EXEMPLO Menina Rivânia consegue primeira via de identidade em mutirão de cidadania Ela comoveu o país ao salvar os livros em uma jangada durante a cheia que atingiu a Mata Sul no final de maio

Publicado em: 12/06/2017 21:23 Atualizado em: 12/06/2017 22:57

Rivânia tirou a primeira via do documento no último sábado. Foto: Instituto Cidadania para Todos/Divulgação (Rivânia tirou a primeira via do documento no último sábado. Foto: Instituto Cidadania para Todos/Divulgação)
Rivânia tirou a primeira via do documento no último sábado. Foto: Instituto Cidadania para Todos/Divulgação

A pequena Rivânia Rogéria dos Ramos Silva, de oito anos, que comoveu o país ao salvar seus livros escolares durante a cheia que devastou a Mata Sul de Pernambuco, agora é cidadã conhecida e reconhecida pelos órgãos oficiais. Na última sexta, ela, o avô, a avô e mais de duas mil pessoas foram beneficiadas por um mutirão de atendimentos do Instituto Assosiude Cidadania para Todos, em São José da Coroa Grande, em parceria com a Secretaria de Defesa Social. A ação, direcionada às vítimas das chuvas, ainda teve uma sessão especial de cinema no Clube Municipal. Rivânia tirou a primeira via da carteira de identidade.

Além da emissão da identidade, o mutirão também proporcionou a retirada da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), CPF, cartão do SUS, agendamento de alistamento militar, serviços de bem estar, xerox e foto 3X4 para emissão de documentos. O programa Balcão de Direitos ofereceu a emissão de certidão de nascimento, casamento e óbito. Ainda houve oficinas de esportes e atividades de cultura, arte e lazer. E o Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE) também ofereceu serviços.


Pequena salvou os livros escolares durante a cheia. Foto: Valter Rodrigues/Blog Tenório Cavalcante/Divulgação (Pequena salvou os livros escolares durante a cheia. Foto: Valter Rodrigues/Blog Tenório Cavalcante/Divulgação)
Pequena salvou os livros escolares durante a cheia. Foto: Valter Rodrigues/Blog Tenório Cavalcante/Divulgação
A HISTÓRIA DE RIVÂNIA

A enchente invadiu a casa já humilde, com chão de cimento batido e paredes de tijolos sem rebocos, erguida no distrito de Várzea do Una - lugar onde o rio se encontra com o mar no município de São José da Coroa Grande, Zona da Mata Sul de Pernambuco. Era domingo, dia de descanso e brincadeiras quando a chuva intensa chegou. A água, que continuava a subir, virou ameaça. Dona Maria Ivânia recomendou à neta que salvasse o mais importante. Hora de partir. Rápido. Vá. Rivânia tem 8 anos. Com um vestidinho vermelho de alcinhas e pés descalços, ela pegou uma mochila e enfrentou o medo. Subiu numa jangada, como as que servem para encantar turista nesse lugar paradisíaco em dias de sol intenso, e ajoelhou-se.

“Naquela hora a menina fechou os olhos e rezou pedindo proteção a Deus”. O relato foi feito por ela ao padre Jerônimo de Menezes, que a visitou na segunda-feira pós tragédia. Rivânia, conhecida nas redondezas pelo apelido “Ri”, queria salvar a sua própria vida, a vida da avó dona Maria, do avô Eraldo, alguns livros e um pouco do seu material escolar. O maior tesouro da menina, aquele que estava protegido sob os seus braços magros, era a mochila de contornos rosa pink e listras coloridas que leva consigo todos os dias para a aula na escola municipal onde estuda. Agarrada com a bolsa, apoiou seu pequeno rosto e respirou fundo em busca de esperança.

Se há uma única imagem que pode simbolizar o drama vivido até então pelos desabrigados e atingidos pelas enchentes dos últimos dias, é a de Rivânia ajoelhada na jangada. Foi fotografada por Valter Rodrigues e publicada pelo blog de Tenório Cavalcanti, voltado para a Mata Sul.


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