Saúde

Uso de radiação para impedir reprodução do Aedes aegypti é aposta do Recife no combate ao mosquito

A estratégia faz parte do Plano de Enfrentamento às Arboviroses 2019 da capital pernambucana

Publicado em: 18/12/2018 17:00 | Atualizado em: 18/12/2018 17:08

O laboratório funciona no Controle de Zoonoses (CVA) do Recife. Foto: Leo Malafaia/Esp.DP.
O Recife será a primeira grande cidade do mundo a usar a física nuclear na luta contra o mosquito Aedes aegypti, transmissor de 24 arboviroses, entre elas dengue, febre chikungunya e o zika vírus. Raios gama, tipo de radiação eletromagnética capaz de alterar organismos, serão usados para tornar os mosquitos machos incapazes de se reproduzir e, com isso, controlar a população do inseto na capital pernambucana. A aplicação da radiação será feita no Centro de Mosquitos Estéreis do Recife (Cemer), inaugurado na manhã desta terça-feira (18). A unidade faz parte do Plano de Enfrentamento às Arboviroses 2019, uma das estratégias utilizadas pela Prefeitura do Recife para o controle do vetor.

O estudo para o uso de radiação em mosquitos teve início em 2013, quando o número de casos de dengue no país aumentou quase 200%. Em 2016, após a epidemia da síndrome congênita do zika, um teste com machos estéreis de Aedes aegypti foi feito no arquipélago de Fernando de Noronha. A partir de março do próximo ano, populações dos mosquitos que receberam a radiação serão liberadas em dois bairros do Recife: Macaxeira e Mangabeira, na Zona Norte da cidade. “Até o surto de chikungunya, microcefalia e zika, o brasileiro convivia com a dengue como se fosse uma gripe. Tivemos que aprender a lidar com os novos desafios e, hoje, somos referência mundial no combate ao mosquito”, afirmou o prefeito do Recife, Geraldo Julio.

Por ter sido epicentro mundial dos casos de zika vírus em 2015, o Recife foi escolhido pela Agência Internacional de Energia Atômica, entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), para ser o primeiro centro urbano do mundo a receber o laboratório de esterilização dos mosquitos. Enquanto o Brasil ficou com o projeto voltado para a área urbana, o México recebeu iniciativa semelhante, mas voltada para a zona rural. “A situação atual é de diminuição no número de casos e óbitos, mas não podemos baixar a guarda. Temos que continuar no combate, e novas tecnologias são fundamentais nesse sentido”, pontuou o secretário municipal de Saúde, Jailson Correia. Outra ação prometida pela Secretaria de Saúde do Recife para o próximo ano é aumentar o número de bairros – passando de 45 para 94 – com ovitrampas, equipamento que ajuda a monitorar mosquitos e eliminar ovos.

No laboratório recém-inaugurado, localizado no Controle de Zoonoses (CVA) do Recife e que conta com apoio científico da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Ministério da Saúde, as pupas – fase de desenvolvimento do mosquito – são irradiadas em larga escala por um equipamento de radiação, modificando o esperma dos insetos, deixando-os estéreis. A expectativa é produzir, por semana, 250 mil machos modificados. As fêmeas, únicas que transmitem doenças, usam o esperma no processo de liberação dos ovos. No entanto, no caso dos machos estéreis, não são geradas novas larvas do inseto. O acasalamento ocorre apenas uma vez ao longo da vida da fêmea do Aedes aegypti. Assim, o cruzamento com os machos modificados bloqueia a reprodução.

Com a liberação dos machos estéreis, é esperada a diminuição da densidade populacional do Aedes na cidade. Em laboratório, foi observada uma queda de 70% na viabilidade dos ovos com a inserção dos mosquitos que passaram pelo processo de radiação. Em campo, na experiência em Fernando de Noronha, a Fiocruz Pernambuco registrou uma redução de cerca de 30% de ovos viáveis. “Essa é uma solução capaz de ser reproduzida em qualquer lugar do mundo, e o Recife será a primeira grande cidade do mundo a exportar esse modelo”, ressaltou o presidente da Biofábrica Moscamed, Jair Virgínio, empresa que tem convênio de cooperação técnica com a Prefeitura do Recife para o projeto de combate ao mosquito.

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