Ventos de agosto foi escolhido por jurados para entrar em catálogo global. Foto: Desvia/Divulgação

Rio de Janeiro - Não é nenhuma novidade que a Netflix quer "dominar o mundo". E isso se comprova a cada passo dado pela gigante do streaming. Como produtora de conteúdo, o foco da vez são atrações no âmbito nacional. No segmento televisivo, 3% estreia no dia 25 de novembro como a primeira série original brasileira produzida pela plataforma. Já no cinematográfico, o longa-metragem O matador entrará no catálogo em 2017. É mais uma forma da empresa que revolucionou a televisão mundial desbravar o universo do entretenimento.

O investimento no cenário brasileiro é compreensível: o Brasil é o oitavo país no mercado de vídeo sob demanda do mundo e o quarto no mercado da Netflix, segundo a pesquisa O impacto econômico do setor audiovisual brasileiro. "Nós tentamos fazer séries e filmes diferentes. Estamos empolgados com o primeiro filme brasileiro. Nas próximas semanas, vamos ter um filme da Espanha entrando no catálogo", comenta o chefe de comunicação global da Netflix, Jonathan Friedland, em entrevista ao Viver. O investimento no Brasil também se observa no elenco de séries como Narcos, estrelada por Wagner Moura e produzida por José Padilha.

Desde 2011, o serviço mostra a força do streaming no Brasil. "Daqui a cinco anos, será tudo na internet. Canais de TV vão virar aplicativos, e as pessoas vão ter mais liberdade, exceto para esportes, que o público quer assistir ao vivo. O mundo vai seguir o que a Netflix está fazendo", analisa Friedland. O sucesso da plataforma desperta efeito direto no mercado local. Entre os exemplos, canais como HBO e Globo fomentam as plataformas online, nas quais antecipam episódios de seriados e oferecem conteúdos exclusivos para assinantes.

O plano de expansão mundial da Netflix foi anunciado em dezembro do ano passado - o vídeo promocional foi estrelado por Wagner Moura. O único grande mercado de audiovisual do mundo onde a empresa não atua é a China, devido ao cenário político do país. Não há previsão de atuação na região. Para o diretor Reed Hastings, a China não parece um bom mercado, tomando como exemplo as experiências malsucedidades de Disney e a Apple.

Pernambuco ocupa papel de relevância neste contexto. Dirigido por Marcelo Galvão (Colegas), O matador vai narrar a história de um algoz pernambucano. As filmagens foram feitas em São Paulo e na cidade de Pesqueira, no Agreste do estado. "Essa coisa da Netflix dá oportunidade de mostrar o que e como a gente sabe fazer. A gente tem histórias incríveis para contar", analisa o ator Paulo Gorgulho, intérprete do Tenente Sobral no filme.

O critério geográfico foi decisivo para o estado servir como locação. "(O Sertão) é uma região muito legal para o cinema, porque as imagens ficam deslumbrantes. Os personagens são atemporais. Se passa lá, mas não representa só aquilo. Representa as facetas humanas", adianta Gorgulho. Para o elenco, a experiência de gravar em Pernambuco foi satisfatória. "Foi um processo ávido, caloroso. É como a música de Lenine fala: 'É preciso tratar o Nordeste como o Sul'", enfatiza o ator.

Inspirada em websérie disponível no YouTube, 3% aborda o universo futurista de uma forma bem brasileira. "A gente pensou em uma evolução nossa. Acho que as pessoas tentam repetir um modelo de ficção científica gringo. A gente não se preocupou com isso. Quis fazer do nosso tamanho, do nosso jeito", justifica a atriz Bianca Comparato, protagonista da trama na pele de Michele.

Além de produtora de conteúdo, a Netflix se consolida como distribuidora. Para satisfazer os 83 milhões de assinantes nos 190 países onde o serviço opera, o catálogo da plataforma está cada vez mais atual e plural. A segunda edição do Prêmio Netflix, realizada na semana passada no Rio de Janeiro, simboliza mais uma iniciativa do serviço no sentido de espalhar conteúdo no mundo. Além do brasiliense O último cine drive-in, o premiado Ventos de agosto, de Gabriel Mascaro, venceu na categoria do júri e estará disponível no catálogo mundial do serviço.

Direitos de Aquarius foram adquiridos pelo serviço. Boi neon será distribuído mundialmente pela web. Fotos: Victor Jucá/Divulgação e Desvia/Divulgação

"Criamos esse prêmio para que alguns filmes independentes, que não tenham tido grande visibilidade, pudessem ser vistos por uma audiência maior. É uma forma de não ficarem limitados ao mercado brasileiro", complementa Friedland. A produção estrelada pela atriz Dandara de Morais fará companhia a mais dois filmes pernambucanos: Boi neon, de Mascaro, e Aquarius, de Kleber Mendonça Filho.

Copiando o modelo de canais tradicionais, a Netflix tem direito de distribuição de seriados renomados, como Better call Saul (AMC), Orphan black (BBC) e American crime story (FX). Entre os títulos inéditos, a companhia também anunciou os direitos de exclusividade do seriado Designated survivor, estrelado por Kiefer Sutherland, além da franquia Star trek (CBS).

- A repórter viajou a convite da Netflix

Avanço nacional

O matador
Dirigido por Marcelo Galvão, o filme acompanha Cabeleira (Diogo Morgado), um matador de Pernambuco filho do cangaceiro Sete Orelhas. Ainda no elenco, Thais Cabral, Maytê Piragibe, Igor Cotrim. As gravações acabaram recentemente. Ainda sobre cinema, o documentário Fearless teve cenas gravadas em Barreto, em São Paulo.

Pós-apocalíptico
Com oito episódios e direção de Cesar Charlone, 3% se passa em um Brasil pós-apocalíptico, no qual alguns são aceitos para integrar a elite e outras almejam vagas. O elenco conta com Bianca Comparato, João Miguel, Vaneza Oliveira, Viviane Porto e Mel Fronckowiak. A preparação de elenco foi de Christian Duurvoort (Ensaio sobre a cegueira).

Humorísticos
A Netflix já havia ensaiado uma aproximação com o Brasil ao financiar a série A toca, criada pelo canal Parafernalha, com Felipe Neto. Neste ano, a empresa anunciou dois especiais cômicos: os stand ups Minha vida não faz sentido, também de Felipe Neto, filmado em setembro, e Tamo junto, de Marco Luque, que será rodado em novembro.

Talk Show
Rumores indicam que Netflix e Xuxa Meneghel estão em negociação sobre um late show aos moldes do comandado por Chelsea Handler, disponível no catálogo da produção. Informações são do jornal O Globo. A aproximação da Netflix com a loira começou com o vídeo promocional do seriado Stranger things, divulgado na web.