Luto Naná Vasconcelos: corpo do mestre é sepultado em Santo Amaro Enterro contou com parentes, amigos e nações de maracatu

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 10/03/2016 11:20 Atualizado em: 10/03/2016 14:05

Caixão de Naná foi enterrado sob a bandeira do time de coração. Foto: Peu Ricardo/DP
Caixão de Naná foi enterrado sob a bandeira do time de coração. Foto: Peu Ricardo/DP

Os tambores, ao menos aqui na Terra, silenciaram. O músico Naná Vasconcelos, falecido aos 71 anos, foi sepultado na manhã desta quinta-feira (10), no Cemitério de Santo Amaro, bairro central do Recife. A despedida ao mestre foi similar à sua vida, com muita música, poesia e festa.

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Desde o início da manhã, vários fãs e nações de maracatu se aglomeravam no cemitério para prestar a última homenagem ao percussionista. Estavam presentes os maracatus Sol Nascente, Encanto do Pina, Nação Tigre e Raízes de Pai Adão.

No momento do enterro, a emoção tomou conta do local. Os presentes aplaudiram Naná ao ritmo de maracatu. E assim, a música pernambucana se despediu de um de seus maiores expoentes.

O Maestro Forró, que participou do sepultamento afirmou: "É impossível a despedida de uma pessoa como Naná ser comandada pela tristeza. Quem comanda é a alegria, a musicalidade".

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Naná Vasconcelos faleceu na manhã desta quarta-feira (9), dev ido a complicações de um câncer de pulmão. O músico tratava a doença desde 2015, quando chegou a se submeter a sessões de quimioterapia. Ele estava internado desde a semana passada, quando teria passado mal após show em Salvador (BA).

Naná Vasconcelos foi agraciado com o título de doutor honoris causa em 2015. Foto: Karina Morais/DP
Naná Vasconcelos foi agraciado com o título de doutor honoris causa em 2015. Foto: Karina Morais/DP


Cortejo
O corpo foi velado até as 10h desta quinta-feira, na Assembleia Legislativa. Lá, artistas como Otto, Lira, Cristina Amaral e Belo Xis homenagearam o músico. Houve ainda celebração ecumênica, liderada pelo Pai Raminho de Oxóssi. O corpo então seguiu em cortejo até o cemitério de Santo Amaro, onde foi saudado pelas nações de maracatu.

O poeta Israel Batista recitou poema intitulado Louvor a Naná. Enquanto isso, o grupo de batuque entoou música que diz: "Você partiu para outro lugar. Eu sei que um dia vou te encontrar".

Mais cedo, o músico e amigo Otto declarou, emocionado: "Naná é nosso mestre. Sempre nos iluminou e a partir de agora vai iluminar mais ainda. Era um homem que sempre amou Pernambuco. A perda é grande".

Trajetória

Aos 12 anos Naná já tocava profissionalmente em bares e clubes noturnos (onde lhe exigiam até autorização judicial), ao lado do pai, aprendeu a tocar sozinho, usando os penicos e as panelas de casa, ainda na infância. Não frequentou aulas de música, não ingressou na faculdade. Em entrevista concedida ao Viver, ele afirmou: "Quando você aprende teoria musical por livros, precisa sempre consultar os textos. Quando você aprende com o corpo, é como andar de bicicleta. Seu corpo se lembra."

Consagrado com oito prêmios Grammy, o percussionista costumava quebrar protocolos e substituía, sempre que permitido nas cerimônias, os discursos por apresentações musicais.

Em dezembro de 2015, Naná recebeu título de doutor honoris causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Autodidata, nunca frequentou escola de música, nem se graduou, mas logo se firmou como um dos mais respeitados instrumentistas do país, tendo colaborado com nomes como Egberto Gismonti, Pat Metheny, além de ter produzido o primeiro álbum do Cordel do Fogo Encantado.

* Com informações da repórter Marina Simões

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