Bem-estar Mindfulness auxilia no alívio de dores crônicas, estresse, ansiedade e depressão Participantes praticam uma meditação adaptada, que pode ser aplicada no dia a dia, seja na hora da caminhada ou do banho, por exemplo

Por: Marcionila Teixeira

Publicado em: 07/10/2017 08:00 Atualizado em: 07/10/2017 14:12

O conceito do programa é prestar atenção de forma intencional ao momento presente. A caminhada consciente é uma das práticas. Foto: Ricardo Fernandes/DP
O conceito do programa é prestar atenção de forma intencional ao momento presente. A caminhada consciente é uma das práticas. Foto: Ricardo Fernandes/DP

Há cinco anos, Felipe Lapa, 36 anos, mudou radicalmente de vida. Mergulhado em estresse, problemas econômicos e pressão por todos os lados, apelou para uma última tentativa de aliviar o sofrimento. Mesmo cético, aceitou, a pedido da família, passar 21 dias em uma comunidade espiritual em Piracanga, na Bahia. Em uma das experiências, passou sete dias ingerindo apenas água. Sua intenção era mostrar aos parentes que todas aquelas vivências não funcionavam, não passavam de um truque. O efeito foi contrário. Na volta para casa, Felipe fechou as portas de sua empresa de tecnologia da informação, encerrou um relacionamento, parou de usar bebida alcoólica e comer carne. Depois, embarcou para uma vivência de quatro anos na mesma comunidade, onde aprendeu a meditar, interpretar sonhos e tornou-se mestre em reiki. No ano passado, Felipe Lapa mergulhou no aprendizado de uma prática ainda pouco conhecida em Pernambuco, o mindfulness, também interpretado como atenção plena. Hoje, é facilitador do programa que busca, entre outros benefícios, aliviar os sintomas de dor crônica, estresse, ansiedade e depressão a partir de uma meditação adaptada e do incentivo a áreas do cérebro responsáveis pela concentração.

O programa, explica Felipe Lapa, aplica a meditação no dia a dia do participante. É possível fazê-la seja no banho ou caminhando, por exemplo. “Uma pesquisa científica da Universidade de Harvard aponta que nós passamos 50% do nosso tempo dispersos. Estamos sempre preocupados com o passado ou com o futuro. Nunca vivemos o momento presente porque estamos distraídos. É como se a energia não estivesse com a gente. Quando focamos no momento presente, estamos por completo na situação. Corpo e mente estão alinhados para viver a experiência. E isso traz mais produtividade, reduz o estresse, ajuda a diminuir a ansiedade, faz a gente se sentir melhor de ver a vida como ela realmente é”, pontua.

Felipe Lapa ressalta que a prática não prega qualquer religião, mas tem base nos ensinamentos do budismo. Segundo o instrutor de mindfulness, em uma semana é possível perceber nos participantes o fim da queixa das dores crônicas, por exemplo. Também há registros de pessoas que param de roer unha, ter compulsão por comida, com melhoria na memória, na leitura e no processamento de informações. “A cabeça não está tão agitada com pensamentos sobre passado e futuro e por isso surge espaço para processar melhor as informações”, completa. Como o programa também pode ser aplicado no mundo corporativo, Felipe percebe que empresários passam a ouvir melhor a equipe. “Nas empresas, o benefício da meditação traz mais criatividade e produtividade para os funcionários”, garante.

Em um outro caso prático, por exemplo, imagine a cena de alguém batendo com força em suas costas em um metrô lotado. Uma reação previsível seria reagir com violência. O programa ajuda a não responder ao cotidiano com raiva, estresse, ciúme ou vingança. O
programa é aplicado ao longo de oito semanas, em encontros que acontecem apenas uma vez por semana, durante duas horas. As pessoas, no entanto, recebem atividades diárias, chamadas de práticas formais e informais, que são as meditações, para seguirem aprendendo sem interrupção.

Pessoas de qualquer idade podem participar do programa, que também pode ser aplicado no mundo corporativo. Foto: Ricardo Fernandes/DP
Pessoas de qualquer idade podem participar do programa, que também pode ser aplicado no mundo corporativo. Foto: Ricardo Fernandes/DP


Um exemplo de prática formal é permanecer em silêncio, observar o corpo e a respiração por alguns minutos. Uma informal é praticar a caminhada de forma consciente, percebendo cada passo dado. Além disso, são propostas mudanças de hábito, como largar o talher enquanto come, elogiar cinco pessoas por dia, não interromper o outro enquanto ele fala e não reclamar. Trata-se de um aprendizado conjunto de práticas meditativas, corporais e de concentração que evoluem ao longo das semanas.

Apesar de ser considerado novidade no Brasil, o programa foi criado em 1979 por Jon Kabat-Zinn. Segundo ele, o conceito de mindfulness é prestar atenção de forma intencional no momento presente, sem julgamento. “É estar no aqui e agora, vivendo o milagre da vida, seja ele qual for”, interpreta Felipe Lapa.
 
Programa não substitui terapia
No dia 1° de novembro, começa a quarta turma conduzida por Felipe Lapa e Cristine Papini. Os encontros acontecerão no Espaço Gerar Arteterapia e bem estar, na Rua Jorge de Albuquerque, 103, em Casa Forte. Antes disso, no próximo dia 18, Felipe vai oferecer uma vivência de duas horas do programa, focado no estresse, para que as pessoas tirem dúvidas sobre o tema. Já no dia 25, haverá outra vivência, desta vez, no Cesar, no Recife Antigo, com abordagem no foco e na produtividade. Mais informações podem ser obtidas pelo email contato@maisconsciente.com.br.
 
Pessoas de qualquer idade podem participar do programa de mindfulness, mas no caso de serem menores de 18 anos, Felipe Lapa orienta a participação de um responsável. No entanto, cada caso é analisado separadamente e exceções podem acontecer. O programa também é direcionado, por exemplo, para jovens que visam uma vaga na universidade.

Felipe Lapa, no entanto, ressalta que não é psicólogo e que o mindfulness não substitui a terapia. O profissional, inclusive, precisa ser informado da participação do paciente no programa. Isso porque, explica o instrutor, o mindfulness pode aguçar sintomas de alguém em profunda depressão, por exemplo. “Ao ter consciência mais plena, o participante, às vezes, piora, antes de apresentar uma melhora. A pessoa que tem uma pertubação ou questão mal resolvida ganha disciplina, foco, passa a ter controle emocional para chegar aonde quer. Se não tiver uma base de auto-conhecimento ou amparo piscológico, pode cometer algo não saudável para ela ou para outra pessoa”, avisa. Em 2012, Felipe Lapa criou o projeto Mais Consciente. Desde 2013, promove retiros de nove dias.

Empresário sente-se menos ansioso no trânsito 
'Sentia que precisava disso para me dedicar mais ao trabalho, aos colaboradores da empresa e fazer novos projetos que estou pensando', afirma o empresário Luís Gustavo Dias. Foto: Ricardo Fernandes/DP
'Sentia que precisava disso para me dedicar mais ao trabalho, aos colaboradores da empresa e fazer novos projetos que estou pensando', afirma o empresário Luís Gustavo Dias. Foto: Ricardo Fernandes/DP
O empresário e coach Luís Gustavo Dias, 29, conta ter alterado o modo de encarar as inúmeras tarefas no dia a dia após participar do programa. “Entrei no programa porque vi que hoje em dia a gente é muito acelerado. Queremos fazer muita coisa e no final das contas não fazemos nada. Então, meu principal objetivo é fazer uma coisa inteiramente. Sentia que precisava disso para me dedicar mais ao trabalho, aos colaboradores da empresa e fazer novos projetos que estou pensando”.

Luís, por exemplo, mudou a forma de encarar o trânsito engarrafado da Região Metropolitana do Recife. “Se estou no trânsito e sei que vou chegar atrasado para um compromisso, tenho consciência de que não vai adiantar ficar com raiva. Então, foco na música ou em outra coisa”, ensina.

Na semana passada, a educadora Sandra Félix, 44, da mesma turma de mindfulness de Luís, deparou-se com um aluno com um corte na cabeça. Com calma, encaminhou a criança para fazer um curativo e ainda tranquilizou os coleguinhas. “Me percebo mais presente no que faço, no que penso. Tirei o foco do passado e do futuro e me coloco mais presente em tudo que faço. Desde o banho até a hora de escovar os dentes ou lavar a louça. Isso tem me ajudado a manter o equilíbrio, a diminuir a ansiedade.”

Apesar dos benefícios, o mindfulness já foi alvo de críticas em outras partes do mundo. Um exemplo é o caso dos marines, fuzileiros navais norte-americanos que passaram a praticar a meditação para reduzir o estresse antes de embarcar para a guerra. Dessa forma, teriam melhor atuação nas batalhas. O objetivo, no entanto, vai de encontro aos ideais budistas, a base do mindfulness. “O caso do marines, inicialmente, foi no pós-guerra, quando eles voltavam estressados. O objetivo era proporcionar cura emocional. O programa foi tão eficiente que eles depois usaram para a guerra. É igual a uma faca. Você pode usar para passar a manteiga no pão ou matar alguém”, compara Felipe Lapa.
 
Saiba mais
As nove atitudes do mindfulness
Não julgar
Ser paciente
Ter uma mente de principiante
Confiança
Não lutar
Aceitar
Largar, abrir mão
Estar grato
Ser generoso

Benefícios
Melhora nos sintomas de dor crônica
Melhora da atividade imunológica
Redução de depressão e ansiedade
Redução de sintomas de Burnout
Autocuidado e bem-estar
Comunicação efetiva
Melhora a memória

Fonte: Mais Consciente


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