Mobilidade
Malha ferroviária urbana segue esquecida em ruas onde a prioridade foi dada aos carros
Dos 141 km de de trilhos de bondes elétricos que cortavam o Recife e chegavam à Praça do Carmo, em Olinda, só podem ser encontrados remanescentes nos bairros do Recife, Santo Antônio e São José
Publicado em: 20/02/2018 08:30
Uma parte da história do Recife, que representa também a primeira grande mudança nos transportes de massa na cidade, está se apagando. Dos 141 km de de trilhos de bondes elétricos que cortavam a capital e chegavam à Praça do Carmo, em Olinda, só podem ser encontrados remanescentes nos bairros do Recife, Santo Antônio e São José.
Não há estudo para mensurar o quanto resta dessa rede, que influenciou o traçado urbano da capital conhecido atualmente. “Quando a Pernambuco Street Railway Company deixou de existir, parte dos trilhos ficou com a Celpe e outra com a Companhia de Transportes Urbanos (CTU), que hoje é o Grande Recife Consórcio de Transportes. Uma pequena parcela foi usada na implantação do metrô, sobretudo da linha Jaboatão. Mas hoje ninguém pleitea sua propriedade.
Até o prédio que servia de estacionamento aos bondes elétricos, na Rua do Apolo, está esquecido”, lamenta o historiador Tales Pedrosa, estudioso do tema. Segundo o Iphan, a malha que ainda resta pertence à Prefeitura do Recife. Desde a priorização do transporte rodoviário e a pavimentação de quase todas as ruas por onde passavam os trilhos dos bondes, ainda na década de 1950, o Recife vem esquecendo uma história que não se restringe à mobilidade. Os bondes não serviam apenas para locomoção. “Eram espaços de sociabilidade que transportavam ricos e pobres, e de discussões, seja sobre política, literatura, futebol. Tudo o que acontecia na cidade passava por dentro dos bondes”, acrescenta Pedrosa.
O desenvolvimento da malha na cidade teve início a na década de 1870, com a implantação dos trilhos para o transporte de bondes puxados por animais. “Os bondes elétricos chegaram ao Recife em um momento de grande desenvolvimento econômico. A população, então, começou a ocupar as áreas às margens dos trilhos e arredores das estações. Os caminhos de ferro foram determinantes na ocupação do Recife. Foi assim na Caxangá, Apipucos, Encruzilhada e Dois Irmãos”, lembra o historiador André Cardoso. Em 1945, o Recife tinha a terceira maior malha de trilhos de trens urbanos do país, só atrás de São Paulo e Rio.
Recentemente, com o desgaste do asfalto na Avenida Rui Barbosa, próximo à Praça do Entroncamento, na Zona Norte, foram expostos pedaços de trilhos. O mesmo aconteceu durante intervenção na Rua da Concórdia, no bairro de São José, e nas as obras do boulevard na Avenida Rio Branco, no Bairro do Recife. As ruas do Bom Jesus e Barbosa Lima Sobrinho, também no Bairro do Recife, guardam remascentes. Na Vigário Tenório e na Dona Maria César, o cimento cobre parte dos trilhos. Na Praça Dom Vital, em frente ao Mercado de São José, e no que restou da ferrovia em um pequeno trecho da Rua do Hospício (Boa Vista), a situação se repete. “Os trilhos nunca foram retirados. A maior parte está debaixo do asfalto. Só se veem trilhos onde há paralelepípedos”, completa Cardoso.
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