Infância

Recife fará intervenções voltadas para as crianças

Ações serão realizadas em parceria com fundação holandesa

Publicado em: 02/03/2018 07:34 | Atualizado em: 02/03/2018 07:36

O Recife receberá intervenções urbanísticas pensadas a partir das necessidades de crianças de zero a seis anos. Em parceria com a fundação holandesa Bernard Van Leer e a Agência Recife para Inovação e Estratégia (Aries), serão investidos R$ 3,5 milhões na requalificação dos espaços urbanos direcionadas à primeira infância na Iputinga e no Alto Santa Terezinha. O projeto, que contemplará melhorias de calçadas, iluminação e construção de parques e praças, começará a ser executado no fim do abril e deverá ser concluído em 15 meses.

As intervenções fazem parte do programa mundial Urban95, que leva em consideração as necessidades da primeira infância, período fundamental para a percepção do mundo e a cognição. A ideia é criar “espaços de antecipação do futuro”, uma  necessidade apontada dentro do processo de escuta popular do projeto Recife 500 anos. 

Foram traçados dois raios geográficos de ação. Um deles, de 200m2, engloba o entorno de três unidades educacionais próximas ao Casarão do Barbalho, na Iputinga, por onde circulam 1,1 mil crianças. O outro integra as proximidades do Compaz Eduardo Campos, no Alto Santa Terezinha, frequentado por 90 mil pessoas. Os locais foram escolhidos como projetos pilotos por serem áreas de extrema vulnerabilidade social e baixos Índice de Desenvolvimento Humano e renda. 

“Quando viemos ao Recife pela primeira vez, encontramos índices de violência muito altos e alguns projetos para mudar essa realidade. Há evidências científicas de que a violência afeta o desenvolvimento do cérebro, então enxergamos uma oportunidade de intervir”, disse o representante para a América Latina da Fundação, Leonardo Yánez. 
“Estamos falando de duas questões importantes à primeira infância: o espaço urbano e a conexão entre equipamentos como o Compaz e as escolas. Já está comprovado que um estímulo nessa fase da vida traz benefícios à vida inteira. É um tempo que não pode ser perdido”, acrescentou o prefeito Geraldo Julio. 

As mudanças incluirão também redutores de velocidade de automóveis, acessibilidade nas calçadas e melhoria das paradas de ônibus. Os projetos executivos serão definidos depois de workshops que acontecerão a partir de abril com os moradores. “Temos premissas e referências de boas práticas, mas no diálogo com as pessoas é que veremos ao que daremos ênfase em cada local”, detalhou o gerente de projetos da Agência Recife para Inovação e Estratégia, Diego Garcez. As obras devem se iniciar em seis meses.

No bairro da Iputinga, a população lamenta a ausência de espaços de lazer e a violência. “Quando quero levar os meninos para brincar, vou para Camaragibe, Jardim São Paulo ou a praia. Aqui não acho seguro, é violento, e não tem nada para eles”, contou a diarista Berenice Silva, 45. Já no Alto Santa Terezinha, a babá Patrícia Ferreira, 28, reclama da infraestrutura. “O Compaz trouxe muitos cursos. Antes, as meninas ficavam mais em casa. Mas falta melhorar o calçamento das ruas. É tudo esburacado. Aí não deixo elas saírem muito.”

As intervenções visam reduzir a percepção de medo, facilitar o deslocamento de grávidas às unidades de saúde para o pré-natal, melhorar o acesso a escolas e creches e reduzir os índices de acidentes de trânsito.

Além das obras, será criado um grupo de pesquisadores para avaliar o impacto das intervenções urbanísticas na qualidade de vida da população dos dois bairros contemplados. Eles farão o monitoramento dos indicadores e irão gerar dados para promover políticas públicas voltadas à primeira infância. Para articular todas as ações direcionadas a esse público, o Recife também está desenvolvendo um marco legal municipal da primeira infância. O documento está em fase final de concepção e em meados de abril deverá ir à votação na Câmara dos Vereadores, onde se transformará em lei.

O marco legal está em concepção desde setembro do ano passado, em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e a Fundação Bernard Van Leer. “Hoje já fazemos ações, mas elas estão espalhadas nas diversas secretarias. Iremos criar comitês e congregar várias áreas da prefeitura, para que possamos ajudar uma a outra e evitar redundâncias, se houver. Queremos ter uma visão estratégica de cidade que está trabalhando para a primeira infância”, detalhou o secretário de Planejamento, Administração e Gestão de Pessoas, Jorge Vieira.
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