Quaresma

Campanha da fraternidade 2019 convida cristãos a engajamento político efetivo

Publicado em: 06/03/2019 20:23 | Atualizado em: 06/03/2019 20:38

Crédito: Paulo Paiva/DP

Engajamento cívico mais profundo, ao ponto de lutar por políticas públicas efetivas para quem precisa. Em um momento de transição política no Brasil, a igreja católica convida os fiéis a ir além da solidariedade da doação e abraçar a luta por uma sociedade mais justa por meio da garantia de direitos. A Campanha da Fraternidade deste ano, lançada na tarde desta quarta-feira (6), traz como tema “Fraternidade e Políticas Públicas”, inspirada pelo versículo bíblico: “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1, 27). No Recife, a abertura da quaresma e da campanha aconteceu na Igreja de Santa Cecília, no bairro da Boa Vista, em missa celebrada com a presença de imigrantes e moradores de rua.

De acordo com o texto-base da campanha da fraternidade deste ano, o objetivo é estimular a participação em políticas públicas, à luz da palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja, fortalecendo a cidadania e o bem comum. Por isso, a Arquidiocese de Olinda e Recife decidiu levar a abertura da campanha para a rua, em frente à igreja responsável por sediar a missa e os encontros da Pastoral do Povo da Rua. “Queremos motivar os cristãos para que sejam mais participativos, sobretudo nos conselhos do governo, nos conselhos comunitários. Colaborar para que as políticas públicas sejam voltadas aos interesses daqueles que não têm direitos reconhecidos. E motivar as pessoas a entender a política como algo necessário”, afirmou o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido.

Durante a missa, o arcebispo convidou os presentes a sair da “insensatez de viver para acumular” para “tomar uma atitude corajosa de mudança”. “O fundamental é o que está por trás da quaresma. Nossa conversão tem que ser autêntica e dinâmica. Que os sinais litúrgicos do despojamento nos recordem o valor da simplicidade”, afirmou Saburido, que também correlacionou o tema da campanha da fraternidade ao atual momento brasileiro. “É um tema oportuno e profético, diante da realidade social e política do país. A ausência de políticas públicas favorece o surgimento de clima de insegurança social.”
Crédito: Paulo Paiva/DP

Ao longo do ano, a arquidiocese promoverá encontros, cursos e audiências públicas na Câmara dos Vereadores do Recife e na Assembleia Legislativa de Pernambuco sobre o tema da Campanha da Fraternidade. Em abril, deverá ser lançado um curso para lideranças comunitárias e outras pessoas que tenham interesse em saber como se engajar na elaboração de políticas públicas. As vagas e informação serão disponibilizadas no site da arquiodiocese. Uma das bandeiras no Recife será o fortalecimento de ações em prol da população de rua. Atualmente, um grupo de 25 pessoas da pastoral do Povo da Rua realiza ações semanais com a população de rua da cidade, atendendo cerca de 100 moradores.

“Oferecemos um espaço de escuta que vai além da doação de alimentos. Queremos que essas pessoas sejam protagonistas, pois elas sabem o que é melhor para elas. Cada um tem uma motivação diferente para estar ali. A partir do momento em que trazemos o tema para a igreja, conscientizamos que tão necessário quanto dar o pão é se perguntar o porquê que essas pessoas não têm pão. Essa reflexão é o primeiro passo”, disse um dos coordenadores da pastoral Marcos Carvalho. Ao longo da missa, placas sinalizando as políticas públicas necessárias para a população de rua - como restaurante popular, abrigamento, moradia e aumento do aluguel social – foram colocadas diante do altar.

Morando na rua há nove meses, depois que se envolveu com álcool e viu o casamento acabar, José Antônio de Souza, 50 anos, foi um dos convidados para participar da missa. “Para a gente, falta respeito, oportunidade, abrigo noturno, restaurante popular. É difícil arrumar alimento. E também receber atendimento quando temos problema de saúde. Já tive todos os meus documentos roubados e sofri para tirar outros”, contou. No Recife há três meses, o venezuelano Darwin José, 45, também participou das leituras da celebração. “Antes de vir para cá, morei nove meses nas ruas de Boa Vista (Roraima). Foi um momento muito difícil. Agora, quero arrumar um emprego e trazer minha filha, de 13 anos”, contou ele, que está em busca de emprego na área de construção civil e foi acolhido pela Cáritas Brasileira.
Crédito: Paulo Paiva/DP

Igreja precisa de verba para reformas

Reaberta em novembro do ano passado, depois de cinco anos fechada, a Igreja de Santa Cecília busca recursos para realizar obras de melhoria na infraestrutura. Por meio de rifas e doações, a comunidade frequentadora pretende reunir fundos para pagar a reforma do teto, fazer a pintura da fachada, revitalizar o gradil e investir na construção de um espaço de convivência para os atendidos pela pastoral do Povo da Rua. Interessados em ajudar podem ir até a igreja às quartas-feiras, às 12h, horário oficial de missas no local.

Localizada próximo à praça Maciel Pinheiro, no bairro da Boa Vista, a igreja foi construída em 1683 e reformada em 1788. Originalmente, a capela tinha o título de Nossa Senhora da Conceição, mas duzentos anos depois foi entregue à Venerável Irmandade de Santa Cecília. O fechamento durante cinco anos ocorreu em função das más condições de infraestrutura. Antes de ser reaberta, a igreja passou por recuperação da parte elétrica e pintura da parte interna.

“Aos poucos, estamos fazendo os reparos necessários. Recuperamos o telhado, que estava com infiltração, mas ainda não conseguimos pagar o fornecedor”, afirmou o padre Marcos Carvalho. A Igreja de Santa Cecília também precisa de mesas e cadeiras, para a parte onde serão realizadas as reuniões com a comunidade, e bancos para o interior. “Também não temos ainda os objetos litúrgicos. Os padres que celebram aqui precisam trazer seus materiais”, acrescentou o padre. Segundo ele, hoje já são realizadas algumas atividades como futebol com os moradores de rua. A ideia é que, com o fortalecimento das atividade, a pastoral inicie ações como oficinas de artesanato e um coral com os moradores de rua. 
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