na fala. Acho que toda mulher que está na política, de alguma maneira, já passou por uma violência como essa.
Desde coisas escritas como essa 'aí tem cara de empregada doméstica e se mete a ser vereadora, não sabe o que fala', até ameaças à minha própria vida com e-mails de ameaças de morte, dizendo 'Vamos calar sua voz com um tiro'. 
Então, para as mulheres, estar na política é muito violento. Acontece, principalmente com o aumento do ódio da ultradireita e do bolsonarismo, de algumas pessoas xingarem você na rua. Semana passada, algum blog, uma página, se referindo a minha atuação política, me chamou de anta da esquerda. Isso não é senão a desqualificação do seu papel enquanto parlamentar em razão do gênero."

Liana Cirne (PT)

“Isso é muito frequente, os colegas homens se levantarem dos seus lugares e começarem a conversar em tom de voz muito alto, explicitamente demonstrando desinteresse pelo que nós estamos falando. Recentemente, aconteceu na Câmara Municipal do Recife uma violência política de gênero comigo e com outras três vereadoras. Nós saímos para nos solidarizar com a mãe de uma criança que tinha sido vítima de bala perdida, e o vereador disse que a gente estava saindo da tribuna enquanto o homem estava falando e que aquilo era, ele usou o termo incorreto, misoginia da nossa parte". Liana Cirne não quis identificar o vereador. 

 

 

 

 

 

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