Superlotação e infecção hospitalar Cremepe abre sindicância e envia fiscalização ao setor de neonatologia do HC

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 19/07/2017 08:49 Atualizado em: 19/07/2017 11:14

Mães e seus bebês em macas, no corredor do bloco obstétrico do HC. Foto: Cortesia
Mães e seus bebês em macas, no corredor do bloco obstétrico do HC. Foto: Cortesia

O Conselho Regional de Medicina (Cremepe) envia nesta quarta-feira uma equipe de fiscalização ao setor de neonatologia do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A medida faz parte do processo de sindicância instaurado pelo órgão para apurar as denúncias de superlotação e de casos de infecção hospitalar em cinco recém-nascidos.

Nesta terça-feira, em entrevista ao Diario de Pernambuco, uma médica do setor trouxe à tona o caos e o risco no atendimento a mães e bebês. "Estamos vivendo aquela situação caótica de superlotação e infecção hospitalar consequente. A lotação está muito acima da capacidade. Temos sete recém-nascidos em precaução de contato (isolamento) porque estão colonizados com bactérias hospitalares. Não temos pessoal suficiente pra prestar a assistência adequada, o espaço entre os leitos não está sendo respeitado, o estresse entre as equipes e das mães e familiares piorando tudo...", detalhou uma médica, que prefere não se identificar.
Médica denuncia superlotação e infecção hospitalar na neonatologia do HC. Foto: Cortesia
Médica denuncia superlotação e infecção hospitalar na neonatologia do HC. Foto: Cortesia

Segundo ela, nesta segunda-feira a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal do HC tem nove pacientes, quando a capacidade é para oito bebês. Já a Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) tem 25 pacientes, quando só poderia atender 10. O centro obstétrico, que não deveria abrigar recém-nascidos, conta com 11 bebês aguardando vaga para alojamento conjunto que, por sua vez, tem 18 internados, quando deveria receber até 15 pacientes. Por meio de fotos, a profissional mostra ainda a situação das mães com seus bebês em macas, no corredor do bloco obstétrico do HC.

 

De acordo com a médica, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do HC está investigando os cinco casos de bebês que contraíram infecções graves por bactérias, entre eles um caso de óbito possivelmente relacionado à infecção hospitalar. "Diante do risco, desde a semana passada, a CCIH, que é bastante atuante, encaminhou documentação para todos os setores envolvidos, para a Apevisa e Secretaria Estadual de Saúde, solicitando o fechamento do internamento de alto risco da maternidade até a normalização de vagas".

Ainda segundo a médica, o caos se repete em outras unidades da rede de saúde pública: "Não sabemos mais o que fazer. A rede de assistência materno-infantil do estado (SUS) está em colapso. Todos superlotados. O Cisam interditado para alto-risco. O Agamenon com uma das salas interditada, porque a mesa cirúrgica caiu durante uma cesárea no último final de semana.A avó, que estava assitinfo o partom chegou a passar mal, mas não houve maiores danos ao bebê, que era de risco", acrescenta.

A profissional de saúde aponta ainda para a questão da regulação de leitos e cobra medidas às redes municipais de saúde: "É uma situação inaceitável. A Central Reguladora de Leitos manda para o hospital independente de haver vaga ou não. Faz um sistema de rodízio, mas um rodízio do caos. As maternidades das redes municipais não estão dando conta, algumas estão fechadas e   começam a supelotar as maternidades de referência de alto risco. A gente fica com superlotação de pacientes de risco habitual e as prefeituras não tomam providências".

Em entrevista ao Diario, Lindaci Sampaio, coordenadora da unidade neonatal, confirmou a superlotação no hospital e afirmou, ainda, que o fato acontece diariamente. "Todos os dias, mandamos um memorando para a diretoria do hospital informando a lotação. O diretor encaminha para a secretaria estadual, pedindo o fechamento da unidade". "Toda essa superlotação afeta a qualidade da assistência e a segurança do paciente fica totalmente prejudicada", enfatizou Lindaci.

Em reposta à denúncia, a assessoria de comunicação do Hospital das Clínicas enviou a seguinte nota:

"A superlotação da Unidade Neonatal do Hospital das Clínicas da UFPE é causada pela sobrecarga de pacientes que procuram assistência de saúde e são encaminhadas pela Central de Regulação Leitos da Secretaria Estadual de Saúde, apesar de o HC, insistentemente, solicitar ao respectivo órgão estadual, a suspensão temporária da internação de pacientes até a regularização da situação. Só neste mês de julho, foi feita a solicitação nos dias 18, 17, 14, 13 e 3. 

O HC esclarece ainda que não houve infecção hospitalar na Unidade Neonatal. De acordo com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, os cinco bebês cujos casos estão sendo investigados, entre os quais um que foi a óbito, tiveram uma enterocolite (inflamação no intestino)."

 

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) também respondeu às denúncias. Confira a nota na íntegra:

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) reconhece a grande demanda nas emergências obstétricas nas unidades de alta complexidade do Estado. Importante esclarecer, no entanto, que nenhuma das unidades da rede ligada à SES, recusa pacientes, mantendo suas portas abertas e garantindo a assistência a todas as mulheres que dão entrada, com prioridade para as com maior gravidade.

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) esclarece que a Central de Regulação monitora a rede de saúde em sua totalidade, sempre observando a capacidade de cada serviço de saúde. Nesse sentindo, a SES informa que não regula diretamente as vagas da UTI neonatal do Hospital das Clínicas, mas sim o acesso das grávidas ao seu centro obstétrico para a realização do parto. Ao contrário do que tem sido veiculado, em vários momentos houve, sim, a restrição do encaminhamento de gestantes cujas crianças sabidamente necessitariam do suporte de UTI Neonatal após o parto.

Vale destacar ainda que a maior incidência de necessidade do suporte de Terapia Intensiva para os recém-nascidos são em casos de pré-maturidade e infecções pré-natais. Assim, a Secretaria Estadual de Saúde tem atuado na implantação e fortalecimento do pré-natal de alto risco na rede própria, principalmente no Interior, com os hospitais regionais e as Unidades Pernambucanas de Atenção Especializada (UPAEs). O objetivo é reduzir exatamente a ocorrência destas infecções, bem como dos problemas durante a gestação, impactando em uma menor demanda pela terapia intensiva neonatal.



 



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