Saúde

Novo protocolo estadual ajudará na investigação de óbitos por arboviroses

Neste ano, até 25 de agosto, Pernambuco notificou 16.242 casos de dengue, dos quais 3.852 foram confirmados

Publicado em: 05/09/2018 13:45 | Atualizado em: 05/09/2018 14:31

Imagem: Arquivo

Nesta quarta-feira (5), o secretário estadual de Saúde, Iran Costa, participa do 54ª Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MedTrop). O gestor estará, nesta tarde, na mesa redonda intitulada “Resposta às Emergências em Saúde Pública: lições da tríplice epidemia de arboviroses e da Síndrome Congênita do Vírus Zika”. Na ocasião, será lançado pelo Estado o Protocolo operacional para investigação de óbitos suspeitos por arboviroses. O MedTrop ocorre até hoje no Centro de Convenções de Pernambuco (Cecon-PE), em Olinda, reunindo a comunidade científica do país em torno de diversos assuntos de interesse na área de saúde.
 
O objetivo do protocolo é apresentar e descrever os parâmetros utilizados para investigação, discussão e encerramento dos casos suspeitos por arboviroses que evoluíram ao óbito, atendendo as especificidades do Estado, que tem os vírus da dengue, chikungunya e zika em circulação. Também se busca orientar os serviços locais e regionais para execução correta e completa da investigação (domiciliar, hospitalar e laboratorial) necessária para avaliação nos comitês estadual e/ou municipais de discussão dos casos suspeitos por arboviroses que evoluíram ao óbito.
 
No protocolo, são apresentados os elementos operacionais, informações e instrumentos essenciais para subsidiar avaliação de cada caso que evoluiu para óbito nos comitês. Nesses comitês, equipes de vigilância, atenção à saúde, profissionais de laboratório e patologistas, sob a coordenação de infectologistas, revisam todos os dados dos pacientes que evoluíram para o óbito, qualificando a discussão para sua classificação final, confirmando ou descartando as hipóteses diagnósticas das arboviroses. 
 
"No comitê, casos são revisados desde a verificação dos dados clínicos iniciais até todos os demais parâmetros epidemiológicos (individuais, ambientais, clínicos e laboratoriais) que dão suporte para a investigação, discussão e encerramento do caso. Esse protocolo dará mais segurança e agilidade para o encerramento desses casos”, afirma a gerente do Programa de Vigilância das Arboviroses da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Claudenice Pontes.
 
Segundo Claudenice, a complexidade na investigação leva em conta a circulação dos quatro vírus da dengue, o da chikungunya e o da zika em território pernambucano. “Coinfecções ou infecções subsequentes, ou seja, a interação entre a ação dos vírus ou a reação do paciente a essas infecções, também têm forte influência na severidade e desfecho dessas morbidades. Também é preciso levar em consideração o histórico do paciente, que pode ter doenças pré-existentes que torna mais complexa a determinação dos fatores que influenciam na severidade e o desfecho de cada caso”, afirma a gerente.
 
Outra questão a ser considerada no tema da ocorrência e investigação dos óbitos é a persistência prolongada da positividade de alguns diagnósticos sorológicos e possibilidades de reações cruzadas com outros arbovírus. Esses são fatores que dificultam as discussões para conclusão do desfecho dos casos. “O protocolo reforça a definição de caso para cada arbovirose, o fluxo para coleta de material dos pacientes e os aspectos clínicos e laboratoriais que podem levar à confirmação ou ao descarte do caso”, pontua Claudenice.  
 
Neste ano, até 25 de agosto, Pernambuco notificou 16.242 casos de dengue (3.852 confirmados), 2.210 de chikungunya (346 confirmados) e 651 de zika (32 confirmados). Também foram notificados 54 óbitos por arboviroses, com 9 descartes e 1 confirmação por dengue.
 
PALESTRA – O secretário Iran Costa participará da mesa “Resposta às Emergências em Saúde Pública”, que contará com a participação do secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia; e da secretária Executiva de Vigilância em Saúde da SES, Luciana Albuquerque. Iran Costa explanará sobre a Resposta do sistema de saúde estadual à Síndrome Congênita do Vírus Zika. Pernambuco foi o primeiro Estado a notar a mudança no padrão da microcefalia, a fazer a notificação dos casos, estruturar uma rede de atendimento e acolhimento para as mães e as crianças e a produzir protocolos específicos. “Em um curto período, conseguimos ampliar a rede especializada, interiorizando a assistência. Também trabalhamos em parceria com diversos pesquisadores para que as respostas para essa emergência em saúde pública pudesse ser evidenciadas”, frisa Iran Costa.
 
No final de 2015, o Estado contava com apenas duas instituições que atendiam as crianças com microcefalia – o Imip e a AACD. Hoje, 32 unidades ligadas à rede estadual de saúde, espalhadas por todo o Estado, já prestam algum tipo de atendimento relacionado à síndrome congênita do zika/microcefalia. Com isso, cada uma das 12 Regionais de Saúde (Geres) do Estado contam com no mínimo, 1 serviço estadual de referência para reabilitação, totalizando mais de 1,7 mil consultas mensais ofertadas.
 
Pernambuco ainda tomou uma iniciativa pioneira no Brasil de fomento à pesquisa científica sobre o zika vírus. Neste sentido, foram investidos R$ 3 milhões, de recursos das secretarias estaduais de Ciência e Tecnologia e da Saúde, via Facepe, para fomento a 21 pesquisas que buscam identificar e conhecer melhor o vírus. Além disso, o Estado distribui, desde o mês de agosto de 2017, o medicamento Levetiracetam (Keppra), que tem o objetivo de evitar crises convulsivas nas crianças com SCZ/microcefalia. O Estado foi o primeiro do Brasil a disponibilizar o Levetiracetam pelo Sistema Único de Saúde (SUS), antes mesmo do Ministério da Saúde, por meio da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), decidir incluir a medicação no rol do SUS.

Dentro da evolução das crianças, os profissionais envolvidos no tratamento notaram a rigidez muscular nos pacientes com a necessidade de tratamento com toxina botulínica, que faz com que o músculo relaxe e tem que ser feito de 6 em 6 meses. Diante disso, o Governo do Estado já está disponibilizando, dentro da rede de assistência esse tipo de tratamento específico, com 83 crianças já beneficiadas. A SES também disponibiliza cirurgias ortopédicas específicas para essas crianças (30 procedimentos realizados).
 
SCZ – De 2015 até 28 de julho de 2018, Pernambuco notificou 2.555 casos suspeitos de síndrome congênita do zika/microcefalia. Desse total, 456 foram confirmados e 1.795 descartados.
 
NÚCLEO DE APOIO ÀS FAMÍLIAS – Com o intuito de coordenar e monitorar o trabalho relacionado às famílias e crianças com microcefalia, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) instituiu, em maio de 2016, o Núcleo de Apoio às Famílias com Microcefalia. Formado por uma equipe de 13  assistentes regionais distribuídos nas 12 Regionais da Saúde, 1 assistente e 1 coordenador no Nível Central, é responsável por monitorar e acompanhar, de modo regionalizado, as crianças notificadas durante toda a linha do cuidado, além de prestar apoio às famílias e desenvolver estratégias para garantir seus direitos.
 
O monitoramento dos pacientes envolve todos os casos notificados como suspeitos de microcefalia, mesmo aqueles que já foram descartados. Nestes casos, o acompanhamento deve perdurar por, pelo menos, cinco anos. No caso das crianças que ainda não tiveram diagnóstico fechado, o Núcleo trabalha para agilizar a investigação, seja orientando os familiares sobre o fluxo necessário, ou realizando mutirões de atendimento para essas crianças. 

Dados do período entre os dias 31 de dezembro de 2017 a 25 de agosto de 2018

DENGUE
Notificados: 16.242
Confirmados: 3.852
Descartados: 6.024
Municípios notificadores: 174
Dados de 2017: No mesmo período, foram 13.582 casos suspeitos (aumento de
19,6% em 2018 quando comparado aos dados de 2017).

CHIKUNGUNYA
Notificados: 2.210
Confirmados: 346
Descartados: 1.245
Municípios notificadores: 136
Dados de 2017: No mesmo período, foram notificados 4.094 casos (redução de
46,0% em 2018 quando comparado aos dados de 2017).

ZIKA
Notificados: 651
Confirmados: 32
Descartados: 434
Municípios notificadores: 84
Dados de 2017: No mesmo período, foram notificados 626 casos (aumento de
4,0% em 2018 quando comparado aos dados de 2017).

ÓBITOS PELAS ARBOVIROSES
Notificados: 54
Confirmado: 1 (dengue /fevereiro de 2018)
Descartados: 9
Dados de 2017: No mesmo período, foram notificados 103 óbitos suspeitos.

* É importante ressaltar que o diagnóstico laboratorial positivo dos óbitos, para qualquer uma das arboviroses, não necessariamente confirma esta arbovirose como causa do óbito. Esta avaliação, para descarte ou confirmação, depende de minuciosa investigação domiciliar e hospitalar do óbito e da discussão de cada caso no Comitê Estadual de Discussão de Óbitos por Dengue e outras Arboviroses. 
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