Segurança

Três meses após ataque de tubarão, vítima vende balas no metrô para sobreviver

Potiguar que perdeu perna e braço em incidente na Praia de Piedade tenta receber benefício social

Publicado em: 02/08/2018 09:34 | Atualizado em: 02/08/2018 09:54

 O potiguar de 34 anos sofreu o ataque em 15 de abril, em frente à Igrejinha de Piedade, em Jaboatão. Foto: Thalyta Tavares/Esp. Diario de Pernambuco
Cento e nove dias após ser mordido por um tubarão e perder a perna e parte do braço direitos, o autônomo Pablo Diego Inácio de Melo, 34 anos, tenta obter um benefício social do INSS, enquanto trabalha como vendedor ambulante em estações do Metrô do Recife. O potiguar sofreu o ataque em 15 de abril, em frente à Igrejinha de Piedade, em Jaboatão. Foi a vítima número 64 na estatística de incidentes registrados desde 1992 em Pernambuco.

Agora vivendo em Pernambuco, por onde estava de passagem quando foi mordido, Diego deu entrada no pedido de aposentadoria por invalidez na Previdência Social, no Rio Grande do Norte, e sobrevive, além da ajuda de parceiros, com o dinheiro que recebe vendendo balas e chicletes.

Pai de seis filhas, ele precisa fazer os cerca de R$ 1 mil que ganha por mês renderem. Não paga aluguel, pois está residindo no Instituto Semear, onde são montados os kits de doces vendidos ao longo do dia, mas arca com outras despesas.

“Eu preciso de medicamentos para inflamação, materiais de higiene, faixas e gazes. Também tento ajudar minha família do Rio Grande do Norte. Isso tudo sai do meu salário” conta o ambulante. Parte do dinheiro também vai para a locomoção entre o instituto, situado no bairro de Prazeres, em Jaboatão, às consultas em Boa Viagem ou no Imip, no bairro dos Coelhos, no Recife.

“Dei entrada na aposentadoria no Rio Grande do Norte, mas farei meus tratamentos aqui, porque o sistema de saúde de lá é pior. No Recife eu também sou mais conhecido pela história e, por isso, consegui parceiros” diz Pablo, que recebeu cadeira de rodas, prótese da perna e suporte de mão graças a doações. “Em Boa Viagem, faço fisioterapia. Um médico soube do meu caso e se ofereceu para me ajudar. Não pago nada. Ele também vai tentar arranjar uma prótese para a mão amputada. Se fosse esperar o SUS, não iria a lugar algum” lamenta.

Diego já trabalhava com a venda de bala antes mesmo do acidente com o tubarão-tigre. Ex-dependente de drogas, ele procurou o Semear após ter concluído sua reabilitação em março de 2017. O ambulante já estava acostumado com o trabalho duro, mas agora precisa enfrentar a nova rotina, com mais obstáculos. “Não consigo pegar e entregar os kits sozinho. Por isso vou sempre com um amigo” conta. “É difícil vender no Metrô. Além da competição com outros ambulantes, de quem grita mais alto, a estrutura ainda é complicada.” Na estação Porta Larga, onde o Diario conversou com Pablo, o elevador de acesso à plataforma estava quebrado.

Pablo trabalhou com carteira assinada em 2016 e ainda vinha contribuindo com o INSS por conta própria, mas quando sua renda ficou a cargo dos 75 kits que precisa vender ao dia e o dinheiro apertou, precisou parar de pagar. Há um ano e três meses ele deixou de contribuir. “O INSS é como o seguro de um carro. Você precisa pagar para receber. O que aconteceu com ele é o mesmo que acontece com várias pessoas. Ficou inativo por mais de 12 meses e perdeu os direitos de assegurado, até mesmo a aposentadoria por invalidez” explicou a assessoria da Previdência Social. “O que ele pode fazer agora é retornar os pagamentos e tornar-se ativo para ser segurado futuramente quando precisar. Mesmo assim, o INSS não cobriria um acidente que já aconteceu.”

O advogado especializado em direito do trabalho, Marcelo de Albuquerque Lessa, vê outra saída para a situação. “Ele não conseguirá a aposentadoria, de fato. Porém, pode apresentar ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social documentos que comprovem suas condições física e financeira, e os dependentes em seu nome. Assim, poderá tentar um benefício social como a Prestação Continuada, que assegura o valor de um salário mínimo por mês” explica.

Mesmo com todas as adversidades, Pablo se considera otimista. “Não adianta ficar triste. Preciso trabalhar e me manter. Por isso saio para o Metrô com um sorriso na cara” comenta. Mesmo depois do acidente, arriscaria um mergulho “No Rio Grande do Norte, claro. Aqui não passo da areia”, brinca.

Medidas
Pablo foi atacado em 15 de abril deste ano. Em 3 de junho, José Ernesto Ferreira da Silva, 18, morreu após ser mordido no mesmo trecho de praia. Após esses incidentes,  o Conselho de Estadual de Mitigação de Incidentes com Tubarão definiu novas ações de prevenção nas áreas mais perigosas. Além da expansão dos guarda-vidas até as 18h (uma hora a mais), em frente ao edifício Acaiaca, ao Castelinho e ao 2º Jardim de Boa Viagem, além da Igrejinha de Piedade, também houve aumento do efetivo de Bombeiros. Também estão sendo elaboradas medidas para tornar a orla mais atrativa e desencorajar o banho de mar, como a implantação de chuveirões.

Números

Incidentes com tubarões em Pernambuco

    65 ataques
    25 mortes
    40 feridos

Mortes

    21 banhistas
    4 surfistas

Perímetro de proibição de prática de esportes aquáticos

    32 km entre Bairro Novo (Olinda) e Itapuama (Cabo de Santo Agostinho)
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