Direitos Humanos Caminhada do Povo de Terreiro luta contra intolerância religiosa e preconceito no Recife Baianas, turbantes, guias, flores e muito axé mobilizaram o tradicional cortejo de matrizes africanas

Por: Isabela Veríssimo

Publicado em: 01/11/2017 16:56 Atualizado em: 01/11/2017 18:38

Concentração começou às 14h, no Marco Zero. Foto: Peu Ricardo/DP (Concentração começou às 14h, no Marco Zero. Foto: Peu Ricardo/DP)
Concentração começou às 14h, no Marco Zero. Foto: Peu Ricardo/DP


Em 2016 foram registradas 300 denúncias de intolerância religiosa no país - um número 105% maior se comparado às denúncias de 2015. O número dá força à 11ª edição da Caminhada dos Terreiros de Pernambuco, realizada ontem, no Marco Zero. Contra a discriminação religiosa, o racismo e todas as formas de preconceito, 14 lideranças de fé se uniram e realizaram o tradicional cortejo em um percurso que seguiu pela Avenida Marquês de Olinda, Ponte Buarque de Macedo, Praça da República, Dantas Barreto, Avenida Guararapes até o Pátio de São Pedro.

A mobilização, realizada pela Associação Caminhada dos Terreiros de Pernambuco, com apoio da Prefeitura do Recife, faz parte da abertura oficial do mês da consciência negra. No centro do Marco Zero, baianas, roupas brancas, turbantes, guias, flores e muito axé harmonizaram uma celebração de cânticos e danças para todos os orixás. O chamado Xirê deu o pontapé inicial para caminhada. Na ocasião, Mãe Elza prestou homenagem a Marcos Aurélio, do Ministério Público de Pernambuco, que exaltou a importância do movimento. “Sinto-me feliz e engajado para contribuir com uma sociedade que merece ser justa e igual. O ser humano precisa ter a liberdade de pensar e se relacionar com suas divindades”, defendeu.

Assegurar a visibilidade e respeito a religiões, como candomblé, jurema e umbanda, foi o que motivou Pai Jhon, de Yemanjá, ir à caminhada pelo quarto ano consecutivo. “Venho para lutar pelos nossos direitos e pela paz. O índice de preconceito contra este povo precisa cair. A nossa religião abraça todo mundo e precisamos nos sentir abraçados pelo Recife”, aponta. O jovem Felipe, também de Yemanjá, concorda e conta que muitas vezes o preconceito vem de dentro da família. “Sou do candomblé desde que nasci por instrução da minha mãe, mas a família do meu pai não aceita e são muitos duros. A luta é grande. Outras religiões sequer nos reconhecem, dizem que o nosso deus não existe. A grande verdade é que o nosso deus é o mesmo que o deles”, relata.

A caminhada começou às 16h30 e ganhou todo o bairro do Recife. Agentes da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) preparou uma operação especial para coordenar o trânsito da localidade. Um trio elétrico guiou todo o desfile. Carol Araújo, de Oxum, explica que religião não é escolha. “Gosto, amo e me identifico com o candomblé. Não teria como fazer parte de outra fé. Para mim, religião significa responsabilidade”, explica.




MAIS NOTÍCIAS DO CANAL