Em Pernambuco Violência sexual infantil: subnotificação chega a 90%

Por: Thamires Oliveira

Publicado em: 05/05/2017 08:57 Atualizado em:

Em 2016, foram registrados 1415 casos de violência e exploração sexual de crianças e adolescentes em Pernambuco, segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS). Os dados ficam ainda mais assustadores quando multiplicados por 10, pois estima-se que 90% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes sejam subnotificados, o que elevaria esse número para 14.150 vítimas.Em alusão ao 18 de maio - Dia Nacional do Combate ao Abuso e
Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a Rede de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes em Pernambuco lançou
ontem a campanha Crianças e Adolescentes Livres de Todo Tipo de Violência Sexual, com a finalidade de prevenção e enfrentamento dos crimes.

O foco da campanha este ano está voltado para a autoproteção, destacando a importância de ensinar às crianças os limites do toque alheio, o conhecimento do próprio corpo, fazê-la entender o que é uma violência e conhecer seus direitos. Para Ana Paula Pimentel, psicóloga do Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social, a autoproteção garante capacidade de entendimento sobre a situação. “Muitas crianças não entendem o que está acontecendo. O abusador utiliza um mecanismo de coerção e faz a criança achar que isso é normal, que está tudo bem ou até se culpar. Dizemos sempre para as crianças não falarem com estranhos, mas e quando o abuso acontece dentro de casa? É o pai, o tio, o avô, o padrasto?” questiona. “Precisamos instruir as crianças para que elas consigam entender o que está acontecendo, se defender e conhecer seus direitos. Além disso, é importante capacitar as equipes de centros de acolhimento, saúde, educação e assistência social que lidam com as vítimas de abuso no sentido de não culpabilizá-las”, afirma.

A sobnotificação de casos em Pernambuco é crescente. Em 2016 foram notificados 1415 casos, sendo 381 de janeiro a março. No mesmo período de 2017 foram contabilizados apenas 45 casos, o que registra uma queda brusca no número de denúncias. Segundo o Chefe da Unidade de Prevenção e Repreção aos Crimes Cronta Crianças e Adolescentes da DPCA, Ademir de Oliveira, a subnotificação é recorrente nos números do estado. A violência intrafamiliar vem sendo o maior agravante para o aumento dessa subnotificação. “A maioria dos casos ocorrem dentro de casa.Muitas crianças não revelam por medo. Outras contam à mãe, que muitas vezes não acredita ou tem medo de expor a família e o companheiro. Ainda há a dependência financeira, que também impede de que os agressores sejam denunciados”, afirmou.

Para a professora Valéria Nepomuceno, do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a falta de políticas públicas é o principal erro no combate À violência sexual de crianças e adolescentes. “É preciso entender porque os casos não diminuem, porque não há resolução dos casos do Disque 100. As políticas públicas para atendimento dessas vítimas são poucas e fragilizadas. As vezes as crianças passam quatro ou cinco meses na fila de espera para um atendimento psicológico”, afirma. “Esse é um dos motivos da subnotificação. A população não denuncia poque está descrente da resolução”, destaca.

A campanha contará com uma caminhada no dia 18 de maio, se concentrando às 14h no Parque 13 de maio e uma tarde de Atividades Multiculturais no dia 15 de maio, às 13h, também no Parque 13 de Maio. Serão oferecidas oficinas de hip-hop, confecção de desenhos, música, grafitagem e capoeira. Além disso, um seminário sobre o tema será oferecido no dia 23 de maio no Auditório Denis Bernardes, no prédio do CCSA, na UFPE, das 8h30 às 13h30.

Saiba mais


As 10 cidades com mais notificações de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes em 2016:

Recife 240
Jaboatão dos Guararapes 129
Olinda 81
Pulista 57
Petrolina 55
Cabo de Santo Agostinho  43
Caruaru 37
Abreu e Lima 31
Camaragibe 30
Garanhuns 28

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