Depoimento Acusado de matar Mirella nega crime e diz que provas foram forjadas pela polícia Audiência de instrução e julgamento aconteceu nesta quarta-feira, no Fórum Thomaz de Aquino

Por: Thamires Oliveira

Publicado em: 20/09/2017 14:10 Atualizado em: 20/09/2017 15:37

Acusado de matar Mirella nega e crime e diz que provas foram forjadas pela polícia. Foto: Marlon Diego/Esp.DP
Acusado de matar Mirella nega e crime e diz que provas foram forjadas pela polícia. Foto: Marlon Diego/Esp.DP

O comerciante Edvan Luiz da Silva, 32 anos, acusado de assassinar a fisioterapeuta Mirella Sena, 28, em um flat em Boa Viagem, em abril deste ano, negou as acusações em seu depoimento durante a segunda audiência de instrução e julgamento realizada no Fórum Thomaz de Aquino, na manhã desta quarta-feira. O réu afirmou que as provas encontradas pela perícia teriam sido criadas para incriminá-lo. Edvan está sendo acusado dos crimes de estupro e homicídio quadruplamente qualificado, por crueldade, impossibilidade de defesa da vítima, ocultação e feminicídio.

Segundo o promotor do Ministério Público Antônio Arroxeles, Edvan questionou todas as provas técnicas apresentadas pela perícia. "A autodefesa dele foi desastrosa. Ele afirma que a polícia e a perícia fizeram um complô para prejudicá-lo. Que o material genético da pele dele encontrado embaixo das unhas da vítima, os fios de cabelo, a camisa e todas as provas foram criadas pela polícia para prejudicá-lo, mas não sabe explicar o motivo", afirmou. "É uma resposta incabível. Para a acusação, foi uma audiência extremamente positiva", avaliou o promotor.
Familiares protestam na segunda audiência do caso Mirella. Foto: Shilton Araújo/ DP
Familiares protestam na segunda audiência do caso Mirella. Foto: Shilton Araújo/ DP

Essa é a segunda audiência do caso e foi destinada exclusivamente para o interrogatório do réu. Para a família da vítima, o depoimento de Edvan foi contraditório e confuso. "Ele desqualificou o trabalho da polícia. Disse que a polícia criou provas contra ele. Mas porque eles criariam? Não soube responder algumas coisas e entrou em contradição nas suas respostas. Quando foi perguntado sobre uma marca de mordida, ele disse que naquele dia brigou com um flanelinha e caiu no chão. Não faz sentido", declarou Wilson Araújo, pai de Mirella.

Na primeira audiência, em 21 de junho, foram ouvidas 13 testemunhas convocadas pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), além de uma análise de provas periciais, solicitada pela defesa do réu. Com a audiência desta quarta-feira, encerra-se a fase de instrução do processo penal. Agora, o MPPE tem cinco dias para alegações finais e, na sequência, a defesa tem cinco dias também. Quando os autos voltarem ao Juízo, o juiz Pedro Odilon, da 3ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, decide se o réu vai a júri popular, ou não. Cabe recurso dessa decisão do juiz.

Com faixas e camisas estampando o rosto da fisioterapeuta, pais, parentes e amigos se uniram em frente ao fórum para pedir a condenação do réu, que chegou ao local por volta das 8h30, sendo recebido aos gritos de "assassino". "Queremos que ele vá à júri popular e eu tenho certeza que isso vai acontecer. Há muitas provas e elas foram muito claras quanto a autoria do crime. Queremos justiça. Esse homem tirou a vida de uma jovem que tinha um futuro brilhante. Ele é um verme", declarou a tia da vítima, Silvia Cordeiro, 62.

Apesar dos momentos de dor e comoção vividos pela família, o pai de Mirella, Wilson Araújo, afirma não ter raiva do assassino da filha. "É um momento muito difícil para nós. Volta a passar um filme na nossa cabeça. Só sabe o que é quem está passando por essa situação. Todos os dias, sem exceção, a gente lembra e a gente chora. Mas, infelizmente, é a vida. Confesso que a gente não tem raiva, a gente perdoa", afirmou. Mirella completaria 29 anos no próximo domingo, dia 24 de setembro.

No início deste mês, o governador Paulo Câmara assinou um decreto que substituiu a aplicação da motivação de crime passional para feminicídio nos boletins de ocorrência de mortes de mulheres pela condição da vítima ser mulher. Para o pai de Mirella, Wilson Araújo, apesar de ser impossível tê-la de volta, fazer justiça prendendo o assassino de sua filha é uma maneira de previnir que outras mulheres sejam vítimas de feminicídios. "Pedimos todos os dias a Deus que a justiça seja feita, para que mais casos como esse não aconteçam. Nós temos sempre participado de alguns movimentos que lutam contra a violência contra a mulher. Tenho certeza que ela colaborou bastante para esse decreto que o governo assinou recentemente contra o feminicídio, porque foi um crime de grande repercussão", declarou o pai da vítima.

Crime -
A fisioterapeuta Mirella Sena foi encontrada morta na manhã do dia 5 de abril, na sala do flat onde morava, no 12º andar do edifício Golden Shopping Home Service, na Rua Ribeiro de Brito, em Boa Viagem. Vizinhos disseram que, por volta das 7h, ouviram vários gritos e acionaram o funcionário do prédio, que chamou a polícia. O corpo da vítima foi encontrado na sala do imóvel sem roupas e com ferimento à faca no pescoço, além de cortes nas mãos.

O apartamento 1206 estava revirado, e os peritos encontraram manchas de sangue na porta do 1208, onde Edvan Luiz morava com a esposa. Os policiais bateram, mas como o morador não respondia, a porta foi aberta com ajuda de um chaveiro. Durante as investigações a perícia identificou DNA de Mirella no sangue encontrado na porta do apartamento de Edvan e DNA do acusado em restos de pele debaixo das unhas da vítima.



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